TECNOLOGIA
O smartphone com tela dobrável vai atacar seu bolso, mas estará vinculado também a seus hábitos de consumo
![]() |
TecMundo |
Henri Poincaré é nome de uma ruazinha de um quarteirão em Paris. Homenageia um gênio da matemática. A Conjectura de Poincaré, uma das questões propostas por ele, em 1904, só foi resolvida depois de um século, num dos 7 Desafios do Milênio – mas isso é outra história. Poincaré aparece aqui por uma frase decisiva: “A matemática é a arte de dar o mesmo nome a coisas diferentes”. E é por isso que o seu próximo smartphone dobrável vai andar lado a lado com o aumento da mensalidade da Netflix.
Líder mundial em vendas de smartphones – mercado que em 2018 não cresceu em relação ao ano anterior, fato inédito –,
a Samsung fará no dia 20 de fevereiro o lançamento de pelo menos quatro modelos S10 (um deles para a tecnologia 5G). Espera-se ainda a apresentação oficial do celular com tela dobrável, cujo nome, especula-se, será Galaxy Fold, Galaxy F, ou apenas Fold. Não importa. A pergunta é: por que você precisará de uma tela que dobra? Por dois motivos. O primeiro tem a ver com seu bolso. A Samsung quer tirar mais dele. Mas não culpe a empresa coreana. A estratégia de basear a inovação em produtos que as pessoas não imaginavam existir para que depois não imaginem mais viver sem nasceu com o capitalismo. Entre os anos 1990 e 2018 a população do planeta ficou 41,5% maior e as vendas de carro saltaram 107%. Isso não teve a ver só com poder de compra. Algo desse porte apenas se faz mudando sistematicamente alguma coisinha a cada temporada.
a Samsung fará no dia 20 de fevereiro o lançamento de pelo menos quatro modelos S10 (um deles para a tecnologia 5G). Espera-se ainda a apresentação oficial do celular com tela dobrável, cujo nome, especula-se, será Galaxy Fold, Galaxy F, ou apenas Fold. Não importa. A pergunta é: por que você precisará de uma tela que dobra? Por dois motivos. O primeiro tem a ver com seu bolso. A Samsung quer tirar mais dele. Mas não culpe a empresa coreana. A estratégia de basear a inovação em produtos que as pessoas não imaginavam existir para que depois não imaginem mais viver sem nasceu com o capitalismo. Entre os anos 1990 e 2018 a população do planeta ficou 41,5% maior e as vendas de carro saltaram 107%. Isso não teve a ver só com poder de compra. Algo desse porte apenas se faz mudando sistematicamente alguma coisinha a cada temporada.
Em 2009, a Samsung detinha míseros 3,3% do mercado global. Sabe quem liderava? A Nokia (uia!), com quase 40% das vendas, seguida pela BlackBerry (uia!). A coreana hoje é líder, mas sua participação de mercado caiu. Fechou o terceiro trimestre de 2018 com perto de 20% do share global, inferior ao resultado do mesmo período de 2017. É agora seguida pela chinesa Huawei, que já passou a Apple. Por esse motivo a Samsung tem pressa para fazer você desejar uma tela dobrável. Chegar antes a seu bolso transformando em necessidade o que você nem imaginava existir. Mas há um segundo motivo em jogo, além do bolso. Seus hábitos. Uma tela dobrável faz parte desse admirável mundo novo das formas de consumo. A era contemporânea pressupõe você fazendo tudo e cada vez mais fora de casa. Come-se mais fora de casa. Consome-se mais entretenimento e notícias fora de casa. E dentro de casa cada um tem sua tela. Não se compartilha mais a sala de TV (!?). Um smartphone dobrável vai ao encontro desse contexto. A tela de seu celular ficará maior (7,3 polegadas). Será um tablet ao ser aberto, mas ocupando o espaço de um celular ao ser dobrado. Ali até três aplicativos poderão ser rodados simultaneamente. Isso fará você consumir tudo de outra maneira, incluindo Netflix.
Não à toa, as ações da empresa de streaming de vídeos, cujo prejuízo em 2018 foi de US$ 3 bilhões, acabam de subir quase 7% em apenas dois dias. Porque ela prevê aumentar entre 1 e 2 dólares suas assinaturas para 58 milhões de clientes nos Estados Unidos – há outros 80 milhões pelo mundo. Se o aumento médio for de US$ 1,5 isso significará receita extra superior a US$ 1 bilhão apenas em 2019. Analistas preveem a empresa lucrando US$ 5 bilhões em 2023 e US$ 10 bilhões em 2025. Quando a Samsung, ou a Huawei, trouxer uma tela que dobra, o número de pessoas consumindo Netflix crescerá. Elas gostarão mais, porque será uma experiência melhor. É a deixa para que o preço da assinatura também suba. Poincaré não sabia o que era TV, smartphone ou Netflix. Mas sabia de tudo. Porque as coisas todas têm o mesmo nome quando se usa a matemática.
ISTOÉ DINHEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário