Aprovação da PEC do Teto mostra apoio do Congresso ao ajuste fiscal
Sessão do Congresso Nacional, de 15 de dezembro, quando foi promulgada a Emenda à Constituição 95, que estabelece limite para os gastos públicos por 20 anos Foto:Jane de Araújo/Agência Senado |
A partir de 2017 o cidadão brasileiro passará a conviver com uma nova
realidade na gestão das contas públicas: o teto de gastos. Ao assumir a
Presidência da República em maio de 2016, ainda como interino, Michel
Temer afirmou que um dos desafios mais urgentes de seu governo seria
restaurar o equilíbrio das contas públicas. Somente assim, avaliou,
seria possível recuperar a confiança na gestão econômica, condição para a
retomada do crescimento. No balanço
do ano de 2016, destaca-se como conquista de sua gestão a aprovação no
Congresso Nacional da proposta de emenda constitucional que fixa um teto
para a evolução dos gastos públicos.
A proposta foi aprovada pelo Senado, em
segundo turno, em 13 de dezembro, por 53 votos a favor e 16
contrários. Foram apenas quatro votos a mais do que os 49 votos mínimos
para a aprovação de emendas constitucionais. Promulgada em sessão do
Congresso em 15 de dezembro, a Emenda Constitucional 95, derivada da PEC 55/2016,
é apontada como um dos pilares do ajuste fiscal defendido pelo
presidente. A ideia é que as despesas de um ano não possam crescer acima
da inflação registrada no exercício anterior, durante um período de 20
anos.
Oposição e movimentos sociais
criticaram duramente a medida, diante de projeções de perdas nos gastos
sociais. Para o governo, no entanto, o teto de gastos é essencial para
assegurar o equilíbrio do orçamento público.
Na sessão de promulgação, o presidente
do Senado, Renan Calheiros, classificou como uma “vitória do país” a
criação de uma regra para o crescimento dos gastos, com a ressalva de
que a medida não dispensava outras iniciativas no campo fiscal, além de
ações de estímulo ao crescimento.
— Óbvio que essa PEC por si só não vai
tirar o país da crise. Nós precisamos continuar fazendo o ajuste e
retomando medidas de estímulo ao crescimento econômico — afirmou.
Nos protestos contra a PEC do Teto,
inclusive em manifestações de rua, oposição e movimentos sociais
criticaram especialmente os efeitos das regras sobre as áreas da saúde e
educação, que vinham contando com percentuais definidos sobre a receita
da União para o financiamento de seus gastos. Defensores da PEC
argumentaram que os recursos para essas duas áreas poderão ser ampliados
acima da inflação, desde que o governo promova cortes compensatórios em
outros setores. Os críticos, porém, lembram que hoje quase 90% das
despesas da União são obrigatórias, não havendo muita margem para
trocas. A regra do teto será aplicada para as duas áreas a partir de
2018.
A emenda deixa ainda espaço para a
rediscussão do critério de teto na entrada no nono ano de sua vigência.
Se aprovado novo critério, ele será aplicado a partir do décimo ano.
Deficit
O presidente Temer passou pelo primeiro
teste na articulação da base de apoio ao conseguir a aprovação, logo
após assumir o cargo, da nova meta de resultado fiscal. Em sessão no
Congresso que durou mais de 17 horas, o governo obteve autorização para
trabalhar com um deficit em 2016 de até 170,5 bilhões. Sem esse aval, na
semana seguinte o Planalto teria sido obrigado a cortar R$ 137,9
bilhões nas despesas não obrigatórias, ação necessária para garantir o
superávit previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), de pelo
menos R$ 24 bilhões.
Antes de ser afastada, Dilma Rousseff
já havia solicitado autorização para um deficit de até R$ 96,6 bilhões
em 2016, alegando desequilíbrio causado principalmente pela queda das
receitas nesse momento de recessão. Para ampliar o limite a R$ 170,5
bilhão, a equipe de Temer justificou que era necessário excluir receitas
incertas, como a arrecadação da CPMF, tributo que não seria recriado.
Outro motivo alegado seria a obrigação
de seguir instruções do Tribunal de Contas da União (TCU) e corrigir no
Orçamento as chamadas “pedaladas fiscais” que vinham sendo praticadas.
Dívidas dos estados
Para aliviar a situação financeira dos
estados, muitos em situação de falência, o governo federal se viu
obrigado a apresentar medida para renegociar suas dívidas com a União.
