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domingo, 13 de agosto de 2017

POLÍTICA

94% dos eleitores não se veem 

representados


Pesquisa inédita do Ipsos mostra rejeição generalizada à classe política

Congresso Nacional - Brasília - política - poder  (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)
A pouco mais de um ano das eleições para a Presidência, os governos estaduais e o Congresso Nacional, os brasileiros manifestam rejeição generalizada à classe política, independentemente de partidos, e ao atual modelo de governo. Segundo pesquisa do instituto Ipsos, apenas 6% dos eleitores se sentem representados pelos políticos em quem já votaram. Desde novembro do ano passado houve queda de nove pontos porcentuais na taxa dos que se consideram representados.
A onda de negativismo contamina a percepção sobre a própria democracia: só metade da população considera que esse é o melhor regime para o Brasil, e um terço afirma que não é. Quando os eleitores são questionados especificamente sobre o modelo brasileiro de democracia, a taxa de apoio é ainda mais baixa: 38% consideram que é o melhor regime, e 47% discordam. Passado pouco mais de um ano das manifestações de massa que culminaram no fim do governo petista de Dilma Rousseff, nada menos do que 81% dos entrevistados pelo Ipsos manifestaram concordância com a afirmação de que "o problema do País não é o partido A ou B, mas o sistema político".

Para 94%, os políticos que estão no poder não representam a sociedade. Apenas 4% acham o contrário. Quem está na oposição também é alvo de desconfiança. Quando a pergunta é sobre os políticos em quem os entrevistados já votaram em algum momento, 86% dizem não se sentir representados.

Distância
"Segundo a opinião pública, os eleitos não representam os eleitores", observa Rupak Patitunda, um dos responsáveis pela pesquisa Ipsos. "A democracia no Brasil, desta forma, não é representativa."Somente um em cada dez cidadãos veem o Brasil como um país onde a democracia é respeitada. Para 86%, isso não acontece. "A própria democracia, o que se espera de seu conceito, não é respeitada", avalia o pesquisador. "Existe uma expectativa sobre o regime que não é atendida pelos seus clientes."A percepção de desrespeito às normas democráticas pode estar relacionada à ideia de desigualdade.

Para 96% dos entrevistados, todos devem ser iguais perante a lei, mas somente 15% consideram que essa regra é devidamente observada no Brasil.É quase consensual a noção de que a corrupção é um entrave para que o País alcance um nível mais avançado de desenvolvimento. Nove em cada dez eleitores concordam com as avaliações de que "o Brasil tem riquezas suficientes para ser um país de primeiro mundo", de que "o Brasil poderia ser um país de primeiro mundo se não fosse a ação da corrupção" e de que "o Brasil ainda pode ser um país de primeiro mundo quando acabar com a corrupção".

Os dados do Ipsos mostram que, após um ciclo de acirramento da polarização política no País, há uma ânsia por iniciativas de conciliação. Nada menos do que 88% dos entrevistados concordam com a afirmação de que "as pessoas deveriam se unir em torno das causas comuns, e não brigar por partido A ou partido B". Parcela similar considera que "brigar por partido A ou B faz com que as pessoas não discutam os reais problemas do Brasil".Os dados do Ipsos são parte de um levantamento chamado Pulso Brasil, realizado mensalmente desde 2005 para monitorar a opinião pública sobre política, economia, consumo e questões sociais. Foram ouvidos 1,2 mil entrevistados, em 72 municípios, entre os dias 1.º e 14 de julho. A margem de erro é de três pontos porcentuais para mais ou para menos.


ESTADÃO CONTEÚDO

SAÚDE

Brasileiros consomem cinco litros de agrotóxicos por ano


Enquanto Europa vive crise de contaminação de ovo, problema no Brasil está relacionado à agricultura



Brasileiros consomem cinco litros de agrotóxicos por ano
© iStock


O Brasil não tem nenhum registro de ovo contaminado por finopril, como 16 países da Europa, além de Hong Kong. O brasileiro convive, no entanto, com a contaminação alimentar de uma maneira alarmante. Conforme estudos do Instituto Nacional do Câncer (Inca), cada brasileiro consome cinco litros de veneno por ano. A ingestão se dá por meio de alimentos carregados de agrotóxicos usados na agricultura.

