quinta-feira, 21 de maio de 2020

Coronavírus matou 6 e infectou 27 motoristas e cobradores de ônibus no DF

COVID-19

Rodoviários contaminados com o novo vírus relataram ao Metrópoles o medo de voltar a enfrentar jornadas de trabalho em ônibus lotados

RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES


Em meio à pandemia de Sars-Cov-2 no Distrito Federal, uma classe de trabalhadores que presta serviço essencial à população está com medo. Motoristas e cobradores de ônibus já somam seis mortes e 27 casos de contaminação pelo novo micro-organismo, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Terrestre do DF (Sittraer-DF).
As estatísticas mostram que do total de 73 óbitos em todo o DF, 8% eram de condutores ou trocadores de coletivos. Para os funcionários das empresas, a explicação é lógica: os veículos lotados facilitam a propagação do vírus mortal.
A cobradora Jaciara da Silva, 50 anos, por exemplo, entra em pânico só de pensar na doença. Com sintomas da Covid-19, ela se recupera em casa e, apesar de avaliar que a pior fase já passou, ainda sente dores na garganta e nas costas.
O atestado médico vai até 5 de junho e ela se angustia com o breve regresso ao ofício. “Eu nem ligo a TV mais, pois fico toda tremendo. Nem sei como vou conseguir voltar ao normal”, afirma.
Segundo Jaciara, ela sempre utilizou equipamento de segurança, desde o início da pandemia, até mesmo touca na cabeça. “Vi que o vírus podia ficar no cabelo e resolvi me precaver, né? Mesmo assim fui contaminada. Creio que deve ter sido com dinheiro”, lamenta.
Para ela, a solução mais inteligente neste momento seria encerrar as atividades no transporte público. “O contágio para rodoviário é muito maior. Eu fico encabulada com o tanto de gente no ônibus”, conta.
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Willame Morais, 30, é cobrador e também está infectado com o coronavírus. Apesar de ter poucos sintomas, ele se preocupa não apenas com o que sofreu, mas com o efeito da Covid-19 em outros colegas e nos passageiros. “Faço a primeira linha que passa na Estrutural. Lá está sempre lotado. Infelizmente, a tendência é que cada vez mais gente pegue a doença”, analisa.
Uma vez que só sai de casa para trabalhar, ele não vê outra forma de ter contraído o vírus que não seja no exercício da profissão. “Se não foi assim, foi a caminho do terminal”, analisa.
O diretor do Sittraer-DF, João Osório, confirma o temor instalado entre os trabalhadores do setor. “Alguns cuidados estão sendo tomados, como uso de máscara e álcool em gel, mas isso não é capaz de trazer tranquilidade. O trabalho dos profissionais rodoviários tem sido encarado como um grande desafio”, salientou.
O que diz o GDF
Procurada, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informou que, desde o início de março, “todas as empresas que operam no sistema de transporte público do DF passaram a realizar a higienização dos veículos, antes das viagens, com desinfetante de hipoclorito de sódio”.
A pasta ainda diz ter determinado a todas as empresas que disponibilizem máscaras faciais para motoristas e cobradores dos ônibus do sistema de transporte público coletivo. Os empregados das concessionárias que operam no DF também são orientados a informar aos passageiros sobre a obrigatoriedade e a importância do uso do acessório protetivo.
Nas redes sociais da Semob e nas televisões dos ônibus e do metrô, há campanhas educativas sobre o tema. Além disso, a pasta diz ter distribuído cartazes nos coletivos.
Em nota, a Viação Marechal disse ter registrado entre seus colaboradores seis casos. A Expresso São José reportou um caso, sendo que o rodoviário está assintomático. Já a Viação Pioneira não teve nenhum caso confirmado até o momento.

METRÓPOLES

Distritais aprovam plano de saúde vitalício para ex-deputados e familiares

POLÍTICA
Mensalidade é de R$ 744; parte será custeada com recurso público. Veja como cada parlamentar votou.

Fachada da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) — Foto: Marília Marques/G1
A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) aprovou, nesta quarta-feira (20), um projeto de resolução que inclui ex-deputados distritais e seus dependentes no plano de saúde da Casa de forma vitalícia. Até então, eles só eram cobertos pelo convênio por dois anos após o fim do mandato.
A atualização das regras do plano vale a partir da publicação da norma, que não havia sido divulgada até a publicação desta reportagem. A medida recebeu voto favorável de 16 dos 24 deputados. Após a sessão, alguns distritais afirmaram que a emenda não foi disponibilizada a todos antes da votação. Há pedido de revisão do resultado (saiba mais abaixo).
O Fundo de Assistência à Saúde da CLDF (Fascal) tem hoje cerca de 5,3 mil beneficiários. São deputados, servidores e ex-funcionários comissionados. Eles pagam cota mensal de R$ 38 a R$744 a depender da idade e remuneração. Já os ex-distritais, vão pagar obrigatoriamente o valor máximo.
O custo do plano de saúde é complementado com recursos públicos. Desde 2018, sem o alcance aos ex-deputados, a Câmara Legislativa gastou R$ 34 milhões com o benefício.
De acordo com o texto aprovado, para ter acesso ao plano de saúde após o desligamento da CLDF, os beneficiários devem ter, no mínimo, dois anos de contribuição, além de solicitar a permanência no convênio em até 30 dias após a exoneração. Ex-comissionados poderão ficar no plano por um ano.
Deputados aprovam plano de saúde da Câmara vitalício para ex-distritais e familiares
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Deputados aprovam plano de saúde da Câmara vitalício para ex-distritais e familiares

