Soldados dos EUA e Afeganistão são vistos perto da vila de Asad Khil, ao leste de Cabul, em foto de 17 de abril (Foto: AP Photo/Rahmat Gul)
O Pentágono aumentou consideravelmente nesta quarta-feira (30) a
estimativa do número de militares americanos que estão atualmente no
Afeganistão, antes da decisão do presidente Donald Trump de enviar
milhares de soldados em sua nova estratégia para o país em guerra.
O diretor-geral do Pentágono, o tenente-general Kenneth McKenzie,
afirmou que uma revisão mostrou que há aproximadamente 11.000 militares
americanos no Afeganistão, em comparação à cifra de 8.400 soldados usada
desde o ano passado.
Mas McKenzie não informou quantos novos soldados serão enviados.
O secretário de Defesa, Jim Mattis, "ainda não tomou essa decisão",
disse, acrescentando que as ordens de mobilização ainda não foram
emitidas.
McKenzie disse que quando o ex-presidente Barack Obama fixou em julho
de 2016 um teto de 8.400 soldados no Afeganistão, os comandantes
militares tiveram dificuldades para dispersar unidades completas, o que
provocou "consequências imprevistas". Além disso, unidades temporárias e
clandestinas não foram contabilizadas.
A nova estimativa foi revelada quase duas semanas após Trump e seu alto
comando militar decidirem aumentar a presença de soldados americanos no
Afeganistão para pressionar o Talibã e outros grupos extremistas.
Olíder norte-coreano, Kim Jong-un, ordenou que seu exército ficasse a postos a partir da madrugada desta terça (hora local).
Segundo informações da agência estatal da Coreia do Norte, Kim teria recebido a informação de seus militares de que os Estados Unidos fariam um teste de mísseis no território de Guam, que pertence ao país norte-americano e foi ameaçado por Kim na última semana.
Coreia do Norte confirma plano para atacar Guam com mísseis
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un (Foto: Carlo Allegri/Reuters; KCNA/via Reuters)
A Coreia do Norte confirmou nesta quinta-feira (10) que planeja disparar quatro mísseis contra a ilha americana de Guam, no Pacífico, alegando que apenas a força faz sentido para o presidente americano, Donald Trump.
"Um diálogo sensato é impossível com um sujeito assim, desprovido de razão, e com ele só funciona a força absoluta", indicou a agência estatal KCNA, citando o general norte-coreano Kim Rak-gyom.
"Espero que nunca tenhamos que usar esse poder", acrescentou Trump, após a sua advertência sem precedentes ao governo de Kim Jong-un, que ameaça atacar o território americano com mísseis nucleares.Longe de apaziguar a situação, o secretário americano de Defesa, Jim Mattis, pediu que a Coreia do norte "detenha" o desenvolvimento de armas nucleares e pare de fomentar ações que levem "ao fim de seu regime e à destruição de seu povo".
Em sintonia com os tuítes de Trump, o chefe do Pentágono minimizou o poderio militar de Pyongyang, afirmando que "perderia qualquer corrida armamentista ou conflito que começasse" com os EUA.
A repercussão dos tuítes de Trump e de sua incendiária declaração de terça-feira (8) de seu clube de golfe em Nova Jersey, onde está de férias, afetaram a queda do dólar, as principais bolsas mundiais e despertaram inquietações.
Nesta quinta, o Japão afirmou que "jamais poderá tolerar as provocações" de Pyongyang. "Apelamos firmemente à Coreia do Norte para que leve a sério as reiteradas advertências da comunidade internacional, acate as resoluções da ONU e se abstenha de realizar novas provocações", disse o porta-voz do governo japonês Yoshihide Suga.
O funcionário japonês destacou que "é muito importante manter o poder de dissuasão americano diante da gravidade da situação de segurança na região".
Na véspera, a China exortou que se evitem "as palavras e os atos suscetíveis" de agravar a situação, enquanto Berlim pediu "moderação" às partes. A França, no entanto, elogiou a "determinação" de Trump ante Pyongyang.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, se mostrou "preocupado", e pediu por meio de seu porta-voz que reduzam as tensões e apelem para a diplomacia.
