Ciência: uma forma de
transformar o mundo
Para dividir um pouco da paixão pela ciência, o professor do curso de Física da UCB, Diego Nolasco, falou sobre sua ligação com a área e a relevância do desenvolvimento do pensamento científico.
Para dividir um pouco da paixão pela ciência, o professor do curso de Física da UCB, Diego Nolasco, falou sobre sua ligação com a área e a relevância do desenvolvimento do pensamento científico.
No dia 8 de julho é comemorado o Dia Nacional da Ciência, estabelecido para incentivar a atividade científica no país. Para marcar a data, o professor do curso de Física da Universidade Católica de Brasília (UCB), Diego Nolasco, falou durante entrevista sobre como o desenvolvimento do pensamento científico influencia a visão de mundo, além de dividir um pouco da sua paixão, atuação e constante formação na área.
Qual a importância de desenvolver o pensamento científico?
Quando pensamos como cientistas, deixamos de basear nossas opiniões em
crenças e buscamos fundamentação em evidências. Paramos de escolher com
base em suposições e damos início a um processo de seleção baseado em
dados. Essa é a grande importância do pensamento científico, é, sem
qualquer dúvida, uma das grandes contribuições que o cientista tem a
oferecer à sociedade
O que podemos aplicar no nosso dia a dia?
O pensamento científico não promove apenas benefícios particulares, pois é
dele que brotam os pensamentos que acarretam no desenvolvimento de
processos de inovação, o que tem potencial para mudar não somente as nossas
realidades individuais, mas também a cultura de empresas e até países. A
abrangência do pensamento científico tem o poder de transpor os muros da
academia e promover as mudanças que nos levarão ao sonhado progresso.
Quando você pensa como um cientista, você não melhora apenas o seu
entendimento sobre o universo. Ser cientificamente educado não significa
ser cientista, mas sim entender que há uma ordem no Universo e que a mente
humana é capaz de compreender essa ordem. Quando nos educamos
cientificamente, nós nos vacinamos contra o charlatanismo, nos protegemos
dos “donos da verdade” que estão à nossa volta. O proveito que podemos
tirar das práticas e ideias decorrentes do pensamento científico é muito
maior do que a nossa sociedade acredita que é.
Qual a importância de incentivar ainda na infância a relevância da ciência
no mundo?
Nós nascemos cientistas. Toda criança carrega, desde muito cedo, uma
característica essencial ao bom cientista, a curiosidade. Assim, acredito
que o mais importante não seja incentivar crianças a fazerem ciência, basta
não podar ou censurar comportamentos inquisitivos, exploratórios. Minhas
maiores críticas com relação à educação dos cientistas do futuro estão
ligadas ao gerenciamento dos “por quês” e às políticas das roupas limpas.
Sempre que uma criança me pergunta um “por quê”, eu trabalho no interesse
de mostrar a importância da pesquisa, evito de maneira incisiva a oferta de
respostas sem pesquisa. Assim, mostro que o conhecimento não vem da cabeça
de algum gênio, ele pode ser proveniente de uma fonte, da observação e da
experimentação. E por falar em experimentação, criança que não se suja não
experimenta o mundo da melhor forma. Eu incentivo a experimentação, mesmo
que isso custe shorts cheios de barro, blusas rasgadas ou um par tênis
molhado. Não há nada como experimentar.
Muitas pessoas possuem uma resistência quando se trata de ciência, como
fazer para mudar esse cenário?
No geral, pessoas acreditam que ciência se resume a decorar fórmulas e
fazer cálculos complicados, misturar líquidos que explodem e decorar a
tabela periódica, ou ainda, extrair venenos de bichos peçonhentos e
promover testes em pobres animaizinhos que terão um fim trágico. Essa foi
uma concepção construída pelo cinema, que propõe um estereótipo
depreciativo para o cientista. Eu sou cientista e adoro esportes, já saltei
de paraquedas e escalei na rocha. Tenho família e gosto de pizza nas
noites de sexta-feira. Enfim, sou apenas mais um na multidão. Não faço
ciência porque sou diferente ou mais importante do que outras pessoas. Já
tirei notas baixas e, como boa parte de quem estuda as exatas, reprovei a
disciplina de Cálculo I. Gosto de dizer que sei o que sei por esforço, não
por genialidade. Aliás, não acredito em genialidade inata. Penso que o
melhor que podemos fazer enquanto educadores, é mostrar aos interessados em
ciência que ninguém precisa ter conhecimentos prévios sensacionais. A
ciência tem o poder de fazer você se comprometer com o desenvolvimento
intelectual, e não exige que você já seja o suprassumo do conhecimento
mundial. Fazer ciência é, definitivamente, pra quem quer e tem vontade. Na
ciência, é importante que não sejamos vaidosos e que busquemos crescimento
dia após dia.
