O que são os coletivos chavistas, 'defensores da revolução' que invadiram a Assembleia venezuelana
Daniel García Marco (@danigmarco)Da BBC Mundo em Caracas Daniel García Marco (@danigmarco)Da BBC Mundo em Caracas
O grafite no muro ilustra a ameaça. Trata-se da silhueta de um homem apontando um fuzil. Logo abaixo, a legenda: "Os coletivos vão tomar Caracas em defesa da revolução!".
Esse tipo de grafite é comum em paredes e edifícios de vários bairros de Caracas. E também nos muros brancos que cercam o Parlamento venezuelano, invadido na quarta-feira por um grupo de civis simpatizantes do presidente Nicolás Maduro.
Os líderes da oposição os chamam de "paramilitares". A procuradora-geral da República, Luisa Ortega, os define como "grupos armados civis fora da lei". Nas ruas, são conhecidos simplesmente como "coletivos". E frequentemente estão encapuzados.
Segundo o governo, muitos coletivos são grupos sociais que trabalham em projetos dentro de organizações criadas pelo ex-presidente Hugo Chávez nas comunidades.
Vários são pacíficos. E desempenham papel político associado a uma longa tradição de esquerda, o que os vincula a Chávez e à revolução bolivariana, agora liderada pelo presidente Nicolás Maduro.
Outros, no entanto, controlam com armas algumas áreas há anos, segundo denúncias de moradores e organizações não governamentais.
No atual clima de confronto e conflito político entre governo e oposição, que se reflete nas ruas, os coletivos assumem papel de protagonistas.
No dia 28 de junho, por exemplo, manifestantes protestavam em frente a um hospital de Caracas, quando, de repente, ouviu-se um grito: "Coletivos!". Um grupo de homens encapuzados surgiu de moto causando pânico com sua presença.
Em fotos e vídeos postados nas redes sociais e publicados pela imprensa local nas últimas semanas, civis foram registrados com armas de fogo.
Embora seja difícil generalizar e muitos coletivos tenham se recusado a falar com a imprensa, a BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC) conversou com líderes de vários grupos para descobrir o que pensam e como se articulam com as forças de segurança do Estado.
Cultivo de sementes e segurança
Acompanhado por um grupo da Fundação Domingo Rebolledo, a reportagem da BBC subiu numa manhã de maio uma das ruas mais íngremes de La Vega, bairro no oeste de Caracas.
Eles mostraram o trabalho realizado na paróquia da Base de Missões Sinaí. As missões são os programas sociais criados por Chávez nas comunidades. E podem ser respaldadas na nova Constituição, que será redigida pela Assembleia Constituinte, a ser eleita em 30 de julho.
No local, há hortas urbanas. Projetos de cultivo de sementes e fertilizantes incentivam a produção local para reduzir a dependência de grandes produtores e redes de varejo.
A comunidade busca praticar a autogestão e seus líderes se declaram abertamente chavistas e simpatizantes da revolução.
A Fundação Domingo Rebolledo se define, com orgulho, como coletivo. É formada por 64 pessoas, incluindo 40 com motos, que também têm outras missões.
"Somos a garantia de segurança das pessoas, da pátria", diz Juan, nome fictício de um dos líderes, que prefere manter o anonimato por medo de represálias.
Direito de imagemAFPImage captionColetivos demonstram afinidade com governo chavista
"Somos organizações criadas como medida de segurança para defender o modelo de governo, o povo e os quadros políticos", explica.
Nos últimos meses, esse trabalho tem sido reforçado diante dos protestos que tomaram as ruas contra o governo.
'Alerta'
Naquele sábado de maio, a oposição tinha convocado uma nova manifestação. Juan estava atento. E recebeu uma mensagem no celular de um "patriota colaborador".
"ALERTA. Recebi informação que os terroristas esquálidos estão planejando tomar a Redoma de la India", dizia o texto, que faz referência à praça principal do bairro de La Vega. "Terroristas esquálidos" é a forma pejorativa que eles usam para se referir aos adversários.
A mensagem continua. "Pelo sim, pelo não, temos que estar atentos e prontos para agir diante dos primeiro indícios; me parece que todos estamos decididos a sair e combater a contrarrevolução".
Nesse momento, Juan, que foi policial e faz parte do ODDI (Órgão da Defesa Integral do governo) é acionado. Ele responde ao ODDI de Caracas, dirigido pelo general Antonio Benavides Torres, ex-chefe da Guarda Nacional.