A água também sofre o efeito do uso indiscriminado de pesticidas, herbicidas e inseticidas. Só em 2010, nas contas do Inca, o mercado brasileiro comprou US$ 7,3 bilhões em agrotóxicos. E, por meio das plantações com excesso destas substâncias, além do alimento, o ciclo de intoxicação acaba atingindo mamíferos, peixes, aves e insetos.
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) estima que os alimentos que mais recebem agrotóxicos no Brasil são: soja (40%), milho (15%), cana-de-açúcar e algodão (10% cada), cítricos (7%), café, trigo e arroz (3 cada%), feijão (2%), batata (1%), tomate (1%) maçã (0,5%) e banana (0,2%). De acordo com a pesquisadora e professora de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Bombardi, o agrotóxico mais vendido no Brasil é o glifosato.
“Se a gente pensar na quantidade de toneladas de glifosato que é vendido no Brasil, é grave. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) o glifosato pode vir a causar câncer. A gravidade da nossa permissividade é essa. Vejo como um atentado à saúde da população como um todo”, alertou a pesquisadora ao Correio da Bahia. Em um estudo de 2012, a pesquisadora já alertava que, no Brasil, entre 1999 e 2009, uma pessoa sofria intoxicação por agrotóxico a cada 90 minutos. Nas conta de Bombardi, foram mais de 60 mil pessoas intoxicadas em 10 anos.
Os índices ainda poderiam ser mais graves, já que, segundo o estudo, para cada notificação de intoxicação, 50 deixam de ser registradas. Dentre os principais perigos à saúde listados pela Abrasco, em dossiê, entre 2005 e 2015, estão alterações no cromossomo, lesões hepáticas, contrações musculares involuntárias, asma e arritmias cardíacas; fungicidas, doença de Parkinson e cânceres. Isso se forem listados apenas os males relacionados a agrotóxicos classificados como inseticidas. Já os herbicidas podem induzir a produção de enzimas hepáticas, de vários tipos de câncer, fibrose pulmonar, entre outras enfermidades.

Fonte:Notícias ao Minuto

domingo, 6 de agosto de 2017

POLÍTICA

Partidos retomam debate sobre o parlamentarismo no Brasil

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Tema pode ser incluído na reforma política. Modelo já foi recusado duas vezes pela população por meio de plebiscitos

Brasília – Momentos de instabilidade política no Brasil levaram parlamentares a tentar reacender um modelo de governo que empodera, ainda mais, o Congresso. O parlamentarismo, sistema rejeitado pela população em plebiscitos duas vezes, entra na pauta da reforma política, até então focada em mudar apenas o processo eleitoral. Na opinião de especialistas, o modelo é funcional e até poderia ser melhor, mas mudá-lo em um momento de tanta instabilidade e descrença política seria antidemocrático e oportunista.
No parlamentarismo, quem toma as decisões é a maioria do Legislativo e o Executivo serve como apoio. Um dos maiores defensores da causa é o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), que tem conversado com líderes de outras legendas para tentar emplacar a mudança no sistema. “É sempre um bom momento para evoluir. O parlamentarismo é sempre governo de maioria. Quando essa maioria acaba, o governo cai. É mais democrático e evoluído. Precisamos criar condições para que não passemos mais por uma crise como a que estamos vivendo agora.” Freire conta com o apoio, principalmente, do PSDB, que tem na origem a defesa ao parlamentarismo.
A favor do sistema, o professor do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) Antônio José Barbosa diz que ele dá oportunidades diferentes. “Não se pode concentrar a responsabilidade do poder em uma só figura. O presidencialismo já demonstrou que é inadequado e gera crises profundas. No outro, é fácil de resolver, dissolve-se o Parlamento e convocam-se novas eleições.” Entretanto, Barbosa afirma que a mudança em momento de crise não é solução. “O parlamentarismo é a melhor forma de governo em condições normais. No momento que estamos vivendo, a única coisa possível é cumprir a Constituição. Qualquer caminho diferente disso agora seria golpe mesmo. Ultrapassada essa fase, ele pode e deve ser discutido. Nunca como um remédio para uma crise”, defende.
Já doutor em ciência política José Matias-Pereira ressalta que o país vive atualmente um parlamentarismo disfarçado, já que, para manter uma base de apoio, o presidente da República acaba dando grande parte do poder aos parlamentares. Na Esplanada de Temer, 19 pastas são comandadas por deputados ou senadores. E, diante dos planos do governo federal de dar andamento em reformas como a da Previdência, o presidente está cada vez mais à mercê das vontades do Legislativo. “Aqui você tem partidos se apoderando da máquina para ter recursos para campanhas ou para enriquecer. Se é para ser assim, vamos discutir mudanças mesmo, porque os políticos tem de servir à política e não se enriquecer dela. A forma como o Brasil faz o presidencialismo é o pior dos modelos. É como se a gente elegesse um imperador temporário que negocia o patrimônio do Estado sem consultar ninguém”, critica Matias-Pereira.