A pedido de Washington, a Organização das Nações Unidas endureceu há alguns dias as sanções contra Pyongyang por seu programa nuclear, que poderia custar ao governo norte-coreano um bilhão de dólares anuais.
"Acho que os americanos devem dormir bem, sem nenhuma preocupação sobre esta particular retórica dos últimos dias", disse o chefe da Diplomacia americana, Rex Tillerson, após justificar a "mensagem forte" do presidente Trump "em uma linguagem que Kim Jong-un pode compreender".
Sobre o fato de os comentário de Trump surpreenderem o seu círculo mais próximo, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse que o Conselho de Segurança Nacional e outros funcionários sabiam que "o presidente iria responder [...] com uma mensagem forte em termos inequívocos".
A remota e paradisíaca ilha de Guam, de apenas 550 km2 e onde vivem 162.000 pessoas, em sua maioria dedicados ao turismo, permanecia calma nesta quarta-feira diante da ameaça norte-coreana. O governador, Eddie Calvo, minimizou os atos de Pyongyang, mas assinalou que o território está "preparado para qualquer eventualidade".
Vista aérea de Guam (Foto: Marinha dos EUA via Reuters)
"Não é que haja algo que possamos fazer realmente, esta é uma ilha pequena, não há para onde correr", disse o morador James Cruz, da capital Hagåtña.
Rápido avanço
A retórica de Trump tem apresentado uma escalada em relação a Pyongyang, após dois testes bem-sucedidos de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) por parte do governo de Kim Jong-un.
O primeiro teste, descrito pelo líder norte-coreano como um presente aos "bastardos americanos", mostrou que o dispositivo poderia alcançar o Alasca. O segundo sugeriu que poderia chegar até Nova York.
Na terça-feira, o jornal "The Washington Post" relatou que a Coreia do Norte teria a capacidade de colocar pequenas ogivas nucleares nestes mísseis, segundo um relatório da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, em inglês).
O jornal americano também assinalou que outra avaliação da Inteligência considerou que a Coreia do Norte tem agora até 60 armas nucleares, mais do que se pensava.
Alguns especialistas asseguram que Pyongyang ainda deve superar obstáculos técnicos, em especial para conseguir fazer uma miniatura de uma ogiva nuclear para introduzi-la com sucesso em um míssil.
Mas apesar das discrepâncias, todas estão de acordo que a Coreia do Norte avança rapidamente em sua corrida de armas nucleares desde a chegada de Kim Jong-un ao poder, em dezembro de 2011.
Canadá instala tendas para refugiados haitianos vindos dos EUA na fronteira
Membros das Forças Armadas do Canadá montam tendas para solicitantes de asilo na fronteira entre o Canadá e os EUA em Lacolle, Quebec, na quarta (9) (Foto: Graham Hughes/The Canadian Press via AP)
O Exército de Canadá começou a instalar tendas nesta quarta-feira (9) perto de sua fronteira para dar apoio à onda de refugiados haitianos que estão chegando ao país com medo de serem expulsos dos Estados Unidos.
As tendas na cidade de Saint-Bernard-de-Lacolle, a 60 quilômetros ao sul de Montreal, têm energia elétrica e sistema de calefação. Elas vão acomodar temporariamente até 500 refugiados, disse o Exército em um comunicado.
A medida foi adotada após uma reunião do chanceler haitiano, Antonio Rodrigue, e a ministra para os haitianos morando no exterior, Stephanie Auguste, com a responsável de Imigração do Quebec, Kathleen Weil, para discutir o fenômeno e as necessidades dos solicitantes de refúgio do país chegando ao Canadá.
Muitos desses refugiados já moram há anos nos Estados Unidos, mas temem ser expulsos após o presidente Donald Trump anunciar que não vai estender o visto temporário que tinha sido concedido a 60 mil haitianos, afetados por um devastador terremoto na ilha em 2010. Esse status especial vai expirar no fim deste ano.
