Transgênicos: uma tecnologia em constante disputa
O termo “transgênico” é disputado. Costuma ficar no meio de uma briga que opõe, principalmente, ambientalistas e agronegócio. De um lado, os transgênicos são vistos como um vilão, e, de outro, de forma bem literal, como a salvação da lavoura. O fato é que, desde que a tecnologia de modificação genética de espécies tornou-se comum, nos anos 1970, os transgênicos entraram no cotidiano das pessoas, seja pela comida, seja pela medicina.
Nesse contexto, o Brasil tornou-se um dos mais importantes produtores de transgênicos no mundo todo. Em 2016, o país liderou o crescimento do cultivo de espécies geneticamente modificadas, aumentando em 11% sua área plantada com transgênicos. A discussão sobre a eficácia e a segurança desses produtos continua e é objeto de estudos científicos e debates no Congresso Nacional.
O QUE são transgênicos
Há uma confusão comum entre transgênicos e OGM (organismos geneticamente modificados). Os dois termos são usados, com frequência, como intercambiáveis, mas não significam a mesma coisa.
Isso porque, além de transgênico, um OGM pode ser cisgênico. Ou seja: todo transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é um transgênico.
Um OGM é, portanto, uma categoria ampla. Segundo a lei brasileira, é definido como um ser vivo que teve seu material genético modificado artificialmente. A especificidade do transgênico é que ele é um ser vivo que teve introduzido em seu genoma um material de outro ser vivo diferente, de outra espécie, não compatível sexualmente. É o caso, por exemplo, de bactérias que recebem genes humanos para produzir insulina, depois usada como medicamento por diabéticos.
Um cisgênico, por sua vez, é um ser vivo que tem seu material genético alterado com a introdução de genes de espécies que podem ser cruzadas naturalmente. É o caso de batatas que recebem de outras espécies de batatas selvagens um gene resistente a um tipo de fungo.
Na década de 1970, o melhoramento genético deu um grande salto, com a criação da tecnologia do DNA recombinante Os transgênicos são muito usados na medicina, com drogas criadas pela indústria farmacêutica. Mas é principalmente o uso da tecnologia na agricultura, com a alteração do código genético de sementes de alimentos como milho e soja, para que sejam mais resistentes a pragas e herbicidas, o que torna os transgênicos mais presentes no cotidiano das pessoas e gera mais discussão no mundo todo.
Os transgênicos mais comuns são os do tipo Bt, referência à bactéria Bacillus thuringiensis, e aqueles que são tolerantes a herbicidas.
O milho Bt, por exemplo, tem um gene da Bacillus thuringiensis responsável pela produção de proteínas tóxicas a insetos. Já a soja RR, por exemplo, tem em seu genoma trecho do DNA de uma bactéria que a faz resistente ao glifosato — assim, é possível aplicar o pesticida, matar as ervas daninhas e preservar a soja intacta.
QUANDO os transgênicos surgiram
A ideia de melhoramento genético das espécies, notadamente das espécies alimentícias, é bem antiga. Ela está relacionada com o próprio nascimento da agricultura, há pelo menos 10 mil anos. A domesticação das plantas e a prática de seleção e hibridação, que foram gerando variedades cada vez mais produtivas e resistentes de alimentos como o trigo, arroz ou cevada, aconteceram antes mesmo que a ciência definisse o que são e do que são feitos os genes.
Ao longo do tempo, as técnicas de cruzamento de espécies foram sendo aprimoradas, em função de necessidades produtivas, especialmente a partir do século 19 e no começo do século 20. Na década de 1970, então, o melhoramento genético deu um grande salto, com a criação da tecnologia do DNA recombinante. A partir dela, foi possível, enfim, produzir os primeiros transgênicos, isto é: inserir trechos de DNA de uma espécie no genoma de outra espécie sexualmente não compatível. Começou a era da biotecnologia.
Cronologia
Em 1972, o cientista americano Paul Berg manipulou e combinou o material genético de vírus e bactérias
Em 1973, os pesquisadores Stanley Cohen e Hebert Boyer, também americanos, desenvolveram ainda mais as técnicas apresentadas por Berg e conseguiram inserir genes resistentes a antibióticos em uma bactéria, ou mesmo inserir genes de um tipo de rã em bactérias
Em 1978, Boyer, que fundou a empresa Genetech, conseguiu fazer com que uma bactéria, a partir da introdução de DNA humano em seu genoma, produzisse insulina, hormônio fundamental na regulação do nosso metabolismo
Já entre 1982 e 1983, foram criados os primeiros vegetais transgênicos: plantas de tabaco resistentes a herbicidas, nos Estados Unidos e na França
Os primeiros testes em campo desses vegetais ocorreu em 1986
Em 1992, a China foi o primeiro país a permitir o comércio de plantas transgênicas —uma espécie de tabaco resistente a vírus
E, por fim, 1994, os Estados Unidos autorizaram a entrada no mercado do primeiro alimento transgênico: um tipo de tomate chamado FlavrSavr, que demorava mais tempo para estragar
No Brasil, os transgênicos chegaram ao mercado em 1998, quando o cultivo da soja Roundup Ready, criada pela Monsanto para resistir ao herbicida Roundup, que ela mesmo produz, foi autorizado pelo governo.
