PM
ganha tablets e descontos
para reforçar segurança de
shopping no DF
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Policiais militares do DF fazem patrulhamento em rua (Foto: Andre Borges/Agência Brasília ) |
Um acordo entre o Shopping CasaPark, no Distrito Federal, e a Polícia
Militar garantiu benefícios a membros da corporação em troca de reforço
na segurança. Entre as vantagens, o centro comercial ofereceu dez
tablets e descontos de 50% em restaurantes. Segundo especialistas
ouvidos pelo G1, a prática configura crime de corrupção.
Em uma nota preliminar, a Polícia Militar informou que “a princípio,
não existe nenhuma irregularidade nas doações dos tablets". "No entanto,
o setor jurídico da PMDF irá analisar o amparo legal e as informações
serão repassadas o mais breve possível”, diz o comunicado.
O G1 insistiu
e, horas depois, a PM divulgou uma segunda nota oficial no início da
tarde desta sexta-feira (24). O informe diz que a doação dos
equipamentos ainda não foi feita (veja a versão da PM ao fim da reportagem).
O decreto distrital que regulamenta a matéria, no entanto, prevê que as
doações sejam feitas às secretarias de Fazenda e de Planejamento. O
documento do CasaPark dá a entender que o material seria doado
diretamente ao batalhão no Guará.
Procurado pelo G1,
o shopping disse que não passaria detalhes sobre a compra dos
equipamentos e nem sobre a reunião em que o acordo foi feito. Segundo a
assessoria do centro comercial, essas informações ficaram a cargo da
própria corporação. A Secretaria de Segurança Pública também foi
procurada mas não retornou o contato até o fechamento desta reportagem.
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Ofício do Shopping CasaPark que revela acordo com a Polícia Militar do DF (Foto: Reprodução) |
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Acordo suspeito
A informação sobre o acordo com os PMs consta em um comunicado interno
de 20 de março. No documento, os dirigentes do Shopping CasaPark dizem
aos lojistas que tomaram “a iniciativa de trazer para a intimidade” do
centro comercial “a convivência com os policiais militares”.
“Pontualmente, podemos citar duas medidas realizadas para aprimorar e
aproximar o nosso relacionamento com a corporação: doação de dez tablets
para o 4º batalhão e desconto de 50% nos restaurantes do CasaPark para
os Policiais Militares que estiverem fardados”, diz o comunicado.
O documento é assinado pelo superintendente do shopping Iran Valença.
Ele cita inclusive o nome do tenente coronel André Luiz, com quem,
segundo o comunicado, a administração do shopping estaria “mantendo um
relacionamento institucional mais próximo e familiar”.
“Conforme notório conhecimento dos efeitos negativos da insegurança
para as pessoas e as empresas, bem como a crescente curva do referido
aspecto, tomamos a iniciativa de trazer para a intimidade do CasaPark a
convivência com os Policiais Militares, a fim de que possamos manter a
nossa eficiente segurança preventiva”, diz o documento.
Corrupção ativa e passiva
De acordo com o advogado Daniel Falcão, professor de direito
administrativo do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), a
conduta dos administradores do shopping pode ser enquadrada no crime de
corrupção ativa; já a dos policiais, em corrupção passiva – segundo as
práticas descritas no Código Penal.
“Ainda que seja para atuar em área pública, está se comprando o batalhão para um objetivo privado de fazer segurança com instrumentos do poder público.”
Segundo Falcão, empresas privadas não podem fazer acordos com a
corporação como forma de obter vantagem sobre o serviço de segurança,
que tem finalidade pública. “O ideal é que esses recursos sejam
oferecidos à chefia da Polícia Militar, à Secretaria de Segurança
Pública ou ao governador, nunca ao batalhão”.
A professora Cristina Zaksesc, vice-coordenadora do núcleo de estudos
sobre violência e segurança da UnB, diz que a prática é muito comum no
Brasil. “Faz parte da rotina de policiamento. Quem tem maior poder
econômico pode arcar com uma contribuição maior e ganhar privilégios”,
afirmou.
“A polícia deveria estar onde há mais crimes, e não onde há mais dinheiro. Esse episódio demonstra a desigualdade da segurança.”
Outro lado
Segundo a PM, os tablets doados pelo shopping serão usados em um
projeto piloto "para a confecção de boletins de ocorrência online no
local dos fatos, com o objetivo de facilitar o atendimento de
ocorrências por parte dos Policiais, além de dar celeridade nos
registros."
Sobre os descontos de 50% em restaurantes aos policiais farados, a
corporação explica que a prática é comum. "Essa concessão é feita de
forma discricionária pelos estabelecimentos. Nada foi solicitado, mas
oferecido pelos proprietários dos estabelecimentos de forma voluntária
com o objetivo de estreitar o relacionamento com os policiais.”
Fonte: G1
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