Desde julho, mais de 2.500 haitianos saíram dos Estados Unidos e buscaram refúgio no Canadá, cruzando à pé a fronteira com a província francófona do Quebec.
O estádio olímpico de Montreal está sendo usado para alojar alguns dos recém-chegados e um hospital fechado será reaberto para acomodar mais refugiados.
Cientistas
chineses criam o maior universo virtual do mundo
Virtual: o universo virtual é cinco vezes maior que o até agora considerado maior (liuzishan/Thinkstock)
Auxiliados pelo supercomputador mais
veloz do planeta, o Sunway TaihuLight, cientistas chineses conseguiram
criar o maior universo virtual nunca antes alcançado, informou nesta
quinta-feira o jornal “South China Morning Post”.
Este universo foi criado por meio de uma hora de cálculos do
computador em sua máxima potência, usando 10 milhões de processadores
multinúcleo, e criando com isso 10 trilhões de partículas digitais que,
segundo os cientistas, reproduzem o nosso universo nos seus períodos
mais jovens.
“Conseguimos chegar ao momento em que tinham transcorrido 10
milhões de anos desde o Big Bang, uma etapa muito jovem do universo
(que atualmente tem 1,3 bilhão de anos) em que a maioria das galáxias
ainda não tinham nascido”, destacou o professor Gao Liang, do
Observatório Astronômico Nacional.
Este universo virtual é cinco vezes maior que o até agora
considerado maior, gerado no mês passado por astrofísicos na
Universidade de Zurique (Suíça).
A recriação pode ajudar a investigar questões como a
natureza e extensão da matéria escura, um dos grandes enigmas
científicos do momento.
Além disso, também pode servir como “mapa” para o maior
radiotelescópio do mundo, o FAST, que também está na China e foi
inaugurado no ano passado na província central de Guizhou.
O supercomputador Sunway TaihuLight, com base na cidade
chinesa de Wuxi, é considerado o mais rápido do mundo desde o ano
passado, segundo a lista Top500.
Com uma velocidade de 93 petaflops, é três vezes mais potente que o Tianhe 2, o segundo mais rápido do mundo, também na China.
As recriações de universos virtuais para estudos físicos
começaram na década de 1970 e então eram criados com apenas milhares de
partículas digitais. Apenas em anos recentes se superou o patamar do
trilhão de partículas por meio de supercomputadores de países como
Estados Unidos, Japão e China.
A expectativa é que os chineses consigam em breve maiores
avanços neste campo, dado que o país desenvolve uma nova geração de
supercomputadores até 10 vezes mais rápidos que o Sunway TaihuLight, que
poderiam começar a funcionar no final desta década.
Na véspera, o índice terminou o pregão com avanço de 0,87%, aos 65.667 pontos.Foto: Reprodução
O principal índice da bolsa brasileira opera em baixa nesta
quarta-feira (26), em dia de decisão sobre as taxas de juros no Brasil e
nos Estados Unidos, mais tarde, e em meio ao noticiário corporativo
agitado. O movimento é de realização de lucros (vender ações para
lucrar) após dois dias seguidos de alta.
Às 16h42, o Ibovespa caía 0,92%, aos 65.063 pontos. Veja a cotação.
Perto do mesmo horário, as ações da JBS estavam entre as maiores altas dentro do Ibovespa e subiam mais de 7% após a empresa fechar acordos com credores bancários na véspera. A
empresa informou que conseguiu preservar suas linhas de créditos que
representam 93% do valor devido pela companhia e por sua divisão de
couros.
As ações da Renner caíam mais de 3%, após a empresa divulgar seus resultados financeiros do segundo trimestre.
A maior varejista de moda do Brasil teve alta de 10,7% no lucro líquido
do segundo trimestre, mostrando um avanço na área de produtos
financeiros, mas queda na margem de varejo.
Véspera
O índice fechou em alta nesta terça-feira (25), amparado nos ganhos de
commodities que impulsionavam as ações da Vale e da Petrobras. O
Ibovespa terminou o pregão em avanço de 0,87%, aos 65.667 pontos.
