sábado, 16 de fevereiro de 2019

Abad critica postura de Vasco e Maracanã e convoca torcida do Fluminense para "guerra" na final



Por Felipe Siqueira — Rio de Janeiro
 

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Pedro Abad convoca torcida do Fluminense para guerra contra o Vasco
O presidente do Fluminense, Pedro Abad, concedeu uma entrevista coletiva para o fim da tarde deste sábado para se pronunciar sobre a polêmica em relação a que torcida deve ocupar o setor sul da arquibancada do Maracanã na final da Taça Guanabara entre Vasco e Fluminense, neste domingo, a partir das 17h.
Indignado, o dirigente criticou Vasco e Consórcio Maracanã por descumprirem decisão judicial, referindo-se à liminar concedia pelo Tribunal de Justiça na última sexta reafirmando direito do Flu em utilizar o setor sul com base no contrato de 2013 com a empresa que administra o estádio.
Abad se disse contra a realização do jogo nos moldes atuais, mas garantiu que o Tricolor jogará a partida e convocou os torcedores tricolores à "guerra", no sentido de lotar o setor norte para apoiar o time.
- O Fluminense não concorda em nada com a organização desse jogo. Não abrimos pontos de venda em Laranjeiras. Não concordamos com isso. Mas quero chamar nosso torcedor para a guerra amanhã. Quero dizer que nossos jogadores estão treinando até 1h30 da tarde, em um sol escaldante, estão se matando de treinar. E temos que ganhar o jogo amanhã. Nós vamos ganhar. Vamos para dentro. O time precisa do torcedor. Eu quero que vocês lotem aquele setor que não é o nosso (norte), que não é ali que é o nosso lugar. Mas o time é mais importante do que essa questão amanhã. Vamos lá para guerrear, para batalhar.
Perguntado se o discurso poderia incitar a violência, Abad explicou:
- A guerra é dentro do campo. Nosso clube é o time de guerreiros. Falo de guerra saudável. Não estou pedindo ao nosso torcedor para brigar com ninguém, muito pelo contrário. Quero um ambiente pacífico, com foco dentro das quatro linhas.
- A torcida do Fluminense não é violenta. Temos seis anos de Fluminense x Vasco sem brigas. Essa expressão "ir para guerra" treinadores já falaram. Não é para misturar as coisas. Convocar para guerra é chamar o torcedor para apoiar.
Os torcedores do Fluminense poderão comprar ingressos para o setor norte nas bilheterias 1 e 4 do Maracanã das 10 às 17h45 neste domingo. Não haverá vendas nas Laranjeiras. Saiba detalhes da venda de ingressos
Na parte da manhã, Abad se reuniu na Ferj com o presidente do Vasco, Alexandre Campello, e o presidente do Consórcio Maracanã, Mauro Dorzé. Nesta tarde, sem citar nomes, o dirigente afirmou que, "se tiver confusão, se tiver briga, se tiver acidente, se tiver morte" o departamento jurídico do Fluminense estará pronto para responsabilizar "as pessoas que produziram essa aberração". E referiu como responsáveis "duas pessoas" que decidiram "mudar as regras".
- Se tiver confusão, se tiver briga, se tiver acidente, se tiver morte, podemos colocar a responsabilidade em cima das pessoas que produziram essa aberração. Há seis anos que temos Fluminense e Vasco jogando no Maracanã sob essas regras e duas pessoas decidiram mudar. Que arquem com as responsabilidades quando der problema. Porque nós vamos fazer com que essas responsabilidades sejam arcadas. Podem ter certeza disso. O Fluminense vai quente e vai para dentro se algum torcedor nosso tiver algum problema de violência por causa de desencontro de setores amanhã. Nosso corpo jurídico já está preparado para isso.
Presidente do Fluminense, Pedro Abad concede entrevista coletiva na sede das Laranjeiras — Foto: Felipe SiqueiraPresidente do Fluminense, Pedro Abad concede entrevista coletiva na sede das Laranjeiras — Foto: Felipe Siqueira
Presidente do Fluminense, Pedro Abad concede entrevista coletiva na sede das Laranjeiras — Foto: Felipe Siqueira

Advogados do Fluminense foram ameaçados em São Januário, diz presidente

Abad relatou também que uma advogada e um advogado do Fluminense, que estiveram em São Januário durante a semana para comunicar o clube da liminar, receberam ameaças:
- Nossos advogados foram a São Januário, foram ameaçados. Uma mulher, inclusive, e nosso outro advogado, foram ameaçados de murro e de soco. O diretor jurídico do Vasco sabia que eles iam lá e não poupou os colegas desse constrangimento. Não foram recebidos e comunicamos à Ferj, que então comunicou o Vasco.