Consulta


Os brasileiros foram às urnas duas vezes para escolher o modelo político preferido, em 1963 e em 1993. Nos dois casos, o presidencialismo saiu vencedor da consulta. Na opinião do professor do Instituto de Ciência Política da UnB Pablo Holmes, esse deveria ser o primeiro passo desse debate. “É uma razão democrática. A população se posicionou e, se é para mudar, é certo que ela se posicione novamente.” Para Holmes, o sistema funciona bem em países onde a estrutura partidária é sólida e a política é feita de outra maneira. “A política no Brasil é feita de oligarquias locais e corruptas. Basta olhar para a legitimidade do Congresso. É uma das instituições que tem menos confiança da população. Você vai dar mais poder a eles? Mais poder às elites partidárias? Quem vai ganhar com isso?”, questiona.
Parlamentares pretendem aproveitar o debate já encaminhado no Congresso sobre reforma política para incluir a discussão, mas, diante da polêmica que a matéria causa, a tendência é que as mudanças sejam pontuais e, basicamente, eleitorais. A proposta que precisa ser aprovada até outubro deste ano para valer nas eleições do ano que vem prevê a criação de um fundo público exclusivo para as despesas com campanhas eleitorais, a cláusula de barreira e o fim das coligações partidárias.
AGÊNCIA  ESTADO

terça-feira, 25 de julho de 2017

MUNDO

Brasileiros dizem que foram 

mantidos como 'escravos' por 

igreja dos EUA

Investigação da AP revela que a igreja Word of Faith Fellowship, na Carolina do Norte, usou congregações no Brasil como fornecedoras de jovens que eram forçados a trabalhar por baixa ou nenhuma remuneração

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Imagem de arquivo mostra Andre Oliveira em Spindale, nos EUA, onde disse que foi obrigado a trabalhar 15 horas por dia sem salário (Foto: AP Photo/Mitch Weiss)    


Quando Andre Oliveira respondeu a um chamado para deixar sua congregação vinculada à Word of Faith Fellowship (Associação Palavra da Fé) no Brasil e mudar para a igreja mãe na Carolina do Norte (EUA), teve seu passaporte e dinheiro confiscados pelos líderes da igreja – para proteção, disseram.
Então com 18 anos e preso em um país estrangeiro, ele disse que foi forçado a trabalhar 15 horas por dia, geralmente sem remuneração, primeiro limpando casas para a igreja evangélica secretamente e depois trabalhando nas propriedades dos ministros sêniores. Ele conta que qualquer desvio nas regras os colocava sob a ira dos líderes da igreja, com punições variando de espancamentos a humilhações no púlpito.
"Eles nos traficaram para cá. Eles sabiam o que estavam fazendo. Eles precisavam de mão de obra, e nós éramos mão de obra barata – bom, mão de obra gratuita”, diz Oliveira.
Uma investigação da Associated Press revela que a Word of Faith Fellowship usou seus dois ramos da igreja na maior nação da América Latina como sifão de um fluxo contínuo de jovens trabalhadores, que tinham vistos de turistas ou estudantes, para a sua propriedade de 35 acres na zona rural de Spindale.
Segundo as leis dos EUA, os visitantes com visto de turista são proibidos de realizar um trabalho pelo qual as pessoas normalmente seriam remuneradas. As pessoas com visto de estudantes têm permissão para alguns trabalhos, em circunstâncias que não correspondem às que aconteciam na Word of Faith Fellowship, conforme a AP descobriu.
Em pelo menos uma ocasião, os membros antigos alertaram as autoridades. Em 2014, três ex-congregantes disseram a uma procuradora assistente dos EUA que os brasileiros estavam sendo forçados a trabalhar sem remuneração, de acordo com um registro obtido pela AP.
"E eles espancaram os brasileiros?", perguntou Jill Rose, agora procuradora dos EUA em Charlote. 