Investigação
da AP revela que a igreja Word of Faith Fellowship, na Carolina do
Norte, usou congregações no Brasil como fornecedoras de jovens que eram
forçados a trabalhar por baixa ou nenhuma remuneração
Imagem de arquivo
mostra Andre Oliveira em Spindale, nos EUA, onde disse que foi obrigado a
trabalhar 15 horas por dia sem salário (Foto: AP Photo/Mitch Weiss)
Quando Andre Oliveira respondeu a um chamado para deixar sua
congregação vinculada à Word of Faith Fellowship (Associação Palavra da
Fé) no Brasil e mudar para a igreja mãe na Carolina do Norte (EUA), teve
seu passaporte e dinheiro confiscados pelos líderes da igreja – para
proteção, disseram.
Então com 18 anos e preso em um país estrangeiro, ele disse que foi
forçado a trabalhar 15 horas por dia, geralmente sem remuneração,
primeiro limpando casas para a igreja evangélica secretamente e depois
trabalhando nas propriedades dos ministros sêniores. Ele conta que
qualquer desvio nas regras os colocava sob a ira dos líderes da igreja,
com punições variando de espancamentos a humilhações no púlpito.
"Eles nos traficaram para cá. Eles sabiam o que estavam fazendo. Eles
precisavam de mão de obra, e nós éramos mão de obra barata – bom, mão de
obra gratuita”, diz Oliveira.
Uma investigação da Associated Press revela que a Word of Faith
Fellowship usou seus dois ramos da igreja na maior nação da América
Latina como sifão de um fluxo contínuo de jovens trabalhadores, que
tinham vistos de turistas ou estudantes, para a sua propriedade de 35
acres na zona rural de Spindale.
Segundo as leis dos EUA, os visitantes com visto de turista são
proibidos de realizar um trabalho pelo qual as pessoas normalmente
seriam remuneradas. As pessoas com visto de estudantes têm permissão
para alguns trabalhos, em circunstâncias que não correspondem às que
aconteciam na Word of Faith Fellowship, conforme a AP descobriu.
Em pelo menos uma ocasião, os membros antigos alertaram as autoridades.
Em 2014, três ex-congregantes disseram a uma procuradora assistente dos
EUA que os brasileiros estavam sendo forçados a trabalhar sem
remuneração, de acordo com um registro obtido pela AP.
"E eles espancaram os brasileiros?", perguntou Jill Rose, agora procuradora dos EUA em Charlote.
"Não há dúvidas", respondeu um dos congregantes antigos. Os ministros
"na maioria das vezes traziam eles para cá para trabalho gratuito",
disse outro.
Embora Rose pudesse ser ouvida prometendo investigação, os membros
antigos disseram que ela nunca respondeu quando eles repetidamente
tentavam contato nos meses que antecediam à reunião.
Rose se recusou a falar do assunto com a AP, citando uma investigação em andamento.
Oliveira, que abandonou a igreja no ano passado, é um dos 16 membros
antigos brasileiros que contaram à AP que foram forçados a trabalhar,
frequentemente sem remuneração, e foram agredidos física ou verbalmente.
A AP também analisou uma série de relatórios policiais e queixas
formais apresentadas no Brasil sobre as condições adversas da igreja.
'Éramos descartáveis'
"Eles nos mantinham como escravos", disse Oliveira, pausando às vezes
para secar as lágrimas. "Nós éramos descartáveis. Não significávamos
nada para eles. Nada. Como podem fazer aquilo com pessoas – declarar seu
amor a elas e depois bater nelas em nome de Deus?"
Os brasileiros frequentemente falavam pouco inglês quando chegavam e muitos tiveram seus passaportes apreendidos.
Membros antigos contaram que muitos homens trabalharam no setor de
construção; muitas mulheres trabalharam como babás e na escola K-12 da
igreja. Uma ex-congregante do Brasil disse à AP que ela tinha apenas 12
anos quando teve que trabalhar pela primeira vez.
