sábado, 9 de novembro de 2013

Brasiliense que cresceu com a capital narra a infância em superquadra

Livro conta aventuras de crianças que moravam na 306 Norte


Os finais de semana e bailes de carnaval no Rocha (Clube de Subtenentes e Sargentos do Exército) são inesquecíveis para "galera da 306" que ainda se reúne no local até hojeArquivo Pessoal
Os amigos de Wagner e protagonistas do livro "Superquadra 306 Norte coletânea de contos mínimos" prestigiaram o lançamento da obraArquivo Pessoal
Inspirado na infância vivida na superquadra 306 Norte entre os anos 70 e 90, o professor de matemática Wagner Lemos, 42 anos, lançou o livro “Superquadra 306 Norte, coletânea de contos mínimos”. Na obra, Lemos narra em 42 contos as peripécias e estripulias vividas na quadra com a “galera da 306”.
As aventuras têm como cenário a cidade de Brasília, em plena construção, numa época em que dava para contar os carros que passavam pelo Eixo Monumental. No livro, as aventuras vividas entre amigos dos mais diversos lugares são resgatadas e contadas por um personagem chamado Wandinho, alter ego de Wagner, que narra as aventuras mais emocionantes dos então jovens habitantes, que cresciam junto com a cidade.  
Wagner Lemos nasceu no Rio de Janeiro e veio para Brasília com a família no ano de 1971, aos seis meses de idade. Como muitos 'candangos' veio para acompanhar seu pai militar, designado para trabalhar no antigo Ministério da Guerra, hoje Ministério do Exército. Na época, a SQN (Superquadra Norte) era uma acomodação de militares não oficiais como cabos, tenentes e sargentos. E por isso acolhia famílias de diferentes lugares do Brasil.  
Segundo ele, a diversidade cultural era um fator que fortalecia a amizade do grupo, pois de certa forma, todos sentiam falta da família e o sentimento de ser brasileiro os unia.  
— O fato das pessoas serem das mais diversas regiões, despertava uma curiosidade em nós. Às vezes saia um “uai, tchê” e nós caíamos na risada.   
A amizade do grupo resistiu ao tempo e à distancia e hoje mesmo depois de décadas, o grupo continua a se encontrar todo os anos para relembrar as histórias, que como eles sempre diziam, “dariam um livro”.  
Wagner conta que a ideia de colocar tudo no papel foi coletiva e surgiu em uma das confraternizações anuais do grupo de amigos.  
— Eu já tinha o projeto de escrever um livro, mas não, necessariamente, sobre a quadra, mas ao pensar sobre um tema só o que me vinha na cabeça era Brasília ao fundo. Parece que toda minha vida estava entrelaçada a esta cidade.  
Após duas semanas do encontro, ele lembra que já havia escrito 75 páginas. Para o professor, a memória boa o ajudou a resgatar os detalhes das histórias, repletas de apelidos, nomes e datas.  
— À medida que as histórias ressurgiam eu colocava no papel, sem me preocupar com erros ortográficos. Pode-se dizer que todas as histórias são verídicas e quase todos os personagens, existem, alguns têm um apelido fictício apenas para preservar a imagem de quem não tenho mais contato.  
Em 1982, Wagner deixou a 306 para morar na 103 Norte, quando o pai foi promovido à oficial. Mesmo não morando mais na 306, ele conta que continuou frequentando a antiga quadra e não se adpatou muito ao novo lugar. Mas foi nessa mudança que acabou conhecendo a sua atual esposa, Gisele Cristina Havrecha, 39 anos, que apesar de morar na 103, também fazia parte da molecada. Apesar de terem se conhecido na infância, o namoro só veio anos depois.
— Eu já estava na faculdade e ela no segundo grau quando a gente se reencontrou em um show no Parque da Cidade. Começamos a namorar em 1992 e nos casamos cinco anos depois. 
Segundo eles, seus melhores amigos ainda são os da 306 Norte.   
— O Euclipedes, que no livro recebe o nome de Abigail é padrinho do meu filho e um dos meus melhores amigos. Hoje nós criamos nossos filhos juntos, passando a amizade para as próximas gerações.   
Wagner se mudou da Asa Norte em 1988 e hoje mora em Valparaíso, distante da quadra 306, mas conta que o seu coração nunca saiu dali. Ele revela que é comum levar os seus filhos Pedro e Júlia de 11 e 8 anos, para passearem por lá e contar as suas estripulias. Cada um ganhou um livro com dedicatória do pai, mas Gisele confessa que o que eles gostam mesmo é de ouvir as aventuras.  
Segundo ele, ao passar pela quadra, ainda há crianças brincando por ali, mas os tempos são outros.  
— As famílias eram bem maiores e as gerações de amigos iam crescendo junto. Na época, nada favorecia ficar em casa, como não existia vídeo games, celulares e computador, tudo te convidada para rua.  
Gisele relembra que tinha até pena dos porteiros por que as crianças quebravam tudo, durante as brincadeiras.  
— O que foi de vidro quebrado não está no gibi. Hoje tudo é bem organizado por lá.  
Wagner lembra que não se falava em homofobia ou bullying e os apelidos eram sempre motivo de risada. "Quando alguém não gostava de um apelido, aí que nós insistíamos mais, mas tudo era levado na brincadeira", relata.
Ele conta que, ainda hoje, a galera continua a se encontrar, sempre quando pode, e para uma confraternização de fim de ano, quando a turma que mora fora de Brasília e até do país se reúne.
O livro “Superquadra 306 Norte, coletânea de contos mínimos” foi lançado em 13 de julho está a venda em várias livrarias da cidade. A primeira tiragem, de 200 livros, esgotou em uma semana.  
FONTE: R7 DF

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