Alguns membros do órgão são acusados de matar manifestantes da oposição. A Procuradoria acusou Benavides recentemente por violações de direitos humanos.
As operações do ODDI, iniciadas após o alerta do "patriota colaborador", são articuladas com a ZODI (Zona Operacional da Defesa Integral) e a REDI (Região de Defesa Integral), ambas com estrutura militar a cargo do Ministério da Defesa.
Direito de imagemAFPImage captionNicolás Maduro, em abril, com a chamada milícia nacional bolivariana - civis com formação militar
Assim, é acionada o que o governo socialista chama de união civil-militar, estabelecida em lei desde 2014 e à qual têm recorrido nos últimos meses por acreditar que a oposição está promovendo um golpe de Estado e uma intervenção estrangeira.
Em abril, em plena onda de protestos, Maduro disse que ampliaria para meio milhão o número de integrantes da chamada Milícia Nacional Bolivariana, corpo de civis com treinamento militar. E afirmou que garantiria um fuzil para cada um.
As autoridades do governo citam os artigos 322 e 326 da Constituição, que falam sobre a responsabilidade do Estado e do povo venezuelano em defender o país.
Mas como isso se reflete na atuação do coletivo Domingo Rebolledo?
Roupas pretas e rostos cobertos
Juan garante que a própria polícia e a Guarda Nacional chamam o grupo para intimidar, assustar, dissolver as manifestações e tirar as barricadas da rua.
Por isso, se vestem de preto e cobrem o rosto.
A reportagem da BBC os acompanhou de moto em uma ronda na paróquia vizinha de El Paraiso, um dos principais centros de revolta contra o governo.
"Não vamos chegar reprimindo, atropelando nem agredindo, vamos apenas dispersar, para que não danifiquem a propriedade da nação", afirma Juan, assegurando que seu grupo é pacífico e o máximo que faz é deter manifestantes e entregá-los às autoridades.
Juan alega que não está armado, mas diz que poderia pegar uma arma emprestada com o tio.
"Não podemos apontar armas, porque a oposição está fortemente armada. Você imagina o que pode acontecer (...) Há armas, mas não as usamos. Nós queremos manter a paz", afirma Juan, que é funcionário público.
Um companheiro dele, formado em luta armada dos anos 70 e 80, vai além:
"Para este governo cair tem que haver uma guerra. Se houver, estamos prontos", diz, temeroso de que outro governo acabe com as "conquistas sociais" do chavismo.
uan reconhece, no entanto, que há coletivos que não operam como o seu. E que contam com a impunidade.
"Os coletivos não são punidos. Podem agir e o governo os respeita porque são pessoas que vêm da polícia ou são policiais ativos. Têm contatos na polícia. Eles prendem, matam. E não pagam por isso. Nós não funcionamos assim", compara.
As imagens de quarta-feira da sede do Parlamento venezuelano, por exemplo, mostram que a Guarda Nacional não impediu a entrada dos manifestantes. Também não os dispersou para permitir a libertação dos deputados, que ficaram sete horas presos no prédio.
'Pacífica, mas armada'
Chávez, que atribuía a suposta violência à burguesia venezuelana, sempre disse que a revolução era "pacífica, mas armada".
Essa declaração é lembrada por Lisandro López, conhecido como Mao, líder histórico da luta armada na Venezuela nos anos 70 e 80 e um dos pioneiros do Tupamaro, movimento revolucionário venezuelano que recebeu esse nome em homenagem ao grupo de guerrilha originado no Uruguai.
Mao também diz que promoveu a criação de coletivos na primeira metade da década passada.
Direito de imagemBBC MUNDOImage captionMao, líder histórico da esquerda e da luta armada na Venezuela, dirige atualmente uma escola pública
"Era uma maneira de apoiar o governo nos bairros", diz Mao, que hoje tem 58 anos e dirige uma escola pública.
"Eles nascem como uma necessidade política", agrega, recordando-se dos anos imediatamente posteriores ao golpe fracassado contra Chávez em 2002.
Como seu apelido sugere, Lisandro López é maoísta e stalinista e vê o conflito atual na Venezuela como uma luta de classes, visão compartilhada por outros coletivos.
"Se eles (oposição) tomarem o poder, vamos ser eliminados. Sim, estamos armados
e vamos enfrentá-los", admite.
Mas, segundo ele, não se encontram nessa fase no momento. A reportagem pergunta o que seria necessário para tal: "A ordem do presidente. Nosso único chefe é Maduro. Quem determina a ação é Maduro", responde Mao.