"Não há dúvidas", respondeu um dos congregantes antigos. Os ministros "na maioria das vezes traziam eles para cá para trabalho gratuito", disse outro.
Embora Rose pudesse ser ouvida prometendo investigação, os membros antigos disseram que ela nunca respondeu quando eles repetidamente tentavam contato nos meses que antecediam à reunião.
Rose se recusou a falar do assunto com a AP, citando uma investigação em andamento.
Oliveira, que abandonou a igreja no ano passado, é um dos 16 membros antigos brasileiros que contaram à AP que foram forçados a trabalhar, frequentemente sem remuneração, e foram agredidos física ou verbalmente. A AP também analisou uma série de relatórios policiais e queixas formais apresentadas no Brasil sobre as condições adversas da igreja.

'Éramos descartáveis'

"Eles nos mantinham como escravos", disse Oliveira, pausando às vezes para secar as lágrimas. "Nós éramos descartáveis. Não significávamos nada para eles. Nada. Como podem fazer aquilo com pessoas – declarar seu amor a elas e depois bater nelas em nome de Deus?"
Os brasileiros frequentemente falavam pouco inglês quando chegavam e muitos tiveram seus passaportes apreendidos.
Membros antigos contaram que muitos homens trabalharam no setor de construção; muitas mulheres trabalharam como babás e na escola K-12 da igreja. Uma ex-congregante do Brasil disse à AP que ela tinha apenas 12 anos quando teve que trabalhar pela primeira vez.
Embora os agentes da imigração nos dois países disseram ser impossível calcular o volume do fluxo de humanos, pelo menos várias centenas de jovens brasileiros migraram para a Carolina do Norte nas últimas duas décadas, com base nas entrevistas com os membros antigos.

Anos de abuso

As revelações de trabalho forçado são as mais recentes de uma investigação em andamento da AP que expõe anos de abuso na Word of Faith Fellowship. Com base em entrevistas exclusivas com 43 membros antigos, documentos e registros secretos, a AP divulgou em fevereiro que os congregantes eram regularmente golpeados, surrados e sufocados para que fossem "purificados" dos pecados ao derrotarem os demônios. 

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Imagem de arquivo mostra Jane Whaley, fundadora da Word of Faith Fellowship no Brasil, com várias crianças na igreja de Spindale, na Carolina do Norte (Foto: AP Foto/Silvia Izquierdo)

A igreja raramente sofreu sanções desde a fundação, em 1979, pela líder da seita, Jane Whaley, uma antiga professora de matemática, e seu marido, Sam. Outra reportagem anterior da AP descreve como os líderes da igreja ordenaram que os congregantes mentissem às autoridades que investigavam relatos de abuso.
A AP fez tentativas repetidas para obter comentários desta história dos líderes da igreja nos dois países, mas eles não responderam.
Sob a liderança de Jane Whaley, Word of Faith Fellowship cresceu de um punhado de seguidores para cerca de 750 congregantes na Carolina do Norte e um total de quase 2 mil membros nas suas igrejas no Brasil e em Gana e suas afiliações na Suécia, Escócia e outros países.
Os membros de todo o mundo visitam a propriedade de Spindale, mas o Brasil é a maior fonte de trabalho estrangeiro, e Whaley e seus principais delegados visitam os postos avançados brasileiros várias vezes ao ano, segundo descobriu a AP.

'Violação'

Thiago Silva fala à agência AP em entrevista em sua casa em Marlborough, nos EUA (Foto: AP Photo/Rodrique Ngowi)
Thiago Silva fala à agência AP em entrevista em sua casa em Marlborough, nos EUA (Foto: AP Photo/Rodrique Ngowi)
 
O membro antigo Thiago Silva disse que estava entusiasmado quando embarcou em um avião na cidade brasileira de Belo Horizonte para voar para o seminário de jovens da Word of Faith na Carolina do Norte em 2001. Ele tinha 18 anos e esperava usar seu visto de turista para conhecer novas pessoas e visitar os EUA.
Ele disse que aprendeu rápido que "não haveria felicidade".
"Os brasileiros vêm para cá para trabalhar. Estou dizendo, é isso", disse Silva. Ele chamou o tratamento de "uma violação aos direitos humanos".
Silva, agora com 34 anos, declarou estar entre um grupo de brasileiros que trabalha ao lado de americanos – os locais eram pagos, os brasileiros não eram, ele conta.
Silva e outros também disseram que Whaley tinha total controle da vida dos congregantes nos dois continentes, ordenando o básico da vida diária, como onde eles morariam e quando poderiam comer – e até mesmo forçando alguns a se casarem com americanos para que pudessem permanecer no país.
A falta de liberdade era generalizada, eles disseram: Silva, por exemplo, disse que ele poderia telefonar para seus pais dos EUA apenas se alguém que falasse português monitorasse a ligação.
"Não há livre arbítrio", ele disse. "Existe o arbítrio da Jane".

