PGR pressiona Eduardo
Cunha a entregar aliados
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Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é ex-deputado e ex-presidente da Câmara Federal Foto: Divulgação
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O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no Paraná desde outubro
do ano passado, enfrenta dificuldades para avançar na negociação de um
acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República.
Segundo
envolvidos nas tratativas, os investigadores insistem para que ele
entregue supostos fatos ilícitos envolvendo aliados, como os deputados
do centrão -bloco político que ajudou Cunha a se eleger presidente da
Câmara em 2015 e que foi determinante para o impeachment de Dilma
Rousseff.
Além disso, querem que ele apresente informações sobre
conta ou um trust em paraíso fiscal que possa ter ligação direta com o
presidente Michel Temer. Até o momento, porém, pessoas ligadas ao
ex-deputado afirmam que ele não cedeu em relação a aliados e que não tem
dados de conta que leve a Temer.
Desde que começou a negociar um
acordo, há cerca de dois meses, Cunha vem focando em temas espinhosos
para seis inimigos e tenta reduzir danos em relação a quem o apoiou.
Segundo a reportagem apurou, ele descreve um sistema piramidal em que
Temer aparece no topo, como o chefe da organização. Abaixo, estariam o
próprio Cunha e o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco.
O
presidente também está entre os atores, segundo a versão de Cunha, que
trabalharam a favor de empresas na Medida Provisória dos Portos, que
eliminou em 2013 a vantagem de importadores que usavam portos em Estados
que concediam benefício fiscal, como Espírito Santo, Santa Catarina e
Ceará.
OASEntre a série de fatos
envolvendo supostos pagamentos de propina a Moreira Franco está a
atuação dele em favor da OAS na área de concessões de aeroportos quando
foi ministro da Secretaria de Aviação Civil, de 2013 a 2015.
O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aparece no relato de Cunha
como beneficiário de recursos ilícitos para trabalhar na aprovação de
uma medida provisória para atender empresas. Segundo a investigação da
Polícia Federal, Maia apresentou emenda à MP 652, que contemplava os
interesses da OAS em aeroportos.
Conversas extraídas do celular
de Léo Pinheiro, sócio da empresa, mostram que Maia teria avisado o
empreiteiro da edição de uma medida provisória sobre o setor.
Delatores
que entregaram informações sobre Cunha se tornaram alvos do político na
proposta de delação, como o lobista e ex-consultor da Toyo Setal Júlio
Camargo. Em junho de 2015, segundo Camargo, Cunha o pressionou a pagar a
ele US$ 5 milhões de propina para que um contrato de navios-sonda da
Petrobras fosse viabilizado.
Atenção EspecialSobre
a J&F, que detalhou pagamentos de propina a Cunha, inclusive após
ele ser preso, o peemedebista tem dedicado atenção especial. Ele quer
mostrar que Joesley Batista, delator e sócio do grupo, mentiu em
diversas situações. Uma delas, segundo pessoas ligadas ao político,
seria sobre o pagamento de R$ 30 milhões para a campanha que o elegeu
presidente da Câmara. Joesley relatou que o dinheiro, usado para comprar
apoio de deputados, foi repassado por meio de doação oficial, em
espécie e por meio de pagamentos com notas frias.
Cunha, porém,
contesta a versão e pretende relatar que os recursos foram repassados
diretamente da J&F para os políticos por meio de um operador.
Outra
empresa que aparece no cardápio é a Hypermarcas. Ela teria pago,
segundo o ex-deputado, propina para políticos atuarem em medidas
provisórias que a favoreceram.
Outro lado O
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), negou que tenha recebido
vantagens indevidas relatadas pelo ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Disse
ainda que nunca tratou com ele de doações ou medidas provisórias e que
"Cunha não pode utilizar uma delação simplesmente para atacar as
pessoas".
O Planalto não quis se manifestar sobre as citações
envolvendo o presidente Michel Temer. A assessoria do secretário-geral
Moreira Franco informou que "ele não se posiciona sobre suposições".
O
advogado de Júlio Camargo, Figueiredo Basto, disse que não conhece a
delação de Cunha e que não falará sobre "boatos". A J&F disse, via
assessoria, que os colaboradores da empresa já apresentaram informações e
documentos à Procuradoria-Geral da República e continuam à disposição
para cooperar com a Justiça.
A Hypermarcas afirmou que não se
beneficiou de quaisquer atos praticados pelo delator e ex-funcionário da
empresa Nelson Mello. Disse também que ele "autorizou, por iniciativa
própria, despesas sem as devidas comprovações das prestações de
serviços".
FONTE: FOLHAPRESS