Embora os agentes da imigração nos dois países disseram ser impossível
calcular o volume do fluxo de humanos, pelo menos várias centenas de
jovens brasileiros migraram para a Carolina do Norte nas últimas duas
décadas, com base nas entrevistas com os membros antigos.
Anos de abuso
As revelações de trabalho forçado são as mais recentes de uma
investigação em andamento da AP que expõe anos de abuso na Word of Faith
Fellowship. Com base em entrevistas exclusivas com 43 membros antigos,
documentos e registros secretos, a AP divulgou em fevereiro que os
congregantes eram regularmente golpeados, surrados e sufocados para que
fossem "purificados" dos pecados ao derrotarem os demônios.
Imagem de arquivo
mostra Jane Whaley, fundadora da Word of Faith Fellowship no Brasil, com
várias crianças na igreja de Spindale, na Carolina do Norte (Foto: AP
Foto/Silvia Izquierdo)
A igreja raramente sofreu sanções desde a fundação, em 1979, pela líder
da seita, Jane Whaley, uma antiga professora de matemática, e seu
marido, Sam. Outra reportagem anterior da AP descreve como os líderes da
igreja ordenaram que os congregantes mentissem às autoridades que
investigavam relatos de abuso.
A AP fez tentativas repetidas para obter comentários desta história dos
líderes da igreja nos dois países, mas eles não responderam.
Sob a liderança de Jane Whaley, Word of Faith Fellowship cresceu de um
punhado de seguidores para cerca de 750 congregantes na Carolina do
Norte e um total de quase 2 mil membros nas suas igrejas no Brasil e em
Gana e suas afiliações na Suécia, Escócia e outros países.
Os membros de todo o mundo visitam a propriedade de Spindale, mas o
Brasil é a maior fonte de trabalho estrangeiro, e Whaley e seus
principais delegados visitam os postos avançados brasileiros várias
vezes ao ano, segundo descobriu a AP.
'Violação'
Thiago Silva fala à agência AP em entrevista em sua casa em Marlborough, nos EUA (Foto: AP Photo/Rodrique Ngowi)
O membro antigo Thiago Silva disse que estava entusiasmado quando
embarcou em um avião na cidade brasileira de Belo Horizonte para voar
para o seminário de jovens da Word of Faith na Carolina do Norte em
2001. Ele tinha 18 anos e esperava usar seu visto de turista para
conhecer novas pessoas e visitar os EUA.
Ele disse que aprendeu rápido que "não haveria felicidade".
"Os brasileiros vêm para cá para trabalhar. Estou dizendo, é isso",
disse Silva. Ele chamou o tratamento de "uma violação aos direitos
humanos".
Silva, agora com 34 anos, declarou estar entre um grupo de brasileiros
que trabalha ao lado de americanos – os locais eram pagos, os
brasileiros não eram, ele conta.
Silva e outros também disseram que Whaley tinha total controle da vida
dos congregantes nos dois continentes, ordenando o básico da vida
diária, como onde eles morariam e quando poderiam comer – e até mesmo
forçando alguns a se casarem com americanos para que pudessem permanecer
no país.
A falta de liberdade era generalizada, eles disseram: Silva, por
exemplo, disse que ele poderia telefonar para seus pais dos EUA apenas
se alguém que falasse português monitorasse a ligação.
"Não há livre arbítrio", ele disse. "Existe o arbítrio da Jane".
Peregrinação
Durante duas décadas, a Word of Faith Fellowship absorveu duas igrejas
no Brasil, Ministério Verbo Vivo, na cidade São Joaquim de Bicas, e
Ministério Evangélico Comunidade Rhema, em Franco da Rocha.
Igreja do grupo Word of Faith Fellowship em São Joaquim de Bicas, no Brasil (Foto: AP Foto/Silvia Izquierdo)
Durante suas visitas frequentes, Whaley contava aos membros brasileiros
do seu rebanho que eles poderiam melhorar suas vidas e suas relações
com Deus com uma peregrinação à igreja mãe, disseram vários dos
entrevistados. A marca de adoração dos brasileiros era inferior, como
ela frequentemente diria.
