Desde que a denúncia da PGR
(Procuradoria-Geral da República) por corrupção passiva contra
Michel Temer chegou à Câmara dos Deputados, o presidente
intensificou o corpo a corpo com parlamentares e fez do Palácio do
Planalto uma extensão do Congresso.
Levantamento feito pelo Estado
mostra que, desde 29 de junho até este domingo (16), 82 deputados e
16 senadores foram recebidos pelo peemedebista.
Os números representam 15%
dos 513 deputados e 20% dos 81 senadores. A preferência por agendas
com parlamentares fica ainda mais evidente se comparado aos encontros
oficiais de um período anterior similar em número de dias.
Entre o dia 1º e 18 de junho,
por exemplo, o presidente teve reunião com 31 deputados e dez
senadores. Mesmo com o surgimento da crise, após a delação dos
empresários da JBS vir à tona, Temer recebeu menos deputados do que
nas últimas semanas.
No dia mais intenso, 4 de
julho, o peemedebista chegou às 8 horas ao Planalto e deixou o
gabinete presidencial somente depois das 22h30, após receber 30
deputados. Às vésperas da votação na Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ), na quinta-feira passada, Temer recebeu um total de
49 deputados, 27 na terça-feira e 22 na quarta-feira.
Dos 40 parlamentares que
votaram a favor de Temer na CCJ, o presidente esteve com mais da
metade deles: 26. Somente o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), autor
do relatório contra a aceitação da denúncia, esteve quatro vezes
no Planalto nesse período. Anteontem, o tucano almoçou com o
presidente no Palácio do Jaburu.
A chamada tropa de choque do
governo também marcou presença constante no Planalto. O líder do
PMDB, deputado Baleia Rossi (PMDB-SP), esteve 11 vezes no palácio;
os três deputados líderes do governo - Aguinaldo Ribeiro (PP-PB),
André Moura (PSC-SE) e Lelo Coimbra (PMDB-ES) - também lideram a
lista dos mais assíduos. Completam essa relação Carlos Marun
(PMDB-MS), Beto Mansur (PRB-SP) e Darcísio Perondi (PMDB-RS), que
ontem esteve com o presidente no Jaburu.
O levantamento foi feito
apenas com base nos encontros registrados nas agendas oficiais, mas o
número pode ser maior. Esse grupo de deputados mais próximos a
Temer costuma ir e vir do Planalto diversas vezes durante o dia, sem
que os encontros sejam registrados. Também não foram
contabilizados, por exemplo, a quantidade de deputados que foram
recebidos em duas reuniões, uma com a bancada de Mato Grosso (8
deputados) e outra com a do Maranhão (18 deputados), pois a agenda
de Temer não discriminava quem esteve presente.
'Boa relação'
O líder do PMDB na Câmara
minimizou a quantidade de deputados recebidos por Temer nas últimas
semanas. "Ele sempre teve uma agenda muito aberta para os
parlamentares. Mas isso é importante, os deputados sempre pedem
reuniões, é importante que o presidente atenda", afirmou
Baleia Rossi.
Vice-líder do governo, Beto
Mansur também disse que Temer sempre teve uma boa relação com o
Congresso e vai continuar recebendo os deputados nas próximas
semanas. Segundo ele, não é à toa que presidentes como Fernando
Collor de Mello e Dilma Rousseff, que mantinham uma relação
distante dos parlamentares, sofreram impeachment. "Presidente
com boa relação com o Parlamento não cai", disse.
Segundo o líder do PP na
Câmara, deputado Arthur Lira (AL), Temer mantém a capacidade de
diálogo como uma característica. Ele afirmou que os deputados foram
chamados para que o presidente pudesse explicar a sua versão dos
fatos sobre a denúncia que pesa contra ele por corrupção passiva.
O PP foi o primeiro partido a fechar questão contra o prosseguimento
da investigação.
Questionamento
A oposição, no entanto, tem
feito críticas à mobilização de Temer para tentar derrubar a
denúncia. Além da agenda intensa, destacam que o governo está
usando dinheiro público, com a liberação de emendas e de recursos
para obras, para convencer os deputados a votar com ele.
O deputado Alessandro Molon
(Rede-RJ) disse que vai entrar hoje com um pedido para que a
Procuradoria-Geral da República investigue o caso. "Queremos
impedir que Temer continue usando dinheiro público para obstruir a
Justiça e permanecer impune com a ajuda do Congresso", afirmou.
Fonte:Estadão Conteúdo