Eleições 2014
Aécio propõe solução ‘café com leite’ para tucanos
Senador mineiro fala em chapa com colega paulista Aloysio Nunes para acalmar Serra.
Ligado a Serra, a entrada de Aloysio teria o potencial de tirar o ex-governador da disputa interna e garantir ao PSDB cerca de 2 milhões de votos à frente da petista Dilma Rousseff em São Paulo, revelou Aécio, segundo relato de senadores que participaram do almoço no gabinete do líder do PTB, Gim Argello (DF). ...
O termo "café com leite" é associado à República Velha (1889/1930), quando São Paulo e Minas Gerais, os dois Estados mais poderosos da Federação na época, faziam um rodízio na indicação do candidato a ser apoiado nas eleições para a Presidência.
Nas contas de Aécio, com os 2 milhões de frente em São Paulo e mais 3 milhões em Minas, Estado que governou por dois mandatos e onde possui alta popularidade, o PSDB teria boas chances de avançar ao 2.º turno. "É muito importante ter o senador Aloysio na vice", disse o mineiro, ainda conforme relato de senadores. O tucano calculou ainda que terá vantagem sobre Dilma nos Estados da Região Sul.
Os quatro partidos que estiveram à mesa do almoço pertencem a legendas afinadas com a presidente Dilma Rousseff. No encontro, Aécio procurou convencê-los de que podem mudar de aliado sem sustos. O senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), que participou do almoço, disse que ouviu os argumentos de Aécio com atenção, mas ainda não está convencido das chances do mineiro. "É preciso esperar para ver", disse.
O PSDB decidiu mostrar a Serra que o candidato da legenda é mesmo o senador. Na segunda-feira, Aécio almoçou no Palácio dos Bandeirantes com o governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A candidatura foi reafirmada. Ao mesmo tempo, a bancada do partido na Câmara e os dirigentes nos Estados manifestaram o apoio a Aécio. À noite, o mineiro conversou com Serra.
"Nos interessava dar o recado a Serra de que o candidato é Aécio Neves. Isso foi feito", disse ao Estado o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), ex-líder do partido na Câmara. "Não há mais dúvida nenhuma. O candidato já foi definido."
Com a garantia de que, à exceção de Serra, o restante do partido já o apoia, Aécio decidiu não endossar a iniciativa da bancada federal de antecipar o lançamento da candidatura. O acordo com Serra é que a definição ocorra apenas em março de 2014. "Um mês a mais, um mês a menos, isso não importa. Importa é a unidade do partido", afirmou Aécio, que fez uma série de agrados a Serra e classificou como "legítimas" as viagens do ex-governador paulista pelo País. "Deixem o Serra trabalhar em paz. Na campanha eleitoral, quando você olhar para um, você vai enxergar o outro."
Partido não cria projeto partidário e a história se repete
ANÁLISE: Marco Antonio Teixeira, professor de ciência política da FGV
Enquanto Dilma está em campanha e Eduardo Campos se consolida como candidato com a presença ameaçadora de Marina Silva, o PSDB vive o mesmo dilema que o assombrou em 2009 e 2010: definir seu candidato e antecipar sua entrada na campanha.
Para 2014, além de transformar Aécio em candidato, o cenário ideal para os tucanos seria fazer de José Serra um cabo eleitoral estratégico no maior colégio eleitoral do País. Todavia, turbinado pelas pesquisas que o colocam como o mais viável para forçar um segundo turno - apesar de também aparecer como o mais fácil de ser derrotado pelo PT -, Serra parece seguir pré-candidato e vem obrigando Aécio a perder tempo na busca de consenso partidário.
Como o PSDB não conseguiu se colocar como alternativa de oposição nesses últimos quatro anos - por não apresentar um projeto de país viável para a sociedade -, o dissenso tem potencial para promover cizânias internas que podem afetar a unidade partidária. Seja quem for o candidato em 2014.
E o cenário à volta dos tucanos não melhora as coisas. Enquanto Dilma permanece bem à frente nas intenções de voto podendo liquidar a fatura no primeiro turno. Campos, ao lado de Marina, se aproxima a ponto de ameaçar a presença do PSDB no segundo turno. Mais uma vez o partido corre o risco de ser vítima da sua própria incapacidade de construir um projeto partidário.
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