Além de estarem comprometidos com um nível mais alto da igreja, alguns
dizem que eles também eram atraídos pela chance de frequentar a
faculdade, aprender inglês e conhecer um pouco dos EUA. Outros dizem que
sentiram que simplesmente não tinham escolha.
Durante todo o tempo, as regras rígidas instauradas em Spindale foram
impostas no Brasil, o que levou a queixas à polícia revisadas pela AP e
uma audiência legislativa em 2009. Mas a Word of Faith nunca enfrentou
qualquer censura oficial – muitas das alegações perduram pela palavra de
ex-membros contra a igreja – e o fluxo de humanos continuava a fluir,
mesmo que os pais brasileiros dissessem que estavam sendo completamente
isolados dos seus filhos na Carolina do Norte.
Gritos e empurrões
Ana Albuquerque, de
25 anos, viajou 11 vezes à igreja Word of Faith Fellowship, na Carolina
do Norte (Foto: AP Foto/Silvia Izquierdo)
Ana Albuquerque viajou do Brasil para Spindale 11 vezes durante mais de
uma década, começando aos 5 anos com seus pais. Durante este tempo, ela
disse que testemunhou tantos gritos e empurrões para "expulsar demônios"
que começou a achar o comportamento normal.
Nas suas últimas três viagens, ela ingressou em um grupo de duas
dezenas com outros adolescentes brasileiros que permaneciam até seis
meses com vistos de turistas. "Eles chegavam e diziam: 'Você vai
conhecer os Estados Unidos da América. Você vai para todos os
shoppings'", ela conta. "Mas quando você chega lá, tudo é controlado."
Albuquerque, agora com 25 anos, disse que trabalhou em período integral
sem remuneração – como auxiliar de professor na escola durante o dia e
babá de crianças de congregantes à noite.
O julgamento aconteceu durante sua última viagem, quando tinha 16 anos.
Albuquerque contou que Whaley e outro ministro a espancavam
repetidamente com um pedaço de madeira enquanto gritavam que ela estava
"suja" e possuída pelo demônio.
"Ore para isso sair de você!", Albuquerque se lembrou de ser exortada durante uma sessão que durou 40 minutos.
Durante as últimas duas semanas em Spindale, Albuquerque disse que
aguentou dias de isolamento forçado, leitura da Bíblia, ameaças de ser
internada em hospital psiquiátrico e que foi proibida por Whaley de
ligar para os pais. Finalmente, permitiram que ela voltasse ao Brasil,
onde deixou a igreja.
Vistos de turista e estudante
A investigação da AP documentou abusos repetidos dos vistos de turista e estudante obtidos por membros brasileiros da igreja.
Os brasileiros muitas vezes chegavam primeiro na Carolina do Norte com
vistos de turista por seis meses para exercerem funções na igreja, às
vezes 20 ou 30 por vez. Alguns brasileiros sairiam após poucas semanas,
outros permaneceriam pelo prazo inteiro.
Talvez para burlar as regras contra o emprego, os líderes da igreja às
vezes encaminhavam para projetos de trabalho forçado como "trabalho
voluntário", de acordo com os brasileiros entrevistados nos dois países.
Esse trabalho incluía derrubar paredes e instalar drywall em
apartamentos de propriedade e alugados por um ministro sênior da igreja e
membros da família, eles dizem.
Ross Eisenbrey, do Instituto de Política Econômica, de Washington,
D.C., acha que o tanque se concentra nos problemas trabalhistas, disse
que as propriedades alugadas são "empreendimentos com fins lucrativos
para os quais os imigrantes não poderiam ser voluntários" segundo a Lei
de Normas de Trabalho Justo.
Alguns dos entrevistados disseram que eram atraídos para os EUA em
parte por promessas de conseguir fazer faculdade, mas não conseguiam
estudar ou ir às aulas devido aos horários da punição com trabalho.
Os congregantes antigos dizem que mais brasileiros vieram com vistos de
turista, e várias centenas de adolescentes permaneceram por longos
períodos.