quarta-feira, 19 de maio de 2021

Pazuello ataca Renan, dispensa habeas corpus e nega 'ordens' de Bolsonaro

 BRASIL

O ex-ministro Eduardo Pazuello negou hoje, em depoimento à CPI da Covid, ter recebido ordens diretas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em relação a temas específicos como a compra de vacinas e o incentivo ao uso da cloroquina e remédios sem eficácia científica comprovada no tratamento da doença. Pazuello afirmou expressamente que Bolsonaro nunca mandou o Ministério da Saúde desfazer qualquer contrato com o Instituto Butantan para aquisição de doses da CoronaVac. 

A declaração evidencia uma contradição. Em outubro do ano passado, o então chefe da pasta federal apareceu publicamente ao lado do presidente e afirmou: "Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece. Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar, dá para desenrolar." O episódio ficou marcado como uma desautorização pública do chefe frente à condução do Ministério da Saúde e, em especial, aos procedimentos para compra de vacinas contra a covid-19. 


A incoerência foi objeto de insistência por parte de outros senadores, que ainda não se sentem satisfeitos com a explicação. Até 13h, o ex-ministro havia se manifestado em todas as perguntas feitas durante a audiência. Ou seja, ele optou, até o começo da tarde, por não fazer uso do habeas corpus preventivo concedido pelo Supremo Tribunal Federal. A decisão preserva o direito de o depoente não responder a questionamentos que possam, de alguma forma, incriminá-lo. Mesmo respondendo às indagações dos membros da CPI, a postura de Pazuello irritou o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), e levou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), a dar uma bronca. Renan reclamou diversas vezes ao alegar que Pazuello agia com prolixidade e não oferecia respostas objetivas. Em dado momento, depois de uma pergunta sobre a condução das negociações com a Pfizer, o ex-ministro —que é general da ativa do Exército e conhecido por ter pavio curto— reagiu: 

"Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor, eu não posso negociar com a empresa" , respondeu o militar, ao ser confrontado com a tese de que ele não teria assumido "protagonismo" no diálogo com a farmacêutica. "Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o Ministro. Se o Ministro... Jamais deve receber uma empresa, o senhor deveria saber disso." A fala de Pazuello foi classificada por parlamentares da oposição como "provocação" e "desrespeito" . "Vou responder novamente: as respostas foram respondidas inúmeras vezes na negociação. Nós nunca fechamos a porta. Queremos comprar a Pfizer o tempo todo. 


O senhor me desculpe, eu acho que o senhor [em referência a Renan] está conduzindo a conversa" , emendou o ex-ministro. Aziz então o repreendeu: "Não faça isso. (...) Vossa excelência não tem que dar opinião sobre pergunta de senador." A blitz da oposição e de parlamentares da ala independente contra Pazuello e o governo também levou a reações mais exaltadas dos componentes da base de apoio a Bolsonaro. Em um dos debates acalorados, o senador Heinze (Progressistas-RS) pediu a palavra para defender o Executivo e foi chamado de "mentiroso" pelo presidente da comissão.



Fonte: Notícias UOL/Hanrrikson de Andrade, Rayanne Albuquerque e Luciana Amaral 

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

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