O operador do guindaste que tombou com parte da cobertura da Arena Corinthians, em Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, na semana passada foi nesta quarta-feira (4) à delegacia que investiga o acidente prestar depoimento. Dois operários morreram: o motorista Fábio Luiz Pereira, de 41 anos, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, de 43. Eles trabalhavam para empresas terceirizadas. A construção do estádio está sendo conduzida pela parceria entre a Odebrecht e o Corinthians.
José Walter Joaquim, de 56 anos, chegou por volta das 10h ao 65º Distrito Policial, em Artur Alvim, acompanhado de advogado da empresa em que trabalha, a Locar. Ele não quis falar com a reportagem do G1.
Joaquim operava o aparelho que suporta uma carga de 1,5 mil toneladas. Ele içava uma peça de 420 toneladas quando a estrutura e o guindaste tombaram sobre parte do estádio, atingindo dois funcionários, por volta das 13h do dia 27 de novembro.
Apesar de ser investigado, o operador do guindaste irá prestar depoimento inicialmente na condição de testemunha. Os investigadores alegam que é prematuro apontarem suspeitos sem ainda terem o resultado dos laudos técnicos dos peritos a cerca das causas do acidente.
“O currículo do operador tem inúmeros certificados. É um depoimento importante para sabermos o que ele irá relatar que ocorreu no momento em que operava o guindaste”, disse o delegado Antonio da Cruz.
"Caixa Preta"
A “caixa-preta” do guindaste foi retirada na segunda-feira (2) pelos fabricantes do veículo e entregue a perícia da Polícia Técnico-Científica para análise. A informação foi confirmada pelo delegado Luiz Antonio da Cruz, titular do 65º DP, que investiga as circunstâncias, causas e eventuais responsabilidades pelo acidente.
“O HD [disco rígido] do guindaste foi retirado pelos alemães fabricantes do veículo [Liebherr] e entregue para a perícia do IC [Instituto de Criminalística]”, disse o delegado Luiz Antonio da Cruz. No equipamento constam informações das operações realizadas pelo guindaste.
Além da Polícia Civil, peritos do IC da Polícia Técnico-Científica apuram o caso para descobrir, entre três hipóteses prováveis, se o que o ocorreu foi causado por falha humana (do operador do guindaste), mecânica (devido algum problema da máquina) ou do terreno (pela inconformidade do solo, que teria tombado o aparelho). A perícia irá analisar os dados do guindaste modelo LR 11350, chamados pelos policiais de “caixa-preta”, para saber o que ocorreu na tarde da última quarta-feira (27). Também será periciado o vídeo que gravou o momento da queda da máquina.
De acordo com investigadores ouvidos pela equipe de reportagem, peritos deverão fazer uma cópia do disco computadorizado do guindaste para entrega-la aos representantes alemães da fabricante da máquina. Um aparelho na Alemanha poderia decodificar os dados armazenados.
O guindaste foi fabricado pela Liebherr Brasil, empresa de origem alemã. Apesar disso, a máquina pertence a Locar Transportes Técnicos e Guindastes Ltda, que disponibilizou o aparelho e o operador. As duas empresas não foram localizadas pelo G1 nesta terça para comentarem o assunto.
Obras retomadas
As obras no estádio do Corinthians foram retomadas na segunda-feira depois de um luto de cinco dias que interrompeu os trabalhos. Funcionários fizeram uma homenagem aos companheiros mortos: eles rezaram antes de iniciar os trabalhos. O ex-presidente alvinegro Andrés Sanchez e um padre participaram do ato.
Apesar disso, 5% da construção que foi atingida pela estrutura e pelo guindaste continuam interditados pela Defesa Civil. Peritos do IC trabalham em buscas de indícios do acidente no local. Além disso, na quinta-feira (28) técnicos do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) vetaram o uso das nove gruas e guindastes em uso pelos funcionários. Os procuradores querem que a construtora Odebrecht mostre que não há riscos para os trabalhadores de um novo acidente.
Diante disso, a Odebrecht informou que desde então estão sendo realizados trabalhos de revestimentos de paredes, pintura e instalações elétricas e hidráulicas. Cerca de 26 mil cadeiras já foram instaladas nas arquibancadas e o trabalho continua.
A empresa diz que, nos três níveis de subsolo do prédio, os trabalhos já estão praticamente concluídos. As atividades também prosseguem no gramado com manutenção, fixação de fibras sintéticas e instalação dos sistemas de resfriamento da grama.
O Ministério Público Estadual (MPE) também apura as causas dos acidente na esfera cível. A Promotoria de Habitação e Urbanismo analisa a possibilidade de embargar a obra.
Especulações
A retomada da obra no estádio do Corinthians foi cercada por uma nova rodada de especulações sobre as causas do acidente e sobre o impacto do problema no cronograma de entrega do estádio.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon) e deputado estadual, Antonio de Sousa Ramalho, voltou a Itaquera e reafirmou que mantém a versão de que um funcionário teria relatado problema no guindaste.
Na semana passada, a Odebrechet negou a versão do Sintracon e afirmou que o sindicato de Ramalho não representa os trabalhadores. O sindicalista, apesar de não saber informar quem é o representante do Sintracon na obra, disse que 11 entidades representam categorias diversas na obra e que sua entidade é uma delas.
Também nesta manhã, o presidente da Associação Brasileira de Engenheria e Consultoria Estrutural (ABECE), Jeferson Dias de Souza, acompanhou a retomada dos trabalhos e disse que o cronograma deve ser alterado. Entretanto, ele não soube informar de quanto tempo será o atraso. De acordo Souza, a ABECE acompanha as investigações de forma informal.
Tanto Odebrecht quanto Corinthians não divulgaram uma estimativa oficial do impacto do acidente no cronograma da obra e da entrega do estádio.
FONTE: G1