"Pegando leve"
Mao se dedica agora à formação política e ideológica.
Quem estava plenamente ativo na defesa da revolução era seu amigo Alberto "Chino" Carías, líder do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) do Peru na Venezuela. Carías conversou com a BBC em um escritório do prédio administrativo da Assembleia Nacional em 18 de maio, poucos dias antes de sua morte por causas naturais.
Direito de imagemBBC MUNDOImage captionColetivos do bairro 23 de Enero têm um claro perfil político e ideológico de esquerda
"Estamos lutando até as 9:00", contou Carías, que não considerava o MRTA como um coletivo, apesar de compartilhar os mesmos objetivos.
"O governo tem pegado leve com essses terroristas. Chávez já teria esmagado esse movimento", afirmou sobre os atos de violência que vincula à oposição.
23 de Enero
Tanto o Tupamaro, de Mao, como o MRTA, de Carías, nasceram no bairro 23 de Enero, reduto tradicional da esquerda, que defendeu Chávez no golpe de 2002, mas que, em 2015, deu vitória à oposição nas eleições legislativas.
Foi ali que se formou também o coletivo revolucionário Montaraz. A BBC fez uma visita a eles em um sábado de junho, para conversar com William Pacheco, um de seus líderes.
Ali, há uma horta onde os estudantes realizam seus projetos comunitários. O muro que cerca o local tem uma foto grande de Che Guevara e um cartaz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Direito de imagemBBC MUNDOImage captionWilliam Pacheco (direita) garante que seu coletivo é pacífico, mas que pode deixar de ser, caso a revolução esteja em perigo
"O coletivo é um grupo de pessoas com objetivo político de apoiar o governo revolucionário", diz Pacheco, agregando que seu grupo é pacífico e se dedica a educação, cultura e esporte. Mas faz uma ressalva:
"Há outros que fazem escolta militar. Isso não significa que, no caso de uma situação em que queiram derrubar o governo, nós não vamos participar", explica.
Questionado como agiriam nesse caso e se usariam armas, ele responde: "Todos os cenários são possíveis. Se houver uma invasão ou um conflito com grupos paramilitares ou setores da direita, teremos que defender a revolução com armas". Ele se diz convencido de que há uma "guerra não convencional para derrubar a revolução".
A BBC levanta a hipótese de uma mudança de governo na Venezuela, em um processo eleitoral democrático.
"Teríamos que assumir essa derrota. Mas teríamos que ver qual seria a atitude em relação aos coletivos sociais. O império vai gerar outras situações de pressão: perseguirá líderes, aumentará o assassinato de dirigentes, e isso pode fazer com que a gente tenha que se defender por outros meios", diz, resgatando o discurso anti-imperialista reproduzido pelo governo.
Direito de imagemBBC MUNDOImage captionVários grupos do bairro 23 de Enero fazem associação com as Farc
Sob o risco de perder o cargo, o presidente Michel Temer encerrou neste sábado sua rápida passagem pela cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha, sem ter participado de nenhum encontro bilateral com outros chefes de Estado. Ele inclusive retornou ao Brasil antes do encerramento, perdendo o último almoço com as demais autoridades.
O G20 é formado pelas maiores 19 economias do mundo e a União Europeia. O encontro anual do grupo, organizado desde 2008, costuma ser uma oportunidade para os principais líderes mundiais realizarem encontros fechados.
O presidente argentino, Mauricio Macri, por exemplo, teve reuniões com o recém-eleito presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o primeiro-ministro de Cingapura, Lee Hsien Loong.
O maior destaque ficou por conta do primeiro encontro entre os atuais presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, que durou mais de duas horas.
Antecessora de Temer, a ex-presidente Dilma Rousseff manteve agendas bilaterais nas cinco cúpulas do G20 das quais participou, ocasiões em que se reuniu com líderes de países como Alemanha, Índia, China, Rússia, Canadá, Espanha, Argentina, Itália, Turquia, entre outros.
Levantamento realizado pela BBC Brasil a partir de registros do Palácio do Planalto indica que, desde 2009, um presidente brasileiro não passava pelo G20 sem realizar reuniões bilaterais.
Naquele ano, o encontro em Pittsburgh, nos Estados Unidos, foi realizado em setembro, logo após a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia realizado encontros com líderes de cinco países (Espanha, Nova Zelândia, Ucrânia, Hungria e Irã).