- Mandamos dois advogados a São Januário. Eles não puderam entrar no Vasco para entregar a cópia da decisão liminar, uma descortesia jurídica entre colegas que fazem o mesmo trabalho. E diversas pessoas - eu não estava lá e não sei precisar quem foram, se eram torcedores - ameaçando: “Tem que dar murro mesmo, tem que bater”. Vocês imaginam, nessa cultura de ódio que vivemos no país, uma horda de pessoas atacando uma mãe de família e um advogado. Realmente lamentável. Muito triste. As pessoas costumam atribuir a truculência ao Eurico Miranda, mas não está na raiz do Eurico não, está em um raiz maior ainda...
Confira os melhores trechos da coletiva de Pedro Abad:
Pronunciamento de Pedro Abad:
Vim explicar diversos aspectos sobre o absurdo que vêm sendo cometidos contra o Fluminense, no direito legítimo do Fluminense de ocupar o estádio do Maracanã e desenvolver suas atividades. Importante deixar muito claro para o torcedor o que vem acontecendo.
Na época da Copa, o Maracanã passou por um processo licitatório onde eram necessários dois clubes para que essa concessão ficasse de pé. O Fluminense foi o primeiro clube que assinou esse contrato, posteriormente o Botafogo assinou e a concessão foi à frente, e depois o Botafogo saiu. O Fluminense é quem manteve a concessão de pé. Posteriormente o Flamengo assinou contratos menores. E quem mantém contrato de longo prazo é o Fluminense.
Uma das cláusulas desse contrato diz que o Fluminense, no intuito de fidelizar seu torcedor, ficaria em lugar fixo no estádio, lado sul, ainda que como visitante. Isso está expresso no contrato. Textualmente. A única forma disso ser desfeito é mediante um acordo, ao qual o Fluminense teria que aceitar.
Assim foi. E passaram diversos presidentes da Complexo Maracanã, diversos presidentes do Vasco da Gama, e essa cláusula sempre foi respeitada. Que o Vasco brigue pelos seus direitos, entendemos. O que não faz parte é ver que a pessoa jurídica com a qual a gente tem contrato atuar contra o cliente dela e descumprir o contrato – isso nunca havia acontecido, até que essa nova presidência, do Mauro Darzé, resolveu mudar seu procedimento. Quero deixar muito claro que essa situação estava consolidada, com diversos presidentes – houve três da Complexo Maracanã e dois do Vasco antes.
Quando houve o sorteio do mando de campo da Taça Guanabara e foi eleito o vencedor de Vasco x Resende, eu já prevendo o que poderia acontecer, imaginei que daria problema. Após o apito final do Fla-Flu, mandei imediatamente uma mensagem para o presidente da Complexo Maracanã: “Só para lembrar: o lado sul pertence ao torcedor do Fluminense”. E o Mauro Darzé desconversou.
Posteriormente houve a reunião de jogo na federação, na sexta-feira, e compareci pessoalmente à reunião. O presidente do Vasco não estava e o presidente da federação se encontrava na missa de 7º dia dos meninos do Flamengo. Percebi que as coisas não estavam andando bem. Fui pessoalmente, andando, e notifiquei o Maracanã por escrito – foram também notificados por e-mail – desta condição contratual.
Independemente disso, houve, por parte do Vasco, o início das vendas de ingresso, indevidamente, dada à notificação que fizemos ao Maracanã – quando esse deveria comunicar ao seu cliente que não poderia fazer isso. Nós entendemos que precisaríamos ir ao poder judiciário para garantir nossos interesses. De fato fomos. Não é uma ação isolada. Existe em curso um processo judicial entre Complexo Maracanã e Fluminense discutindo as questões contratuais em que o juiz responsável conhece amplamente o contrato e todas as condições do processo. O juiz nos recebeu no tribunal, entendeu de pronto que o Fluminense tinha razão e proferiu uma liminar que obrigava o Complexo Maracanã a fazer com que destinasse o setor sul aos torcedores do Fluminense.
Informamos o Vasco da Gama do ocorrido. Nossos advogados foram a São Januário, foram ameaçados. Uma mulher, inclusive, e nosso outro advogado, foram ameaçados de murro e de soco. O diretor jurídico do Vasco sabia que eles iam lá e não poupou os colegas desse constrangimento. Não foram recebidos e comunicamos à Ferj, que então comunicou o Vasco.