Peregrinação

Durante duas décadas, a Word of Faith Fellowship absorveu duas igrejas no Brasil, Ministério Verbo Vivo, na cidade São Joaquim de Bicas, e Ministério Evangélico Comunidade Rhema, em Franco da Rocha.
Igreja do grupo Word of Faith Fellowship em São Joaquim de Bicas, no Brasil (Foto: AP Foto/Silvia Izquierdo)
Igreja do grupo Word of Faith Fellowship em São Joaquim de Bicas, no Brasil (Foto: AP Foto/Silvia Izquierdo)
   
 
Durante suas visitas frequentes, Whaley contava aos membros brasileiros do seu rebanho que eles poderiam melhorar suas vidas e suas relações com Deus com uma peregrinação à igreja mãe, disseram vários dos entrevistados. A marca de adoração dos brasileiros era inferior, como ela frequentemente diria.
Além de estarem comprometidos com um nível mais alto da igreja, alguns dizem que eles também eram atraídos pela chance de frequentar a faculdade, aprender inglês e conhecer um pouco dos EUA. Outros dizem que sentiram que simplesmente não tinham escolha.
Durante todo o tempo, as regras rígidas instauradas em Spindale foram impostas no Brasil, o que levou a queixas à polícia revisadas pela AP e uma audiência legislativa em 2009. Mas a Word of Faith nunca enfrentou qualquer censura oficial – muitas das alegações perduram pela palavra de ex-membros contra a igreja – e o fluxo de humanos continuava a fluir, mesmo que os pais brasileiros dissessem que estavam sendo completamente isolados dos seus filhos na Carolina do Norte.

Gritos e empurrões

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Ana Albuquerque, de 25 anos, viajou 11 vezes à igreja Word of Faith Fellowship, na Carolina do Norte (Foto: AP Foto/Silvia Izquierdo)
 Ana Albuquerque viajou do Brasil para Spindale 11 vezes durante mais de uma década, começando aos 5 anos com seus pais. Durante este tempo, ela disse que testemunhou tantos gritos e empurrões para "expulsar demônios" que começou a achar o comportamento normal.  

Nas suas últimas três viagens, ela ingressou em um grupo de duas dezenas com outros adolescentes brasileiros que permaneciam até seis meses com vistos de turistas. "Eles chegavam e diziam: 'Você vai conhecer os Estados Unidos da América. Você vai para todos os shoppings'", ela conta. "Mas quando você chega lá, tudo é controlado."
Albuquerque, agora com 25 anos, disse que trabalhou em período integral sem remuneração – como auxiliar de professor na escola durante o dia e babá de crianças de congregantes à noite.
O julgamento aconteceu durante sua última viagem, quando tinha 16 anos. Albuquerque contou que Whaley e outro ministro a espancavam repetidamente com um pedaço de madeira enquanto gritavam que ela estava "suja" e possuída pelo demônio.
"Ore para isso sair de você!", Albuquerque se lembrou de ser exortada durante uma sessão que durou 40 minutos.
Durante as últimas duas semanas em Spindale, Albuquerque disse que aguentou dias de isolamento forçado, leitura da Bíblia, ameaças de ser internada em hospital psiquiátrico e que foi proibida por Whaley de ligar para os pais. Finalmente, permitiram que ela voltasse ao Brasil, onde deixou a igreja.

Vistos de turista e estudante

A investigação da AP documentou abusos repetidos dos vistos de turista e estudante obtidos por membros brasileiros da igreja.
Os brasileiros muitas vezes chegavam primeiro na Carolina do Norte com vistos de turista por seis meses para exercerem funções na igreja, às vezes 20 ou 30 por vez. Alguns brasileiros sairiam após poucas semanas, outros permaneceriam pelo prazo inteiro.
Talvez para burlar as regras contra o emprego, os líderes da igreja às vezes encaminhavam para projetos de trabalho forçado como "trabalho voluntário", de acordo com os brasileiros entrevistados nos dois países. 

Esse trabalho incluía derrubar paredes e instalar drywall em apartamentos de propriedade e alugados por um ministro sênior da igreja e membros da família, eles dizem. 