O próprio Temer realizou no encontro do G20 de 2016, na China, quatro reuniões bilaterais, com líderes de Japão, Itália, Espanha e Arábia Saudita. Na ocasião, ele havia acabado de ser confirmado no cargo, após a condenação de Dilma no processo de impeachment.
Dessa vez, ele próprio enfrenta uma grave crise política e chegou a anunciar que não iria ao G20 - mas recuou e acabou confirmando sua presença na segunda-feira, poucos dias antes do início do evento, na última sexta-feira.
Decisão em cima da hora
Analistas ouvidos pela BBC Brasil entendem que esse foi o principal motivo que impediu a programação de reuniões bilaterais. Um almoço que ocorreria com a chanceler Angela Merkel em Berlim antes da cúpula acabou desmarcado.
"Entendo que a decisão de vir aqui foi feita em cima da hora. Claramente, dada a situação política do Brasil nesse momento, ele sente muita pressão para lidar com sua agenda doméstica. Então, não acredito que seja um reflexo de outros chefes de governo (tentando evitar Temer)", disse à BBC Brasil Thomas Bernes, do Centro Internacional para a Inovação na Governança, que estava presente na cúpula como integrante do T20, uma agremiação de think tanks (instituições de pesquisas) sobre o G20.
"Essas agendas (bilaterais) são organizadas cedo. Cada líder tem muito pouco tempo, e esses são encontros críticos para os países. É burocrático marcar, então, tentar organizar algo no último minuto é muito difícil. Você acaba tentando pegar alguém no café ou nos drinks depois da orquestra (os líderes assistiram a um concerto na sexta)", observou.
Foi o que aconteceu com Temer. Nos intervalos das reuniões do G20, ele teve conversas rápidas, de alguns minutos, com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente americano, Donald Trump.
Essas conversas são diferentes de encontros reservados, marcados previamente, que permite uma discussão mais consistente e indica mais compromisso dos países com a agenda em discussão.
Além disso, Temer também se reuniu com Macri e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, compromisso que já estava previamente previsto na agenda do presidente argentino. O encontro serviu para conversas sobre as negociações, que já se arrastam há algum tempo, para um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
'Êxito'
Questionada sobre a falta de reuniões bilaterais, a Secretaria de Comunicação da Presidência citou as conversas informais e esse encontro para avaliar a viagem como muito "exitosa".
Destacou também que Merkel o convidou para retornar à Alemanha - os dois ainda não tiveram qualquer encontro bilateral. Em pouco mais de um ano de governo, Temer e Merkel nem mesmo trocaram um telefonema. A alemã encontrou Dilma anualmente durante o governo da petista.
O professor de relações internacionais da FGV Oliver Stuenkel também considera que Temer haver chegado a anunciar que não iria ao G20 foi o principal motivo da ausência de encontros bilaterais.
Ele considera, porém, que diante da grave crise política que o governo atravessa, reuniões desse tipo não teriam gerado tantos benefícios ao país. Segundo ele, os sinais de que aumentou o risco de queda de Temer atrapalham o diálogo de longo prazo com outros países.
"Na negociação de política externa, sua credibilidade depende da sua capacidade de assegurar que você de fato estará lá para implementar o que está propondo. Além disso, o Brasil não tem muita capacidade de prestar atenção nessas questões internacionais agora. Esse governo dedica 80% do seu tempo para sua própria sobrevivência", afirmou.
Importância dos encontros
Segundo Stuenkel, encontros bilaterais são importantes para estabelecer um contato mais direto com os outros líderes, o que pode ser útil em momentos de crise, na negociação para que o país ocupe cargos importantes em organismos multilaterais e até mesmo para construir uma narrativa positiva sobre o país para atração de investimentos.
"A relação pessoal é fundamental para o caso de surgir um problema específico. Por exemplo, um tema relevante para o Brasil discutir nesse momento é a Venezuela. Seria importante Temer saber o que de fato o Trump está pensando sobre essa crise", observou.
Temer ainda não teve um encontro oficial com Trump - o americano já se reuniu com outros líderes latinos como os presidentes de Peru, Argentina e Colômbia. No G20, teve uma reunião bilateral com o presidente mexicano Enrique Peña Nieto.
Alguns analistas, porém, consideram que a baixa popularidade de Temer e as denúncias que ele enfrenta tendem a reduzir o interesse de outros líderes de manter encontros com ele. "Poucos participantes do G20 veriam muito valor em se encontrar com Temer", acredita o especialista em América Latina e presidente emérito do centro de pesquisas Inter-American Dialogue, Peter Hakim.
