domingo, 2 de julho de 2017

DF

 Várias áreas nobres de Brasília 

estão sob o risco de favelização




 
Júlia*, 24 anos, chega a passar 15 dias em uma área de cerrado no Noroeste, vivendo em um barraco feito de lona e tábuas, sob uma árvore, cercada por papelão, ferro fundido, arames, galões de água e sacos com latas de alumínio. Tira o sustento do material reciclado enquanto a filha, de 2 anos, caminha entre o lixo. Apesar dessas condições, ela tem um apartamento conquistado por meio de programas habitacionais do Governo do Distrito Federal. E lamenta a falta de um galpão de reciclagem que deveria ser construído no Paranoá. “Para conseguirmos pagar as contas e não perder a moradia, temos de trabalhar. A única saída é ficar aqui. O governo não pode saber ou perdemos o benefício, mas não tenho como ficar em casa, e a minha filha não ficará longe de mim”, afirma.


A jovem faz parte dos cerca de 2,8 mil catadores de materiais recicláveis do DF, segundo a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh). Ela e os vizinhos, que moram nos arredores de um bairro nobre da capital federal, integram outra estatística da Secretaria: estão entre os 3 mil em situação de rua de Brasília. A interseção entre os grupos acontece justamente quando os catadores precisam deixar seus endereços para viver em pequenas favelas móveis, onde é mais fácil encontrar rejeitos para serem vendidos a empresas de reciclagem. O ganho mensal varia, mas, geralmente, não chega a um salário mínimo após jornada de quase 14 horas diárias.

Outra catadora, que se identificou apenas como Neire, 40, conta que paga R$ 350 de aluguel em Samambaia, mas passa a maior parte dos dias em um barraco no mesmo local em que fica Júlia. “Fazemos fogão de lenha e cada um cozinha sua comida. Puxo o que eles chamam de carrinho de peito e, em um mês bom, tiro até R$ 600. Os fiscais pedem para mantermos o local limpo e organizado. Quando vão derrubar, avisam e retiramos os nossos pertences. Depois que eles vão embora, voltamos novamente”, admite. Na poligonal do Noroeste, há pelo menos três assentamentos, dois no Parque Burle Marx e outro em uma área de proteção ambiental, entre o bairro e a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia).

Fonte: CB

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