sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Dieta com pouco carboidrato e muita carne pode reduzir expectativa de vida

SAÚDE

Quem segue alimentação com baixo teor do nutriente tem maior risco de morrer cedo


Pães costumam oferecer carboidratos de boa qualidade quando contêm cereais e grãos integrais - Lipe Borges / Divulgação


Em geral, eles são vistos como vilões. Mas um estudo publicado nesta quinta-feira na prestigiada revista "Lancet Public Health" comprova que ingerir carboidratos de forma moderada é essencial para uma longa expectativa de vida. Embora muitas dietas "low carb" preguem uma quantidade mínima de carboidratos, substituindo-os por proteína animal, a pesquisa traz evidências de que comer pouco "carb" é tão ruim quanto comer demais — ou até pior.
O estudo observacional analisou dados de 15.428 pessoas com idades entre 45 e 64 anos que participaram do Estudo de Risco de Aterosclerose em Comunidades, nos Estados Unidos. Descobriu-se que tanto as dietas de baixa ingestão — menos de 40% das calorias provenientes de carboidratos — quanto as com excesso de carboidrato — mais 70% — estão ligadas a um aumento na mortalidade. Enquanto isso, os consumidores moderados de carboidratos, representando 50-55%, tiveram o menor risco de mortalidade.
Outro achado da pesquisa foi que trocar carboidratos por proteínas e gorduras animais, como carne bovina, porco, frango e queijo, foi uma prática associada a uma mortalidade precoce. Ao passo que diminuir um pouco a ingestão de carboidrato para dar lugar a proteínas e gorduras de origem vegetal, como verduras, legumes e nozes, mostrou como resultado um índice de mortalidade menor.
Líder do estudo, a pesquisadora em Medicina Cardiovascular Sara Seidelmann, do Brigham and Women's Hospital, dos EUA, explica que a ingestão moderada de carboidratos é essencial para nossa saúde a longo prazo.


— As dietas "low carb", e algumas até que excluem completamente os carboidratos das refeições, podem ter um resultado imediato, com rápida perda de peso, mas não são boas no longo prazo. O que observamos fazendo o estudo é que o corpo humano precisa de um nível moderado de carboidratos, de forma constante — afirma ela.

Mas o que é "moderado", afinal? Sara destaca que não existe uma quantidade exata de ingestão ideal. Isso varia de pessoa para pessoa. Mas o grande conselho é variar o cardápio: comer, com bom senso, tanto carboidratos quanto proteínas — dando sempre prioridade àquelas de origem vegetal.

— Se alguém quiser seguir uma dieta com menos carboidratos deve optar por mais folhas, uma dieta rica em plantas, legumes. Não é aconselhado substituir carboidratos por proteínas, como é tão frequente nos Estados Unidos e em muitos países da Europa — diz ela. — Não é novidade que o equilíbrio é sempre o melhor caminho. É o que o nosso corpo espera e precisa.

São também boas opções biscoitos caseiros feitos com cereais e frutas, como sementes de girassol e abóbora, linhaça, gergelim, aveia, quinoa, uva passa e banana - Divulgação

Sara e sua equipe estudaram mais de 15 mil adultos de diversas origens socioeconômicas de quatro regiões dos EUA. Todos os participantes relataram consumo entre 600 e 4.200 calorias por dia para homens, e entre 500 e 3.600 calorias diárias para mulheres. No início do estudo, e novamente seis anos depois, os participantes completaram um questionário dietético sobre os tipos de alimentos e bebidas que consumiram, qual o tamanho da porção e qual era a frequência.

Os cientistas avaliaram a associação entre a ingestão total de carboidratos e todas as causas de mortalidade após o ajuste para idade, sexo, raça, consumo total de energia, educação, exercício, nível de renda, tabagismo e diabetes. Durante um acompanhamento médio de 25 anos, 6.283 pessoas morreram.

Os pesquisadores estimaram que, a partir dos 50 anos, a expectativa de vida média era de 33 anos adicionais para aqueles com ingestão moderada de carboidratos — quatro anos mais do que aqueles que consumiam pouquíssimo carboidrato (29 anos) e um ano a mais em comparação com aqueles cuja dieta tinha alto teor de carboidratos (32 anos).
Para a nutricionista Bia Rique, mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), essa pesquisa corrobora o que muitas outras vêm apresentando: a ideia de que, a médio e longo prazo, a melhor alimentação é aquela ancorada nos vegetais, chamada de "plant-based", que, por tabela, incluem quantidade razoável de carboidratos.

— A alimentação rica em vegetais não precisa ser necessariamente vegetariana ou vegana, mas deve privilegiar leguminosas, verduras, grãos integrais e frutas. E então, naturalmente, a pessoa que segue essa rotina alimentar só comerá carne de vez em quando. Quando a alimentação é assim, ela nunca será "low carb", porque alimentos como leguminosas contêm carboidratos. Só que aí a origem desse carboidrato será vegetal, melhor para a saúde — explica ela.

O grande erro, ressalta Bia, é quando os carboidratos vêm de alimentos ultraprocessados:

— No caso de grande parte das pessoas que consomem excesso de carboidratos, como é tão comum nos Estados Unidos, a origem desse carboidrato é ruim porque não vem das frutas, das leguminosas, e sim de alimentos ultraprocessados.
Carboidratos vindos de frutas, verduras e leguminosas são os mais recomendados - Divulgação


São também boas opções biscoitos caseiros feitos com cereais e frutas, como sementes de girassol e abóbora, linhaça, gergelim, aveia, quinoa, uva passa e banana - Divulgação

O GLOBO


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