"A crise de governo, os retrocessos econômicos e os escândalos de corrupção fizeram com que a maioria dos principais países do mundo e agências internacionais se tornasse cautelosa sobre manter relações próximas com o Brasil", destaca.
'Eleição para recuperar brilho'
Para Thomas Bernes, o Brasil está apagado agora, mas pode recuperar o brilho após a eleição de um novo presidente.
"Foi o caso do Canadá, após a eleição de Justin Trudeau, e da França agora, com Macron. Eles foram grandes ativos na melhora da imagem dos dois países. Então, sim, penso que um líder fresco pode trazer uma uma mensagem muito positiva nova e fortalecer a voz do país nas discussões internacionais", notou.
Segundo ele, o Brasil não é o único a ter perdido brilho internacionalmente.
"O Brasil era muito ativo nas discussões e liderava várias delas. Isso está fazendo falta, é triste. Mas o Brasil não é o único (a ter perdido prestígio). O Reino Unido, que tradicionalmente tem sido um líder, está quase invisível aqui", acrescentou.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, perdeu força após o fraco resultado alcançado nas últimas eleições parlamentares e tem a missão de conduzir a difícil saída do Reino Unido da União Europeia..
Mulheres são as que mais sofrem com dor crônica Shutterstock.com/PapamafiaA cada dez pessoas no Brasil, quase quatro sofrem de alguma dor crônica —
aquela que persiste por mais de três meses. A maioria dessas pessoas,
que compõem 37% da população, é formada por mulheres, vive nas regiões
Sul e Sudeste, tem média de idade de 41 anos e sente uma dor forte o
suficiente para atrapalhar as atividades cotidianas. É o que mostra uma
pesquisa da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), conduzida ao
longo do ano passado. Diretor científico da instituição, Paulo Renato Fonseca acredita em duas
saídas possíveis para a redução dos casos de dor crônica e maior
eficácia no tratamento são a oferta de mais analgésicos no Sistema Único
de Saúde (SUS) e a criação de centros de terapia exclusivamente
voltados para dor.
Mapa da dor crônica no Brasil
A dor crônica é aquela que, em geral, persiste por mais de
três meses e atrapalha as atividades diárias. Com o trata-
mento adequado, ela pode ser curada. Em parte significativa
dos casos, ela é resultante de uma dor aguda não tratada.
—
É necessário padronizar os remédios no SUS, que só oferta três
medicamentos “primos” da morfina. Isso é muito pouco. Com a
padronização, haverá mais remédios disponíveis. Mas só isso não resolve:
tem que vir, junto, a criação de centros de tratamento da dor. Imagine
um centro assim dentro de um instituto do câncer. Muitos pacientes
oncológicos teriam uma qualidade de vida melhor. Isso poderia nos
aproximar dos índices dos países desenvolvidos — sugere o
anestesiologista. Embora a dor seja entendida como o sintoma de algum problema de
saúde, no momento em que se torna crônica, ela é “promovida” a doença.
Por isso, precisa de tratamento específico, sob pena de incapacitar o
paciente para trabalhar ou realizar tarefas simples do dia a dia. Em 50%
dos casos, a dor crônica compromete seriamente a rotina. — Na maioria das vezes, a pessoa pode ser curada, mas o tratamento é
sempre de longo prazo, então é preciso levantar essa discussão no país
para que se possa investir mais no tratamento desses pacientes — pontua
Fonseca.
Esse tipo de dor pode surgir por causas variadas: alguma doença
infecciosa como chicungunha, herpes zoster ou Aids, como consequência de
uma dor aguda não tratada ou em decorrência de câncer, por exemplo. As
líderes do ranking, no país e no mundo, são a dor nas costas — também
chamada de lombalgia — e a dor de cabeça. PIORA COM USO DE CELULAR Dados dessa pesquisa
estão sendo discutidos na 4ª edição do Congresso da Sociedade Brasileira
de Médicos Intervencionistas em Dor (Sobramid), que termina hoje em
Campinas, São Paulo. O anestesiologista Charles Amaral de Oliveira,
presidente da organização, destaca que essas dores crônicas devem
aumentar ainda mais por conta do uso exagerado de celulares e tablets,
especialmente por jovens. — Estudos mostram que celulares e tablets são usados durante, em
média, quatro horas por dia. E, ao mexer nesses aparelhos, nossa cabeça
fica num ângulo de 60 graus, o que faz com que o peso dela passe dos
sete quilos habituais para 27 quilos. Esse hábito tem alto risco de
provocar uma cefaleia de origem cervical. Parece uma enxaqueca, mas é
mais séria. Isso vai ser uma epidemia no futuro — acredita ele. A média mundial de incidência de dor crônica é 35%, o que significa
que o Brasil já supera a marca. Enquanto países desenvolvidos como
Canadá, Holanda, Austrália e Japão mantêm esse índice na casa dos 20%,
os países latinos ficam em torno dos 40%. De acordo com o médico Paulo Renato Fonseca, isso acontece porque
quanto mais desenvolvido é o país, melhor sua população lida com a dor.
