Hotel Torre Palace: 1 ano depois, GDF ainda busca recuperar gasto com desocupação
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O hotel abandonado Torre Palace, no centro de Brasília (Foto: Renato Araújo/Agência Brasília) |
Um ano após a megaoperação policial que retirou invasores do hotel Torre Palace,
no centro de Brasília, o governo do Distrito Federal ainda não
conseguiu recuperar os R$ 802,94 mil gastos com a desocupação. O
dinheiro seria cobrado dos proprietários do hotel abandonado na Justiça.
No entanto, um imbróglio burocrático faz com que o imóvel permaneça em
um “limbo jurídico”, sem sequer poder ser demolido.
A Procuradoria-Geral do DF já defendeu que os proprietários sejam condenados a derrubar o prédio em 60 dias.
Ainda assim, o processo segue parado porque a Justiça não conseguiu
localizar os herdeiros do hotel, que disputam a posse do terreno nos
tribunais. Por isso, eles ainda não foram intimados – ou seja,
oficialmente avisados do processo.
“Somente após a citação [notificação] é que será possível iniciar a
fase de discussão judicial sobre a possível demolição do prédio”,
informou a Procuradoria ao G1. Ainda segundo o órgão
responsável por toda a parte jurídica do governo, uma eventual derrubada
só aconteceria quando não couber mais recurso.
A restrição também impede o ressarcimento do gasto com a operação,
afirma o GDF. Para chegar ao valor de R$ 802,94 mil, o governo diz que
houve despesas com equipamentos, material e com o efetivo de segurança
mobilizado na operação, que durou mais de 96 horas. A “fatura” envolve
até o reparo de um helicóptero da Polícia Militar atingido durante a intervenção.
Caso de família
A disputa interna em torno do Torre Palace começou no início dos anos
2000. Com a morte do empresário libanês Jibran El-Hadj, a esposa e os
seis filhos herdaram o patrimônio, avaliado à época em R$ 200 milhões.
Eles acabaram entrando em desacordo sobre os rumos do estabelecimento.
Em 2007, três filhos do empresário saíram da sociedade e entraram na
Justiça pedindo parte da herança, com valor estimado de R$ 51 milhões. O
valor sairia da venda do Torre Palace para uma construtora. A empresa
adiantou R$ 17 milhões para os herdeiros que mantiveram a sociedade.
Contudo, antes da venda do prédio, a Justiça já havia penhorado o local.
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Manifestante do MRP subindo escadas sem proteção durante invasão, no ano passado (Foto: José Cruz/Agência Brasil) |
O advogado que representa uma parte dos herdeiros (três irmãos),
Antônio Alberto Cerqueira, disse que o trio está disposto a negociar e
encontrar uma solução. Segundo ele, todos os trâmites envolvendo o hotel
estão travados na Vara de Falências do DF.
“Os irmãos que perderam a ação criaram manobras para frear o processo, e
o juiz admitiu e suspendeu a ação. Foi a partir daí que houve a
invasão. A culpa tem sido da morosidade do Judiciário.” O G1 não conseguiu contato com a defesa do outro grupo de herdeiros.
Público x privado
Mesmo sem o Torre Palace ser área pública, o governo diz que precisou agir por envolver questões de competência do Estado.
Na época, a então secretária de Segurança, Márcia de Alencar, alegou
que o nível de insalubridade do ambiente gerava problema de saúde
pública.
Ela também frisou que os danos na estrutura do prédio e o fato de
manifestantes usarem crianças como escudo humano foram determinantes
para que o GDF optasse pela desocupação. “A natureza da operação passou a
ser questão de segurança pública, mas é um ambiente privado”, declarou
ao G1 na ocasião.
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O hotel Torre Palace, localizado em ponto central de Brasília (Foto: Renato Araújo/Agência Brasília) |
E agora?
O governo afirma que após a desocupação do Torre Palace, foram tomadas
medidas para evitar entrada de pessoas no local. Por exemplo, foram
lacrados o térreo e o primeiro andar da estrutura para impedir uma nova
ocupação.
Segundo a Secretaria de Segurança, policiais do 3º Batalhão da PM fazem
rondas constantes nas imediações do hotel. “Esse tipo de ação segue o
planejamento normal e diário do batalhão, fazendo a segurança de todo o
Setor Hoteleiro.”
Após a operação, foram identificadas 166 famílias que participaram da
ocupação – integrantes do Movimento Resistência Popular (MRP). “Deste
quantitativo, 97 famílias receberam benefícios, que somam R$ 405.920”,
afirma o GDF. As outras 69 famílias não foram contempladas com
benefícios.
“Destas, 14 encontram-se em acompanhamento sistemático, 22 recebem
acompanhamento eventual, e 33 famílias não tiveram nenhum atendimento
após a desocupação do Hotel Torre Palace, ou por não terem sido
localizadas, ou por recusarem atendimento.”
Do luxo ao lixo
Com 14 andares e 140 apartamentos, o Torre Palace foi inaugurado em
1973 e funcionou por 40 anos em um dos pontos mais valorizados da
cidade.
As janelas do edifício têm uma vista privilegiada do Congresso
Nacional, da Esplanada dos Ministérios, da Catedral Metropolitana, do
Museu da República, da Torre de TV e do estádio Mané Garrincha, todos
instalados no Eixo Monumental.
Ao ser desativado pelos donos em 2013, o Torre Palace acabou se
transformando em ponto de uso de drogas e convivência de moradores de
rua. Dentro do hotel, a destruição e o abandono tomaram conta dos
espaços. No entanto, segundo corretores e representantes imobiliários
ouvidos pelo G1, o lote onde persistem as ruínas pode valer até R$ 45 milhões.
Relembre a operação
A ação, que começou por volta das 6h30 do dia 5 de junho e levou 40
minutos, envolveu dois helicópteros e teve disparos de bala de borracha.
Bombas de efeito moral também foram jogadas para intimidar o grupo,
formado por 12 adultos, entre eles quatro mulheres, e quatro crianças.
Os invasores, ligados a movimentos sociais, revidaram com pedras,
tijolos e telhas. Eles chegaram a usar um fogão e um botijão de gás,
incendiando o alto do prédio.
Enquanto isso, policiais subiam pelas escadas retirando as barricadas
montadas pelos ocupantes, obrigando-os a subir até o topo do prédio,
onde acabaram detidos. Policiais usaram balas de borracha e uma pessoa
chegou a ser ferida no rosto.
Cerca de 200 homens do Batalhão de Choque (BPChoque) e do batalhão de
Operações Especiais (Bope) participaram da operação, que teve também o
auxílio do Corpo de Bombeiros.
Segundo a PM, os ocupantes se renderam às 7h07. As quatro crianças que
estavam no local foram as primeiras a serem retiradas. Elas foram
atendidas na ambulância do Corpo de Bombeiros que estava no local.
Apesar de assustadas, o estado de saúde delas era bom.
Os adultos foram levados ao Departamento de Polícia Especializada (DPE)
da Polícia Civil para serem autuados por crimes como tentativa de
homicídio, resistência e dano ao patrimônio.
Fonte: G1, DF
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