Choteau, Montana – Por toda a América do Norte – em lugares tão distantes quanto Montana e British Columbia, New Hampshire e Minnesota – as populações de alces estão sofrendo uma queda acentuada. E ninguém tem certeza do porquê.
Por toda a América do Norte – em lugares tão distantes quanto Montana e British Columbia, New Hampshire e Minnesota – as populações de alces estão sofrendo uma queda acentuada. E ninguém tem certeza do porquê.
Vinte anos atrás, Minnesota tinha duas populações geograficamente separadas de alces. Uma deles praticamente desapareceu desde a década de 1990, diminuindo de 4.000 para menos de 100.
A outra população, que habita o nordeste de Minnesota, tem caído 25% a cada ano. Antes tinha 8.000 indivíduos; agora tem menos de 3.000. (A taxa de mortalidade de alces costumava ser de 8% a 12% ao ano.) Como resultado, as autoridades da vida selvagem suspenderam todas as formas de caça aos alces.
Em Montana, o número de licenças para caça aos alces caiu de 769 em 1995 para 362 no ano passado.
"Alguma coisa mudou", disse Nicholas DeCesare, biólogo da Secretaria de Pesca, Vida Selvagem e Parques de Montana que está contabilizando quantos alces existem nessa parte do estado – um dos inúmeros esforços empreendidos em todo o continente para mensurar e explicar o declínio. "Hoje há menos alces, e os caçadores têm tido muita dificuldade de encontrá-los."
O que exatamente mudou ainda é um mistério. Há vários fatores que claramente têm contribuído para isso. Porém, um traço comum à maioria das hipóteses é a mudança climática.
Os invernos têm sido substancialmente mais curtos em grande parte dos territórios habitados por alces. Em New Hampshire, um outono mais longo e com menos neve aumentou em muito o número de carrapatos de inverno, um parasita devastador. 'Um único alce pode estar com 100 mil carrapatos', disse Kristine Rines, bióloga da Secretaria de Pesca e Caça do Estado.
Em Minnesota, os principais culpados são os vermes que atacam o cérebro e o fígado. Ambos passam parte de seu ciclo de vida dentro de caracóis, que se desenvolvem em ambientes úmidos.
Outra teoria está relacionada ao estresse sofrido com o calor. O frio é a temperatura adequada para o alce, e quando os termômetros chegam a marcar acima de -5 graus Celsius no inverno, como tem acontecido com mais frequência nos últimos anos, eles gastam mais energia para manter o organismo refrigerado. Isso pode levar à exaustão e à morte.
Um estudo recente realizado nas montanhas Cariboo da Colúmbia Britânica identificou a diminuição do número de alces em meio à matança generalizada da floresta por uma epidemia de besouros de pinheiros, que parecem se desenvolver consideravelmente em um clima mais quente. A perda de árvores deixou o alce exposto aos predadores humanos e animais.
Em Smithers, na Colúmbia Britânica, em abril, um alce – morrendo de fome e totalmente infestado de carrapatos – entrou na floricultura de um supermercado Safeway. Ele foi sacrificado.
A caça não regulamentada também pode influir consideravelmente na mortalidade dos alces, assim como os lobos em Minnesota e no oeste do país.
Os cientistas e as autoridades dizem que outros fatores ainda podem ser identificados. Como a maioria dos alces morre no outono, os próximos meses podem ter muito a indicar.
'É complicado, porque muitas peças desse quebra-cabeça podem ser afetadas pela mudança climática', disse Erika Butler, que até recentemente era veterinária de espécies selvagens da Secretaria de Recursos Naturais de Minnesota.
Não apenas os alces correm riscos. Os animais são engenheiros do ecossistema; quando passam por arbustos, por exemplo, criam o habitat adequado para algumas aves nidificadoras.
Além disso, os alces contribuem para a economia. Em New Hampshire, por exemplo, o turismo de observação de alces é um negócio que gera 115 milhões de dólares por ano, de acordo com Rines. As licenças de caça também geram receita.
É difícil estudar as mortes de alces, dizem os cientistas. O alce faz parte da família do veado, mas ao contrário do veado, ele é um animal solitário, que não corre em rebanhos, de modo que pode ser difícil rastreá-lo. Além disso, os alces têm níveis tão altos de gordura corporal que se decompõem rapidamente; após 24 horas, a necropsia tem pouco valor.
Em janeiro, o estado de Minnesota deu início a um estudo incomum de 1,2 milhões de dólares usando tecnologias avançadas de monitoramento para localizar alces assim que eles morrem. Os animais vivos são capturados e equipados com colares que fornecem a sua localização a cada 15 minutos, e recebem alimentos que contém um pequeno transmissor que permanece no corpo e monitora o ritmo cardíaco e a temperatura. Em seguida, os alces são soltos e voltam à vida selvagem.
'Se o coração para de bater, o aparelho envia uma mensagem de texto para o nosso telefone que diz: 'Eu estou morto nas coordenadas x e y'', disse Butler, que lidera o estudo. As mensagens são monitoradas o tempo todo; quando um alce morre, uma equipe de plantão corre para o local de carro ou helicóptero.
O problema dos carrapatos de inverno em New Hampshire é particularmente irritante. Os animais perdem tanto sangue que podem se tornar anêmicos. Pior ainda, os carrapatos fazem com que o animal enlouqueça, eles se coçam constantemente, chegando a arrancar grandes quantidades de pelo.
Alguns alces perdem tanto pelo que parecem pálidos, quase que fantasmagóricos; algumas pessoas os chamam de 'alces fantasmas'. Quando chove na primavera, o alce, privados desses seus 'casacos', pode sofrer de hipotermia.
As infestações de carrapatos de inverno ocorrem no outono, quando se acomodam no corpo do seu hospedeiro. Eles ficam dormentes até janeiro ou fevereiro, quando começam a se alimentar, se tornam adultos e caem fora.
Os alces passam bastante tempo se alimentando em lagos, mas ficar na água não afoga os carrapatos, que formam uma bolha de ar que lhes permite sobreviver à imersão.
O problema dos carrapatos de inverno em New Hampshire é um fenômeno relativamente recente. Todavia, os alces também são. Os animais foram caçados em demasia durante os tempos coloniais, sendo extintos, e voltaram ao estado apenas em 1970.
Os alces, ao contrário dos veados, ainda não evoluíram até adquirirem um equilíbrio ecológico com os carrapatos.
Os veados são animais que costumavam se limpar, de modo que mantêm o número de carrapatos bastante baixo. Por outro lado, disse a bióloga Rines, 'o alce não evoluiu com os carrapatos, e não consegue removê-los'. Isso levou a uma infestação de carrapatos.
A solução para o problema dos carrapatos pode ser, paradoxalmente, intensificar a caça aos alces. 'Depende das pessoas', disse ela. 'Podemos matar um número maior de animais se quisermos mais alces saudáveis.'
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FONTE: MSN