Fraude no DFTrans pode ter influenciado verba de empresas e alta nas passagens
Buriti usa dados do sistema de bilhetagem para calcular a tarifa técnica, que embasa o pagamento às empresas. Fraude pode ter afetado 1 milhão de cadastros; investigação está em andamento.
Os cálculos que embasaram o reajuste das passagens de ônibus e metrô do Distrito Federal – e que definem o repasse mensal do governo às empresas – podem ter sido baseados em dados fraudados, aponta sindicância do DFTrans. O órgão, responsável pela gestão do transporte público do DF, investiga uma fraude que pode ter adulterado mais de 1 milhão de cadastros.
Essas informações supostamente adulteradas entram no cálculo da tarifa técnica, que é a estimativa do "valor real" de cada passagem. A diferença entre esse valor e o preço praticado na catraca (chamado de tarifa usuário) é complementada pelo governo, que repassa cifras milionárias às empresas, mensalmente.
A investigação da possível fraude está em andamento no DFTrans, na Controladoria-Geral do DF e na Polícia Civil, e foi divulgada com exclusividade pelo G1 nesta semana. Com a adulteração no registro de compra e venda de passagens, o governo pode ter "perdido a conta" do número de passageiros – e, com isso, as bases para calcular o custo real do transporte público.
Segundo a diligência feita pelo DFTrans, as fraudes podem ter atingido vários tipos de cadastros no sistema de bilhetagem, incluindo usuários do Passe Livre Estudantil, do vale-transporte e dos cartões magnéticos do Metrô. O primeiro grupo, segundo documento da Secretaria de Mobilidade, tem impacto decisivo no cálculo das tarifas.
"O valor da tarifa é obtido dividindo-se o custo operacional (custo/Km) pela quantidade de passageiros pagantes (IPK), ambos por quilômetro", diz o texto.
O G1 repetiu a pergunta diversas vezes desde a última semana, mas o DFTrans não informou detalhes sobre o tamanho das fraudes e o possível dano econômico em apuração. Em nota, o órgão limitou-se a dizer que "houve uma não conformidade" no cadastro de uma escola, que teria apresentado declarações falsas.
Investigação
No processo interno ao qual o G1 teve acesso, o servidor responsável pela investigação adverte que “dados da aplicação tem sido alterados para mascarar irregularidades e imputar responsabilidade a quem não cometeu ato irregular”.
Ainda de acordo com a sindicância, o sistema de bilhetagem estaria tão “corrompido”, que o cadastro de uma empresa foi feito em um intervalo de tempo impraticável, de apenas 120 milésimos de segundos.