Nexo Jornal
| HOMEM EM LAVOURA DE SOJA EM BARREIRAS, NA BAHIA. BRASIL É O SEGUNDO MAIOR PRODUTOR DE TRANSGÊNICO NO MUNDO |
O termo “transgênico” é disputado. Costuma ficar no meio de uma briga que opõe, principalmente, ambientalistas e agronegócio. De um lado, os transgênicos são vistos como um vilão, e, de outro, de forma bem literal, como a salvação da lavoura. O fato é que, desde que a tecnologia de modificação genética de espécies tornou-se comum, nos anos 1970, os transgênicos entraram no cotidiano das pessoas, seja pela comida, seja pela medicina.
Nesse contexto, o Brasil tornou-se um dos mais importantes produtores de transgênicos no mundo todo. Em 2016, o país liderou o crescimento do cultivo de espécies geneticamente modificadas, aumentando em 11% sua área plantada com transgênicos. A discussão sobre a eficácia e a segurança desses produtos continua e é objeto de estudos científicos e debates no Congresso Nacional.
O QUE são transgênicos
Há uma confusão comum entre transgênicos e OGM (organismos geneticamente modificados). Os dois termos são usados, com frequência, como intercambiáveis, mas não significam a mesma coisa.
Isso porque, além de transgênico, um OGM pode ser cisgênico. Ou seja: todo transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é um transgênico.
Um OGM é, portanto, uma categoria ampla. Segundo a lei brasileira, é definido como um ser vivo que teve seu material genético modificado artificialmente. A especificidade do transgênico é que ele é um ser vivo que teve introduzido em seu genoma um material de outro ser vivo diferente, de outra espécie, não compatível sexualmente. É o caso, por exemplo, de bactérias que recebem genes humanos para produzir insulina, depois usada como medicamento por diabéticos.
Um cisgênico, por sua vez, é um ser vivo que tem seu material genético alterado com a introdução de genes de espécies que podem ser cruzadas naturalmente. É o caso de batatas que recebem de outras espécies de batatas selvagens um gene resistente a um tipo de fungo.
Na década de 1970, o melhoramento genético deu um grande salto, com a criação da tecnologia do DNA recombinante Os transgênicos são muito usados na medicina, com drogas criadas pela indústria farmacêutica. Mas é principalmente o uso da tecnologia na agricultura, com a alteração do código genético de sementes de alimentos como milho e soja, para que sejam mais resistentes a pragas e herbicidas, o que torna os transgênicos mais presentes no cotidiano das pessoas e gera mais discussão no mundo todo.
Os transgênicos mais comuns são os do tipo Bt, referência à bactéria Bacillus thuringiensis, e aqueles que são tolerantes a herbicidas.
O milho Bt, por exemplo, tem um gene da Bacillus thuringiensis responsável pela produção de proteínas tóxicas a insetos. Já a soja RR, por exemplo, tem em seu genoma trecho do DNA de uma bactéria que a faz resistente ao glifosato — assim, é possível aplicar o pesticida, matar as ervas daninhas e preservar a soja intacta.
QUANDO os transgênicos surgiram
A ideia de melhoramento genético das espécies, notadamente das espécies alimentícias, é bem antiga. Ela está relacionada com o próprio nascimento da agricultura, há pelo menos 10 mil anos. A domesticação das plantas e a prática de seleção e hibridação, que foram gerando variedades cada vez mais produtivas e resistentes de alimentos como o trigo, arroz ou cevada, aconteceram antes mesmo que a ciência definisse o que são e do que são feitos os genes.
Ao longo do tempo, as técnicas de cruzamento de espécies foram sendo aprimoradas, em função de necessidades produtivas, especialmente a partir do século 19 e no começo do século 20. Na década de 1970, então, o melhoramento genético deu um grande salto, com a criação da tecnologia do DNA recombinante. A partir dela, foi possível, enfim, produzir os primeiros transgênicos, isto é: inserir trechos de DNA de uma espécie no genoma de outra espécie sexualmente não compatível. Começou a era da biotecnologia.
Cronologia
Em 1972, o cientista americano Paul Berg manipulou e combinou o material genético de vírus e bactérias
Em 1973, os pesquisadores Stanley Cohen e Hebert Boyer, também americanos, desenvolveram ainda mais as técnicas apresentadas por Berg e conseguiram inserir genes resistentes a antibióticos em uma bactéria, ou mesmo inserir genes de um tipo de rã em bactérias
Em 1978, Boyer, que fundou a empresa Genetech, conseguiu fazer com que uma bactéria, a partir da introdução de DNA humano em seu genoma, produzisse insulina, hormônio fundamental na regulação do nosso metabolismo
Já entre 1982 e 1983, foram criados os primeiros vegetais transgênicos: plantas de tabaco resistentes a herbicidas, nos Estados Unidos e na França
Os primeiros testes em campo desses vegetais ocorreu em 1986
Em 1992, a China foi o primeiro país a permitir o comércio de plantas transgênicas —uma espécie de tabaco resistente a vírus
E, por fim, 1994, os Estados Unidos autorizaram a entrada no mercado do primeiro alimento transgênico: um tipo de tomate chamado FlavrSavr, que demorava mais tempo para estragar
No Brasil, os transgênicos chegaram ao mercado em 1998, quando o cultivo da soja Roundup Ready, criada pela Monsanto para resistir ao herbicida Roundup, que ela mesmo produz, foi autorizado pelo governo.
Nexo Jornal
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