Artistas do DF se mobilizam contra transferência de museu para União
Projeto que regulamenta a federalização já foi enviado à CLDF
A proposta do GDF (Governo do Distrito Federal) de transferir a gestão do Museu da República Honestino Guimarães para o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) tem causado polêmica e contestação da classe artística de Brasília.
Um grupo no Facebook, que reúne mais de 4,7 mil integrantes, se manifesta contra a proposta do governo. Os opositores argumentam que a federalização do museu foi imposta pelo GDF sem consultar os envolvidos com a cena artística da cidade.
A especialista em gestão cultural e integrante do colegiado setorial de cultura, criado pelo próprio GDF, Cleide Soares, diz que o assunto nunca foi tratado nas reuniões junto ao governo.
— É uma atitude autoritária que mostra o descaso em relação à cultura. Estão querendo transferir para a União o único espaço que nós temos. Brasília tem artistas contemporâneos reconhecidos internacionalmente, então precisamos gerir nossos próprios espaços de exposição.
Cleide também lembrou que o museu foi construído “exclusivamente com recursos do GDF”, como está expresso no site da Secretaria de Cultura. Para reforçar a oposição ao projeto, um abaixo assinado colheu 1.043 assinaturas de pessoas que não concordam com a federalização.
A especialista afirmou ainda que artistas se mobilizarão na próximas semanas para tentar barrar a aprovação do Projeto de Lei 1693/2013, que foi enviado pelo governador Agnelo Queiroz à CLDF (Câmara Legislativa do Distrito Federal), que transfere a gestão do museu para a União.
A justificativa do governo federal é democratizar o acesso a obras que estão abrigadas em órgãos públicos federais de grandes artistas como Portinari, Di Cavalcanti, Anita Malfati, Tarsila, Volpi, Ianeli, entre outros.
No entanto, Cleide Soares diz que o museu não tem perfil de abrigar acervo de exposição permanente e cita que o local tem o segundo maior público do Brasil. Nos últimos dois anos, 1,3 milhão de pessoas passaram pelo local, em 52 exposições montadas no local.
— Então se tiver a mesma exposição permanente, a gente visita uma vez e vai voltar lá para quê? O museu não é um espaço abandonado, temos exposições de muita qualidade e mais de 1,8 mil obras.
De acordo com a Secretaria de Cultura do DF, a proposta de transferência partiu do Governo Federal e foi um pedido da presidente Dilma Rousseff.
Os artistas brasilienses dizem que a federalização está sendo proposta para viabilizar intenção da ministra da Cultura Marta Suplicy de fechar parceria com o museu de Londres V&A (Victoria & Albert Museum) para realizar um ciclo de exposições e debates, a serem realizados conjuntamente pelo V&A e o Museu Nacional da República, entre a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
A presidente da Comissão de Cultura da Câmara Legislativa do DF, Liliane Roriz (PRTB), vai propor a convocação do secretário de Cultura do GDF, Hamilton Pereira da Silva, para que ele preste esclarecimentos sobre a transferência do museu para a União. Projeto de lei de autoria do Executivo tramita em regime de urgência na Casa. A deputada será relatora da proposta.
— Qualquer governante teria orgulho em ter um espaço como o Museu da República sob sua tutela e o que o GDF faz é querer entregar o nosso patrimônio para a União.
Em junho deste ano, a distrital recorreu à Justiça contra a primeira tentativa do GDF para federalizar o museu. Na época, o governador Agnelo Queiroz chegou a marcar um ato oficial com a ministra Marta Suplicy para assinar um convênio para a transferência. No entanto, segundo a distrital, Agnelo cancelou o evento para evitar questionamentos jurídicos no futuro.
Procurada pelo R7 DF, assessoria de comunicação da Secretaria de Cultura informou que o GDF gasta, anualmente, cerca de R$ 1 milhão com folha de pagamento dos servidores e manutenção da estrutura do museu.
Ainda segundo a assessoria, a discussão sobre a federalização será aberta para a sociedade, “a partir de todas as representações”, na Câmara Legislativa.
FONTE: R7 DF
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