— O uso de analgésicos no Brasil é bem menor do que em países
desenvolvidos. Não porque os brasileiros sintam menos dor, mas porque
esses remédios não são administrados sempre que deveriam. As dores de um
pós-operatório, por exemplo, que são previstas, podem ser evitadas com o
uso adequado de medicação. Mas muitas vezes não o são. E uma dor aguda
maltratada pode acabar ocasionando uma dor crônica — afirma. Segundo ele, o problema é mais relatado no Sul e no Sudeste porque
essas são as regiões do país com mais alto Índice de Desenvolvimento
humano (IDH), e pessoas mais esclarecidas e menos resignadas em relação à
dor procuram mais os serviços médicos para se livrar do problema. Outro dado chama atenção: as mulheres são as que mais relatam sofrer
com dor crônica. A maior disparidade é encontrada na Região Norte: de
todos os pacientes com o problema, 67% são do sexo feminino. A
interpretação da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor é de que as
mulheres são, tradicionalmente, mais atentas para o surgimento de dores e
são as que mais frequentemente buscam atendimento médico. Fonte: O Globo
Debatedores sugerem punições mais rigorosas em casos de fraudes de inspeção sanitária
Leonardo Prado/Câmara dos Deputados
Debatedores concordaram em relação ao aumento do valor das multas
Participantes de debate defenderam nesta terça-feira (6) a aprovação da medida provisória (MP 772/17) que eleva a multa para quem infringir normas de inspeção sanitária e sugeriram punições mais rigorosas para grandes empresas envolvidas em irregularidades.
A audiência pública foi realizada pela comissão mista que discute o tema. A MP aumenta para até R$ 500 mil a multa a quem cometer infrações previstas na lei que regulamenta a produção e comercialização de produtos de origem animal (Lei 7.889/89).
Para o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, José Luís Vargas, a medida provisória é justa, uma vez que pune, de forma mais eficaz, as empresas que cometem fraudes.
“Se a MP não for aprovada, a multa mínima continuará em R$ 156,00. Ou seja, não vai coibir nada. Dessa forma, quem cometeu a irregularidade vai continuar pensando que a fraude compensa”, afirmou.
Sugestões Mas, mesmo ressaltando a importância da medida, os demais debatedores apresentaram algumas rsugestões ao texto. O secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Antoninho Rovaris, propôs punições que vão além do aumento do valor das multas.
“É preciso, também, ter outros mecanismos de punição e divulgar amplamente quais empresas são fraudulentas”, recomendou Rovaris. Ele afirmou, ainda, que as empresas de grande porte não são tão prejudicadas quanto as de porte menor.
“A multa não é suficiente para punir, da maneira mais adequada, as grandes empresas. Além da multa, elas não poderiam receber incentivo do governo e teriam que ser expostas sobre a irregularidade cometida”, concluiu.
O consultor jurídico da Associação Brasileira das Pequenas e Médias Cooperativas e Empresas de Laticínios Brasileiros, Daniel Amin, acrescentou mais um item na punição. “Dependendo da gravidade do caso, a empresa que cometeu a fraude deveria fechar as portas”, afirmou.
Nova legislação Daniel Amin recomendou, ainda, que o texto da medida provisória diferencie a punição das fraudes cometidas intencionalmente daquelas que foram cometidas por desinformação. “É preciso ver quando realmente há dolo”, afirmou.
O deputado Marcon (PT-RS) concordou com o consultor Jurídico. “As regras e multas para a pequena empresa devem ser as mesmas que para as grandes? ”, questionou. “Muitas vezes as pequenas indústrias são prejudicadas. A MP deve cuidar não só das multas, mas também de uma legislação exclusiva para as empresas pequenas”, completou.