O que faz para colaborar com essa mudança e com o crescimento da área?*
Eu costumo me colocar em pé de igualdade com os meus alunos. Sempre
trabalho no intuito de mostrar a eles as minhas dificuldades. Mostro as
aulas que preparo, provando que aquele conhecimento não estava estocado na
minha mente desde que nasci. Eu gosto que me vejam como um ser humano como
qualquer outro, que precisa se esforçar para atingir patamares superiores
em alguns poucos tópicos. Dessa maneira, acredito que inspiro meus alunos a
se comprometerem com o seu desenvolvimento, ao invés de acreditarem em sua
genialidade. No meu entendimento, genialidade é resultado de esforço. Todos
podemos ser gênios, bastando apenas que nos esforcemos o suficiente (e um
pouquinho mais).
Quando se descobriu cientista?
Eu nunca me descobri cientista, eu venho me construindo cientista. Existe
uma falácia que nos faz acreditar que pessoas nascem predestinadas a seguir
esta ou aquela jornada. Para mim, a vida sempre foi e será o resultado de
escolhas. Se você tem um sonho e acredita que a realização deste sonho vai
te fazer feliz, é necessário determinar qual será o processo para a
realização do seu sonho. O processo para a realização do meu sonho consiste
em exercer com excelência a minha função de cientista. E eu não falo apenas
do meu trabalho no laboratório, preciso ser um educador de excelência.
Acredito muito que a minha missão é uma escolha. Eu escolhi ser quem sou e
isso me empodera porque me dá plena consciência de que eu não sou fruto do
acaso, sou resultado de um processo.
Como foi seu desenvolvimento nessa área?
Essa é a palavra-chave: desenvolvimento. Meu ensino médio consistiu de um
curso técnico em contabilidade, de forma que eu tive aulas de Física apenas
durante um ano. Ao chegar aqui na Católica como estudante, me vi cercado de
oportunidades de desenvolvimento. Passei por diversas etapas aqui na UCB,
mas em todas elas eu tive o suporte e a orientação de professores
competentíssimos. Sempre me senti parte da família aqui na UCB. Fui
evoluindo conforme o curso ia acontecendo, até que me formei um licenciado
em Física pela Instituição. Nessa época eu era professor em cursinhos
pré-vestibulares do DF, mas queria mais. Eu queria ser professor na UCB. Só
que para ser professor na UCB você precisa ter mestrado e doutorado. Fiz
minhas malas e parti para uma temporada de seis anos na UNESP de São José
do Rio Preto, onde defendi o mestrado e o doutorado, e ainda conheci a
minha esposa, que também é cientista. Minha última grande investida na
minha formação foi um pós-doutorado no famoso Massachusetts Institute of
Technology, o MIT nos Estados Unidos. Passei uma temporada transformadora
por lá, em que respirava ciência o tempo inteiro. Voltei de lá inspirado a
implementar uma cultura de valorização da ciência no meu país. Vi de perto
o poder transformador que tem a educação científica.
Qual recado daria para os jovens sobre ciência?
Investiguem! Se esforcem para entender o que acontece à sua volta. Não
aceitem verdades oferecidas por outros. Desenvolvam metodologias que
facilitem a compreensão das situações vividas diariamente. Compartilhem
suas visões sobre o Universo com quem está perto. E ponham em prática tudo
aquilo que se provar valioso, após devida verificação, experimentação e
validação. Façam isso em casa, na escola, no shopping. Façam isso o tempo
todo. Assim, vocês se tornarão referência, construirão autoridade, serão
reconhecidos como pessoas preocupadas com a verdade, e não com o
sensacionalismo que nos rodeia. Ciência é sinônimo de conhecimento, e ter
conhecimento é bom, deve ter o devido valor. Meu maior recado, que é quase
um pedido: comprometam-se com a construção não somente de um futuro
diferente, mas também muito melhor. Façam ciência!
Foto:Faiara Assis
Fonte: Imprensa UCB
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