sábado, 9 de maio de 2020

Sem ação, populações morrerão de fome, não só de coronavírus, diz diretor de programa da ONU

COVID-19

Programa Mundial de Alimentos estima que pandemia leve outros 130 milhões de pessoas à falta de alimentos



Em 2019, 135 milhões de pessoas em 55 países e territórios venderam seus últimos bens para conseguir comprar comida ou já não tinham mais acesso a nenhum alimento. Entre as razões para essa crise alimentar, estão conflitos políticos e sociais, mudanças do clima e a deterioração econômica.Não havia na conta ainda o impacto da pandemia de Covid-19, que em 2020 fechou fronteiras, parou economias inteiras, deixou populações sem trabalho e pode levar outras 130 milhões de pessoas à falta de alimentos.É um risco que o diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, David Beasley, classificou como “fome de proporções bíblicas” ao Conselho de Segurança.

Em entrevista à Folha, o diretor regional para América Latina e Caribe da instituição, Miguel Barreto, diz que uma pandemia de fome, aliada à sanitária já em curso, vai resultar em muitas mortes por falta de comida.“Se não atendermos rapidamente essas populações [em risco], muito provavelmente vamos ter também populações que morrerão de fome.”Miguel Barreto, diretor regional para América Latina e Caribe do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU Miguel Barreto, diretor regional para América Latina e Caribe do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU.


Houve uma queda entre 2017 e 2018 na quantidade de pessoas em crise alimentar, número que volta a subir em 2019. A que o senhor atribui esse aumento? Basicamente a três fatores: ao aumento nos conflitos no mundo, ao impacto das mudanças climáticas particularmente e à deterioração da situação econômica e social em alguns desses países.O relatório afirma que 47 países estão em risco de entrar em crise alimentar devido a algum fator extra, além desses três.


É um risco que o diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, David Beasley, classificou como “fome de proporções bíblicas” ao Conselho de Segurança.Em entrevista à Folha, o diretor regional para América Latina e Caribe da instituição, Miguel Barreto, diz que uma pandemia de fome, aliada à sanitária já em curso, vai resultar em muitas mortes por falta de comida.

 A pandemia pode ser esse fator? Sim, sem dúvida devido particularmente ao isolamento social que está em vigor em muitos países e à redução do rendimento econômico que se prevê já, de acordo com muitas organizações, com um impacto na renda de famílias mais vulneráveis. O principal problema no mundo é o acesso ao alimento. Se não há renda, não se consomem alimentos.

 Por isso que se prevê uma deterioração.Há regiões, como a América Latina, onde há um grande número de trabalhadores informais, portanto o agravamento [da crise] vai ser ainda pior em países onde o nível de economia informal é alto, porque não podem trabalhar, não podem gerar renda.​​Quais são as principais consequências de uma crise alimentar devido ao coronavírus? A falta de emprego e de renda em economias que funcionam, a dificuldade de recursos financeiros para atender lugares onde há conflitos ou com inundações e onde se requer maior quantidade de recursos para que se possa seguir apoiando essas populações, que neste momento estão em crise, porque não podem contar com o mercado porque o mercado está afetado pela falta de trabalho.


Como se dá a inserção do fator Covid-19 em lugares que já estão em crise? Nas áreas de conflito, os mercados estão quebrados. Isso significa que as populações precisam diretamente de assistência alimentar. Se existe um aumento de casos de Covid-19 nesses países, provavelmente vai haver um impacto correlativo.Então, é preciso repensar as modalidades de intervenção. Por exemplo, uma área muito importante é a alimentação escolar, que fornecemos em áreas de conflito. Mas não podendo ter pessoas aglomeradas, o que se está fazendo agora é aumentar a forma de assistência. Por exemplo, entregar alimentos nas casas dessas pessoas ou fornecer cupons onde ainda há mercados em funcionamento para que possam comprar seus alimentos e levar para casa.


Quais são os impactos da pandemia no trabalho humanitário? Primeiramente, a restrição de fronteiras fechadas tem um impacto na movimentação de funcionários de trabalho humanitário. O segundo impacto é termos que mudar as formas de assistência porque não se pode trabalhar agora em grupos comunitários grandes.

 E o importante para esse trabalho, além do aumento de recursos financeiros nas redes de proteção social e mais recursos para organizações humanitárias, é que os países não fechem fronteiras para o comércio de alimentos.Em segundo lugar, o que está fazendo a ONU, por meio do PMA, é abrir corredores para passageiros e cargas humanitárias em determinados países para que não se restrinja o apoio.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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