Aprovada pelo Senado em 14 de dezembro, a proposta (PLP 257/2016) teve aprovação final na Câmara dos Deputados em 22 de dezembro, último dia de votação do ano.
Apresentada ao Congresso por Dilma
Rousseff antes de seu afastamento, a proposta da renegociação foi
encampada por Temer, já com a introdução de um regime especial de
recuperação fiscal para os estados mais endividados. De acordo com o
novo texto, o regime suspende por três anos o pagamento da dívida de
estados em calamidade fiscal.
Na votação final na Câmara, contudo,
foram retirados pontos inseridos pelo Senado com apoio do governo, que
obrigavam os estados a adotar maior rigor na gestão de suas contas, com
proibição de conceder reajustes aos servidores, criar cargos, realizar
concursos públicos (exceto para suprir vagas), criar despesa obrigatória
de caráter continuado e gastar com publicidade oficial (exceto para
saúde e segurança). Com a exclusão, ficou a expectativa de que as
contrapartidas passariam a ser negociadas com o governo e definidas por
meio de projeto específico nas assembleias legislativas.
DRU
Em 2016, o Planalto conseguiu apoio do
Congresso para renovar mais uma vez o mecanismo de desvinculação de
receitas, criado no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ao fim de
agosto, o Senado concluiu a votação da proposta de emenda constitucional
sobre o tema (PEC 31/2016),
elevando o percentual para livre uso da arrecadação, que subiu de 20%
para 30% de todos os impostos e contribuições sociais federais, exceto
os destinados à saúde e educação.
Pela primeira vez, o mecanismo da
desvinculação foi também estendido a estados, Distrito Federal e
municípios, considerando impostos, taxas e multas. No caso da União, a
expectativa à época era de que a DRU fosse liberar quase R$ 118 bilhões
para uso do Executivo apenas em 2016, aproximadamente R$ 111 bilhões de
contribuições sociais, R$ 4,6 bilhões da Cide e R$ 2,2 bilhões de taxas.
Repatriação
Outro ganho para o Planalto no campo
fiscal, ajudando a afastar o risco de descumprimento da meta de deficit,
foi a aprovação da chamada Lei da Repatriação, destinada a regularizar
ativos mantidos por brasileiros em outros países. A proposta, que no
Sendo tramitou como PLC 186/2015, fez parte do pacote de ajuste fiscal ainda da gestão de Dilma Rousseff.
Para aderir, o contribuinte teve que
pagar 15% de Imposto de Renda, além de mais 15% de multa, sobre o valor
declarado dos bens ou dinheiro existente no exterior. O governo previa
arrecadar entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões. Por fim, de abril a
outubro, foram efetivamente recolhidos R$ 46,8 bilhões aos cofres
federais.
Para lideranças no Congresso, dúvidas a
respeito das regras impediram muitos brasileiros de legalizar bens
dentro do período previsto. Por isso, a Comissão Diretora do Senado
tomou a iniciativa de propor projeto (PLS 405/2016)
para reabrir o regime especial de regularização. Nessa nova etapa,
tanto as alíquotas da multa como do Imposto de Renda foram elevadas para
17,5%.
A proposta já foi aprovada no Senado e agora tramita em regime de urgência na Câmara (PL 6568/2016).
Com a reabertura do prazo, a expectativa é de que pelo menos R$ 13,2
bilhões sejam arrecadados pelo governo em 2017. O valor já foi
contabilizado na proposta orçamentária para o próximo ano, aprovada pelo
Congresso.
Previdência
Outro sustentáculo do ajuste fiscal é a reforma da Previdência Social, área considerada pelo governo como a principal fonte de desequilíbrio nas contas públicas. A proposta, encaminhada pelo Executivo (PEC 287/2016) no início de dezembro, está em início de discussão na Câmara dos Deputados, onde passará por deliberação em dois turnos. Se aprovada, virá ao Senado para passar por mesmo rito de análise.A proposta estabelece idade mínima de aposentadoria de 65 anos para trabalhadores do setor privado e servidores públicos. A regra valerá para homens com até 50 anos de idade e mulheres que já tenham completado 45 anos no momento da vigência da reforma. Acima disso, haverá regras de transição.
Centrais sindicais resistem às mudanças, mas o governo argumenta que elas são indispensáveis. Em balanço recente, o Ministério do Planejamento informou que o sistema registrou deficit de R$ 135,7 bilhões no acumulado de 12 meses até outubro.
Fonte: Agência Senado
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