Projeto altera custeio

A emenda faz parte de projeto que atualiza o custeio do plano de saúde. O texto amplia os percentuais de contribuição dos beneficiários, que varia de 10% a 50% a depender do serviço. Além disso, cria a possibilidade de protesto das dívidas dos beneficiários. A justificativa apresentada no texto original foi "a necessidade de equilíbrio financeiro do Fundo".
Ao ser questionada sobre a proposta, a CLDF informou que "as novas regras contribuirão para a redução de custos" (veja nota na íntegra ao final da reportagem).

A inclusão dos ex-distritais no plano de saúde consta em emenda assinada pela Mesa da CLDF. Proposta semelhante já tinha sido apresentada pelo vice-presidente da Casa, Rodrigo Delmasso (Republicanos), em fevereiro. Mas, após repercussão negativa, o projeto não chegou a ser votado.

Quem são os dependentes?

Os ex-deputados distritais não poderão cadastrar pai e mãe como dependentes, ao contrário dos parlamentares em exercício. As demais regras são iguais. Incluindo:
  • cônjuge ou companheiro (a) com união estável por, pelo menos, seis meses.
  • irmão, se portador de invalidez, sob responsabilidade judicial do beneficiário titular do plano
  • filhos e enteados, nos seguintes termos:
- Até 21 anos de idade são considerados dependentes
- Até 39 anos incompletos podem ser inclusos se estiverem solteiros e com renda de até cinco salários mínimos
- Com mais de 21 anos se foram portadores de invalidez, constatada por perícia
- Na faixa de 21 a 24 anos se não tiverem renda e estarem matriculados em cursos regulares reconhecidos pelo Ministério da Educação

Votos

Transmissão da sessão remota da Câmara Legislativa do DF  — Foto: Reprodução
Transmissão da sessão remota da Câmara Legislativa do DF — Foto: Reprodução
Na votação desta quarta, a emenda não estava na pauta prévia, contudo, foi incluída para deliberação. No mesmo dia, os parlamentares aprovaram o texto em primeiro e segundo turno. Não houve votos contrários.
Entre os 22 distritais presentes na votação, 16 aprovaram a alteração:
  • Claudio Abrantes (PDT)
  • Daniel Donizet (PSDB)
  • Delegado Fernando Fernandes (Pros)
  • Delmasso (Republicanos)
  • Eduardo Pedrosa (PTC)
  • Hermeto (MDB)
  • Iolando (PSC)
  • Jaqueline Silva (PTB)
  • José Gomes (PSB)
  • Júlia Lucy (Novo)
  • Martins Machado (Republicanos)
  • Rafael Prudente (MDB)
  • Reginaldo Sardinha (Avante)
  • Robério Negreiros (PSD)
  • Roosevelt Vilela (PSB)
  • Valdelino Barcelos (PP)
Houve seis abstenções, dos deputados:
  • Reginaldo Veras (PDT)
  • Leandro Grass (Rede)
  • Chico Vigilante (PT)
  • Arlete Sampaio (PT)
  • João Cardoso (Avante)
  • Fábio Felix (Psol)
Outros dois distritais não estavam presentes: Jorge Vianna (Podemos) e Agaciel Maia (PL).

Reação

Uma das deputadas que votou pelo sim, Júlia Lucy, divulgou uma nota nesta quinta-feira (21) afirmando que vai pedir a alteração do seu voto, pois "a votação ocorreu em total desconformidade com o regimento", sem respeitar prazos para apresentação de emendas.
"O objetivo do projeto original era reajustar o valor das mensalidades para que o plano não tenha déficit. A deputada é favorável a esse ponto. A emenda que incluiu ex-parlamentares no plano não estava no projeto original e sequer constava no sistema para visualização dos parlamentares", informou a equipe de comunicação da distrital.
Júlia Lucy anunciou que, caso a Mesa Diretora não reveja a votação, entrará, ainda hoje, com mandado de segurança na Justiça com o objetivo de anular a deliberação.

O que diz a CLDF?

G1 questionou a CLDF especificamente sobre os procedimentos da votação da emenda que incluiu distritais, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
A Casa informou à reportagem que as atualizações do plano de saúde trazem "reequilíbrio financeiro". Veja a íntegra na nota:
"O novo regulamento aprovado para o Fascal visa modernizar o modelo de gestão administrativa e atualizar a política de assistência à saúde dos servidores e Deputados.
As novas regras contribuirão para a redução de custos,dos aportes pelo Poder Público, aumento das receitas e trazendo reequilíbrio financeiro ao Plano."