Taxista do DF aposta no 'jeito feminino' para agradar clientela
Há 11 anos no ramo, ela tira da profissão todo o sustento da família
A taxista Luciana Monteiro Silva Braz usa uma capa rosa no volante como "marca registrada"Gustavo Frasão / R7
É com um táxi que Luciana Monteiro Silva Braz, de 49 anos, tira o sustento de toda a família. No ramo desde 2002 e casada há seis anos com outro taxista que atua na área há três décadas, decidiu oferecer serviços diferenciados para atender o público formado principalmente por políticos, empresários, autoridades e jogadores de futebol que moram, trabalham ou simplesmente estão na capital do País.
Para agradar e cativar os clientes, Luciana apostou na delicadeza feminina. A começar pelo volante do seu GM/Cobalt, que ela mandou forrar de cor-de-rosa para deixar o carro mais bonito. Além deste 'toque feminino', a taxista mantém o automóvel impecável: limpo, cheiroso e com revistas à mão dos passageiros.
— Meu carro está sempre limpinho e cheirosinho. Ele é confortável, tem som, revistas e jornais. As pessoas gostam disso. Ele é minha principal ferramenta de trabalho e procuro mantê-lo da melhor forma possível.
A exigência também está na própria aparência e para passar crebilidade a todos que a procuram a taxista sempre trabalha com roupa social: calça e terninho. A cortesia e boa educação são atitudes que ela valoriza e acredita fazer toda a diferença.
— Gosto de receber a pessoa, seja homem, mulher, criança ou idoso. Abro a porta para entrar, sair, e trato todo mundo com bastante respeito e educação.
Preocupada com o conforto dos passageiros, a taxista sempre procurou comprar carros de luxo e espaçosos, equipados com ar-condionado e porta-malas grandes.
A manutenção e cuidado com o carro não ficam de lado e a atenção com a água, óleo e lavagem fazem parte da lista de prioridades de Luciana.
Mãe de quatro filhos do primeiro casamento, Luciana tem orgulho em dizer que com o dinheiro conquistado no táxi consegue ajudá-los nos estudos. A caçula, de 21 anos, ainda está na faculdade e cursa Sistemas da Informação. Os outros três concluíram o nível superior.
— Ajudo a pagar a faculdade e faço tudo o que posso. Mantenho as despesas da casa, pago minhas contas e dá para levar uma vida razoável com o dinheiro do táxi, minha única fonte de renda.
Luciana nasceu em 1964 e foi criada em Brasília. Teve vários empregos durante a vida, formou-se em enfermagem e trabalhou durante quase dois anos em um hospital.
No entanto, queria ter mais flexibilidade de horários e liberdade para fazer o próprio salário. Foi então que decidiu estudar para conquistar a permissão de taxista e começar a trabalhar de forma autônoma.
— Às vezes preciso resolver problemas pessoais e não tenho como trabalhar durante o dia. Quando isso acontece, tiro a noite para recuperar o que perdi. É tudo muito flexível e não tem um horário fixo de início nem de fim da jornada, mas é sempre muito produtivo.
Durante todos esses anos, a taxista conquistou a simpatia dos clientes e passou a ter um público fiel, que sempre a contrata. A taxista selecionou a dedo os pontos de trabalho e passa os dias alternando entre Aeroporto JK, Congresso Nacional e hotéis na área central de Brasília. Mas viagens para Anápolis (GO), Goiânia (GO), Salvador (BA) e Belo Horizonte (MG) também fazem parte dos serviços prestados por Luciana que, satisfeita, diz sempre ser elogiada pelos passageiros "exigentes".
— Tenho clientes fieis. Eles dizem que gostam do meu atendimento, do meu conhecimento e da minha habilidade no trânsito. Rodo em todo o DF e também faço viagens para outros lugares.
Para não perder espaço no mercado de trabalho cada vez mais competitivo, Luciana faz constantes investimentos em cursos de aperfeiçoamento profissional.
Recentemente, foi indicada pelos próprios colegas de profissão a participar de um programa de qualificação gratuito.
O curso é composto por aulas presenciais e online, kits educativos, áudios e manuais impressos. O Inglês, apesar de nunca ter sido o forte dela, já está quase dominado.
— Inglês não é fácil, mas é necessário. Já consigo conversar bem com um estrangeiro e estou pronta para receber os turistas na Copa do Mundo. Estou aprendendo, também, os pontos turísticos, os roteiros reliogosos e ecológicos da cidade.
HISTÓRIAS ENGRAÇADAS
Durante os 11 anos de profissão, a taxista acumulou uma bagagem considerável de histórias engraçadas que aconteceram com ela ou clientes.
Quando começou a trabalhar, por exemplo, ela lembra que teve dificuldades em localizar os endereços e a entender as siglas das cidades no Distrito Federal.
— Achava que conhecia tudo, mas vi que não sabia era nada. O conhecimento veio com o tempo, mas todo dia aprendo mais.
Uma das histórias mais recentes aconteceu há poucos meses, quando um passageiro pediu que ela o levasse ao Katanka. O cliente não soube dizer local, endereço nem telefone, e só explicou que era uma escola de navegação.
— Rodei um tempão, procurei, perguntei, pesquisei e descobri, depois de bastante tempo, que esse lugar ficava dentro de um clube no Setor de Clubes Sul. Nunca ia achar. É vivendo e aprendendo, sempre tem novidades.
Luciana também guarda na lembrança o caso de um político que, exaltado, começou a falar da vida pessoal e dos problemas que estava enfrentando quando, de repente, a dentadura dele caiu no chão.
— Taxista também é um psicólogo. As pessoas brigam, xingam, conversam, pedem conselhos, desabafam e contam segredos. É interessante ver que por trás de empresários, políticos, jogadores e autoridades existem pessoas simples como todos nós.
FONTE: R7 DF
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