Ross Eisenbrey, do Instituto de Política Econômica, de Washington, D.C., acha que o tanque se concentra nos problemas trabalhistas, disse que as propriedades alugadas são "empreendimentos com fins lucrativos para os quais os imigrantes não poderiam ser voluntários" segundo a Lei de Normas de Trabalho Justo.
Alguns dos entrevistados disseram que eram atraídos para os EUA em parte por promessas de conseguir fazer faculdade, mas não conseguiam estudar ou ir às aulas devido aos horários da punição com trabalho. 
Os congregantes antigos dizem que mais brasileiros vieram com vistos de turista, e várias centenas de adolescentes permaneceram por longos períodos.  

Fonte: AP




terça-feira, 18 de julho de 2017

ESPORTES

Brasil é alertado sobre pedido de prisão de Ricardo Teixeira na Espanha
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Brasil é alertado sobre pedido de prisão de Ricardo Teixeira na Espanha Foto: ABC

Procuradores federais brasileiros e espanhóis começaram a trocar informações sobre as suspeitas de corrupção que pesam contra Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, pelo suposto desvio milionário da receita de jogos da seleção. Informalmente e por meios confidenciais, a cúpula da Procuradoria Geral da República já foi alertada pela Espanha de que a Justiça de Madri emitiu uma ordem internacional de prisão contra o ex-dirigente. A esperança dos espanhóis é de contar com a colaboração do Brasil no caso.
Por enquanto, a cooperação entre os dois países está ocorrendo de maneira informal. De acordo com pessoas próximas ao caso, investigadores brasileiros já fizeram os primeiros contatos com os espanhóis. Mas os procuradores de ambos os lados estão estudando formas de tornar oficial o procedimento, a troca de dados e mesmo de uma ordem de busca.
Em Brasília, o interesse é o de saber se os dados colhidos pela Justiça na Espanha também poderiam ser usados em um inquérito no País contra o ex-cartola, inclusive por evasão. Mesmo detido no território nacional à pedido de Madri, Teixeira jamais seria extraditado por conta das leis nacionais. Mas poderia responder a um processo ou pelo menos ser questionado, com suas respostas sendo enviadas aos juízes na Espanha.
Conforme o Estado revelou ainda em 2013, acordos secretos permitiram que a renda dos jogos da seleção fosse desviada para uma empresa em nome de Sandro Rosell, aliado de Teixeira e ex-presidente do Barcelona. No mês passado, Rosell foi preso e a Justiça espanhola apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com o próprio Teixeira. “Durante 2010, Teixeira e sua mulher eram detentores de dois cartões Visa Platinum, com contas da Uptrend em Andbank”, apontou a Justiça espanhola.
“Resulta da investigação que, de sua posição de presidente a CBF, (Teixeira) influenciou na concessão de direitos audiovisuais aos jogos da seleção, e, enquanto isso, por trás e para o prejuízo da CBF, Rosell negociava um contrato de intermediação”, apontou o documento do processo do caso do ex-dirigente catalão.
Os investigadores concluem, portanto, que “parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira”. De acordo com a Audiência Nacional da Espanha, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o “destinatário do dinheiro, e não a confederação (CBF)”.
As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Teixeira foi “a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela seleção brasileira”.
Desde a prisão de Rosell, a defesa de Ricardo Teixeira tem negado qualquer tipo de irregularidade. Mas a Procuradoria Geral agora busca detalhes das suspeitas e como isso implicaria em crimes no Brasil.
Nesta semana, a imprensa espanhola revelou que a Justiça em Madri teria emitido uma ordem internacional de busca e captura contra o ex-presidente da CBF. Nesta terça-feira, fontes próximas ao caso confirmaram ao Estado que a ordem de fato está emitida. Mas ainda não entrou no sistema da Interpol e nem chegou oficialmente em documentos até Brasília.
A medida partiu da juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional. “Teixeira obteve, de forma indireta, mediante a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros que a ISE transferiu para a Uptrend pela suposta intermediação desta última”, afirmou. A decisão da juíza seria de 12 de junho.
A ordem foi dada 15 dias depois da prisão de Rosell e quando os procuradores Vicente González Mota e María Antonia Sanz solicitaram que a Audiência Nacional emitisse a decisão de captura do brasileiro.

Se fosse de fato detido, Teixeira não seria extraditado para a Espanha, onde é acusado de fazer parte de uma “organização criminosa”. Como regra, o Brasil não extradita pessoas com sua nacionalidade. Mas um inquérito, com base nas informações oficiais da Espanha, poderia ser aberto no País.