É importante deixar muito claro que houve um descumprimento explícito de uma ordem judicial. Isso é muito sério. Em uma época onde todo mundo fala de acabar com corrupção e desrespeito às leis, o que aconteceu foi um descumprimento expresso e deliberado de uma ordem judicial. Isso vai ser levado ao juiz na segunda-feira que a ordem dele foi descumprida.
Hoje pela manhã fui convidado pelo presidente Rubens Lopes e coloquei muito claramente todas as questões. E coloquei, inclusive, que esta confusão estava sendo causada pela Complexo Maracanã na figura de seu presidente.
É lamentável isso tudo. O Fluminense, como cliente do Maracanã de longo prazo e muitos jogos no ano, se sente muito desrespeitado pelo Consórcio, que tomou, momentaneamente e equivocadamente, ainda que pelo aspecto comercial, de um outro clube, com quem não detém qualquer tipo de contrato fixo. E isso obviamente vai ter impacto no futuro e ainda vamos analisar qual é.
De qualquer maneira, diferentemente do que já foi feito anteriormente, o Fluminense não foge da briga. Então quero aproveitar aqui, ainda que deixando claro que o Fluminense não concorda em nada do que foi tratado na reunião na federação – não houve nenhum tipo de acordo, o Fluminense não cedeu nada. O presidente da federação sugeriu que fizéssemos o jogo no Nilton Santos, o Bepe disse que os comandados dele estavam previsto para ir ao Maracanã, não ao Nilton Santos, diferença de 3km, enfim, não entendo. Foi consultado o dr. Marcos Kac, do Gaedest, do grupamento do judiciário que analisa as questões de violência nos estádios, e ele deixou claro a todos por viva-voz e lamentava profundamente o descumprimento de uma ordem judicial e que naquele momento ele não teria muito a opinar e que a segurança era o mais importante naquele momento.
O Fluminense não concorda em nada com a organização desse jogo. Não abrimos pontos de venda em Laranjeiras. Não concordamos com isso. Mas quero chamar nosso torcedor para a guerra amanhã. Quero dizer que nossos jogadores estão treinado até 1h30 da tarde, em um sol escaldante, estão se matando de treinar. E temos que ganhar o jogo amanhã. Nós vamos ganhar. Vamos para dentro. O time precisa do torcedor. Eu quero que vocês lotem aquele setor que não é o nosso, que não é ali que é o nosso lugar. Mas o time é mais importante do que essa questão amanhã. Eu estarei lá. Vamos lá para guerrear, para batalhar.
Quero aproveitar para dizer. Se tiver confusão, se tiver briga, se tiver acidente, se tiver morte, podemos colocar a responsabilidade em cima das pessoas que produziram essa aberração. Há seis anos que temos Fluminense e Vasco jogando no Maracanã sob essas regras e duas pessoas decidiram mudar. Que arquem com as responsabilidades quando der problema. Porque nós vamos fazer essas responsabilidades sejam arcadas. Podem ter certeza disso. O Fluminense vai quente e vai para dentro se algum torcedor nosso tiver algum problema de violência por causa de desencontro de setores amanhã. Nosso corpo jurídico já está preparado para isso.
E na segunda-feira, o juiz vai ser comunicado da desobediência deliberada da ordem judicial que foi proferida. Vamos deixar muito claro que temos uma decisão judicial que reconhece o nosso direito, que não foi cassada, que não foi suprimida, e está em pleno vigor e continua sistemática e deliberadamente sendo descumprida. O Fluminense pauta sempre a sua atuação pela defesa dos seus interesses. Vamos continuar fazendo isso.
Amanhã é ir para o jogo e apoiar nosso time, porque no gogó a nossa torcida é a melhor disparada, seja no norte, seja no sul, seja com mil, 5 mil ou 10 mil. Estou pedindo ao torcedor: “Precisamos muito de você. Queremos você no estádio”. Vamos ganhar esse jogo e vamos ser campeões. Isso, no fim das contas, é o mais importante. Precisamos de sua ajuda e sua presença no estádio.
Já vi manifestações do Complexo Maracanã dizendo que o Fluminense viola o contrato. Qualquer erro no contrato existe um instrumento próprio que é a notificação. Então se existe alguma coisa que comunique o Fluminense, que o Fluminense tem tempo para corrigir. O que não pode acontecer é o que aconteceu agora, que não há tempo hábil para corrigir e que tudo é feito para criar atos consumados para alegar que não tem como reverter.
