O presidente Nicolás Maduro ordenou nesta segunda-feira a expulsão de três diplomatas, incluindo a encarregada de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Caracas, que ele acusa de fomentar atos de sabotagem econômica e elétrica na Venezuela, em conluio com a oposição.
"Ordeno ao chanceler Elías Jaua que proceda à sua expulsão do país. Os funcionários têm 48 horas para deixar o país (...) 'Yankees, go home', fora da Venezuela", disse Maduro, em um inflamado discurso público, sem especificar as acusações contra os diplomatas.
A encarregada de negócios dos Estados Unidos na Venezuela, Kelly Keiderling, está entre os três diplomatas expulsos hoje, de acordo com a página da delegação na internet. Ela é a funcionária de mais alto escalão dos EUA em Caracas atualmente. Kelly está nessa sede desde 2011, à qual chegou como ministra conselheira.
Maduro anunciou a expulsão de "Kelly Keiderling, Elizabeth Hoffman e David Moo". Uma fonte da embaixada consultada por telefone pela AFP disse que os outros dois diplomatas seriam parte da "seção política". A mesma fonte informou que ainda espera uma "notificação oficial do governo venezuelano" para confirmar os nomes dos expulsos.
Segundo a televisão estatal, que divulgou supostas provas contra os diplomatas, Moo era vice-cônsul, e Hoffman, conselheira política. Inicialmente, os nomes de ambos foram divulgados de forma incorreta.
O presidente venezuelano acusou os diplomatas de se reunirem "com a extrema direita venezuelana" para "financiá-los e estimular ações para sabotar o sistema elétrico e a economia" do país.
No dia 3 de setembro, uma falha elétrica deixou cerca de 70% do território venezuelano sem luz por várias horas. Além disso, nos últimos meses, a escassez de alimentos e de outros produtos aumentou, o que é atribuído pelo presidente a uma "sabotagem" da oposição. O objetivo seria, de acordo com o governo, promover protestos sociais.
"Não importam as ações que o governo Barack Obama tomar! Não vamos permitir que um governo imperial venha trazer dinheiro para ver parar as empresas básicas e ver parar a eletricidade para apagar toda a Venezuela", acrescentou Maduro, em um ato militar no estado de Falcón (noroeste).
Estados Unidos e Venezuela se mantêm sem embaixadores desde 2010, embora os americanos continuem sendo os maiores compradores do petróleo do país sul-americano.
-- Provas contra os EUA --
"Temos suficientes provas reunidas sobre a atitude hostil, ilegal, intervencionista de vários funcionários da embaixada dos Estados Unidos (...). Já chega de abusos contra a dignidade de uma pátria que quer paz", acrescentou Maduro.
Como supostas provas contra os diplomatas, a televisão pública divulgou imagens de jornais que mostram viagens dos americanos ao interior da Venezuela. Mostram ainda listas de passageiros nos voos em que eles estavam e fotografias nos aeroportos. Segundo a emissora, os diplomatas se reuniram com membros de partidos e dirigentes da oposição, entre eles a deputada María Corina, para planejar "ações desestabilizadoras" e "avaliar as estratégias" de olho nas próximas eleições a prefeito de 8 de dezembro.
Maduro, que assumiu o poder em 19 de abril, acusou a oposição em várias ocasiões de estar por trás dos apagões e dos problemas econômicos que se aprofundaram nos últimos meses.
Essa é a primeira vez, porém, que o governo Venezuelano acusa diretamente diplomatas americanas de promover essas ações.
O presidente elevou o tom contra Washington nos últimos dias, depois de denunciar que os EUA não autorizaram o uso de seu espaço aéreo, quando se dirigia para a China para uma visita oficial na semana passada.
Após esse incidente, Maduro cancelou sua participação na Assembleia Geral da ONU em Nova York na última quarta. Ele denunciou supostos atentados contra sua vida, enquanto estivesse na cidade e culpou a oposição ligada com grupos de extrema direita dos Estados Unidos.
O analista Luis Vicente León, diretor da empresa Daranálisis, lamentou em sua conta no Twitter a expulsão da encarregada de negócios dos EUA. Para ele, o episódio enfraquece as relações entre ambos os países e "nos afasta do equilíbrio" econômico.
Em junho, após uma reunião entre o chanceler venezuelano Elías Jaua e o secretário de Estado americano, John Kerry, os dois países concordaram em iniciar um diálogo para obter o retorno dos embaixadores. O contato foi rompido um mês mais tarde, depois que a agora embaixadora americana na ONU, Samantha Power, responsabilizou o governo venezuelano de atos de repressão.
Essa é a segunda vez no ano que o governo venezuelano expulsa diplomatas americanos. Em 5 de março passado, algumas horas antes do anúncio do falecimento do presidente Hugo Chávez (1999-2013), o governo venezuelano expulsou dois adidos militares da representação diplomática por, supostamente, promoverem "projetos desestabilizadores" contra o governo.