domingo, 31 de março de 2019

Milícias chegam a 26 bairros do Rio e a outras 14 cidades do estado

BRASIL
Somente no município do Rio, estão sob o jugo de milicianos, direta ou indiretamente, cerca de 2,2 milhões de pessoas

Rio das Pedras, comunidade da Zona Oeste do Rio (Arquivo) Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Assim como a Hidra de Lerna, monstro da mitologia grega quase invencível porque suas cabeças, quando decepadas, se reconstituíam, as milícias parecem se regenerar depois de cada golpe imposto por investigadores e promotores. Há 20 anos, existia apenas um grupo paramilitar no estado, em Rio das Pedras. Hoje, centenas de prisões depois, com uma CPI das Milícias no meio, as quadrilhas atuam em um território cada vez maior: estão presentes em 14 cidades do estado e fincaram raízes em 26 bairros da capital. Somente no município do Rio, estão sob o jugo de milicianos, direta ou indiretamente, cerca de 2,2 milhões de pessoas.
Sem abandonar antigas modalidades criminosas, como a exploração de transporte clandestino, a venda pirata de sinais de TV a cabo e a cobrança de taxas de segurança, as milícias passaram a investir em novas atividades, dificultando, assim, as ações do poder público. Investigações do Ministério Público estadual e da Secretaria de Polícia Civil apontam que os grupos paramilitares atuam, por exemplo, na extração de areia para obras e em agiotagem, grilagem e contrabando de cigarros. Aos negócios em terra, como o controle quase total da ocupação do solo em várias áreas da cidade, somam-se frentes abertas na Baía de Guanabara, onde já se tem notícias de extorsão de dinheiro de pescadores.
Agora, a expansão desses grupos conta com pontuais associações a traficantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP), que, em algumas regiões, passaram a ser mais ameaçados pelos rivais do Comando Vermelho (CV). Nessa guerra, a Cidade de Deus, em Jacarepaguá, virou uma área estratégica para a execução de um plano ambicioso: avançar sobre a Zona Norte, a partir da tomada de comunidades de Madureira.
— A milícia está investindo na Cidade de Deus. Se dominá-la, fechará uma espécie de cinturão na Zona Oeste. Ao mesmo tempo, ela resiste a tentativas do tráfico de retomar a Praça Seca e a Covanca. A partir dali, Madureira é o primeiro alvo. Pelas informações de que disponho, a ideia é avançar em direção à Zona Norte — alerta o promotor Luiz Antônio Ayres, um dos maiores especialistas em milícia do estado e que há duas décadas atua na Zona Oeste. — Se conseguirem o que desejam, os paramilitares terão o controle das comunidades do lado esquerdo da Avenida Brasil, no sentido da Rio-Santos. Na minha opinião, há um plano muito claro de invasão de territórios baseado em ações coordenadas, sem tiro a esmo, que exigem paciência.

O GLOBO

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