Respostas a perguntas
Rebatendo posição do Consórcio MaracanãO que mais ouço por parte do representante do Complexo Maracanã são sofismos, que "temos que preservar o futebol, que o futebol é para todos, que o Maracanã é para todos". O Maracanã é para todos. O Vasco pode jogar no Maracanã quando ele quiser. Ocorre que diz uma cláusula no contrato que diz que o Fluminense, seja mandante, seja visitante, tem o direito de alocar seus visitantes no lado sul. Então é uma balela dizer que isso impede o Vasco de operar os jogos no Maracanã. O patrimônio público continua tendo a destinação devida, que é servir a toda população do RJ e seus torcedores. Agora, existe um contrato assinado. Ou se respeita o contrato ou não se respeita. Se o regulamento diz que o mandante escolhe o estádio, ele escolhe o estádio. Qualquer mandante pode escolher, sabendo que no Maracanã existe essa limitação. Qualquer clube pode escolher outro estádio. No regulamento diz que também tem Nilton Santos e Volta Redonda. Qualquer clube que quiser mandar jogo contra o Fluminense no Maracanã, tem que respeitar. E isso vai ser confirmado judicialmente, como neste momento confirmado.
Por que jogar?
Posso garantir ao torcedor que a minha indignação é muito maior que a dele. Mas ao mesmo tempo tenho responsabilidade com a instituição. Não jogar é romper contrato com a Globo, com a federação, desrespeitar o torcedor que quer ver o Fluminense. Não vamos fazer isso. Não existe essa possibilidade. Da mesma forma que o Fluminense está exigindo que se cumpra o contrato, o Fluminense não rompe contrato. Vai jogar, vai entrar em campo com sua força máxima e vai ganhar o jogo. Ainda que extremamente indignado como estou.
O jogo vai ocorrer. O Fluminense entende que no futebol de hoje não existe espaço para este tipo de bravata. Ir para justiça comum para obter efeitos desportivos tem consequências muito sérias. Somos totalmente responsáveis. Isso não quer dizer que o Fluminense não continue brigando por aquilo que é correto.
ContratoEstá claríssimo. A única forma de não vigorar é mediante um acordo com o Fluminense ainda que mediado pela concessionária. Acordo pressupõe vontade das duas partes. E a vontade do Fluminense nunca será abrir mão desse lado.
Eurico Miranda
Poucas pessoas entendem tanto dos meandros do futebol como Eurico Miranda. Na minha opinião ele seja quem mais entende. E ele reconheceu (o acordo). Se nem o Eurico Miranda conseguiu isso, só seria possível mesmo mediante uma atuação lamentável de quem está operando o estádio. E foi o que aconteceu. Pode ter certeza que está muito bem caracterizado no contrato. Foi uma condição nossa na negociação. Eu era membro do conselho fiscal na época, conversei com o presidente. Não existe a menor dúvida do direito do Fluminense, reconhecido judicialmente.
IngressosOs ingressos estão à venda para o setor norte, até onde eu sei. Aqui em Laranjeiras não vamos vender em protesto a esta palhaçada. Os torcedores do Fluminense podem comprar nos demais pontos, no Maracanã, lojas... O Vasco colocou à disposição para quem quiser saber. Quem está fazendo toda a operação é o Vasco, eles que começaram a vender ingressos antes da hora, venderam ingresso contra ordem judicial, mas existe o serviço do jogo, deve ter no site deles como compra.
Proposta na reunião de vender norte para Flu até igualar sul vendida para Vasco
Houve essa proposta. O Fluminense se posicionou de forma desinteressada, porque já estava tudo estragado. Foi o que o presidente Rubens solicitou ao Vasco. E obviamente o Vasco descumpriu mais uma vez. Precisou o Rubens intervir novamente. É só mais uma cerejinha nesse bolo, o descumprimento até do que as demais partes acordaram. Ainda que houvesse o compromisso de não continuar as vendas, continuou ocorrendo, comprovado pelo pessoal de arenas, que acessou o site onde eram feitas as compras. Até o ético dentro do antiético foi descumprido.
Opção do Vasco de abrir vendas seria má fé?
Questões jurídicas me impedem de dizer o que eu realmente quero dizer. Mas foi a tentativa de criar um fato consumado. Foi deliberadamente uma estratégia.
— Foto: Divulgação
GLOBO ESPORTE 

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