terça-feira, 3 de julho de 2018

Em projeto inédito no DF, prédio para ex-moradores de rua será inaugurado em Ceilândia

DF
Imóvel construído no Condomínio Sol Nascente tem 12 quitinetes, cada uma com capacidade para até 2 pessoas.

Prédio em construção para pessoas em situação de vulnerabilidade, em imagem de 21 de junho (Foto: Brena Silva/G1)
Um prédio destinado exclusivamente a ex-moradores de rua será inaugurado nesta quarta-feira (4), em Ceilândia, no Distrito Federal. Esta é a primeira vez que um projeto do tipo é lançado na capital. O imóvel tem 12 quitinetes. Em cada uma delas poderá morar, no máximo, duas pessoas em situação de vulnerabilidade.
"A luta pelo espaço social na arquitetura é algo com o qual sonhamos desde o início de Brasília", afirma Luis Sarmento, assessor da presidência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab). "O governo se reuniu para discutir e conseguir fazer essa construção. É uma sensação prazerosa, de que está dando certo."
O projeto para colocar de pé um prédio para pessoas em situação de rua foi uma parceria da Codhab com o educador social e ex-morador de rua Rogério Soares, conhecido como Barba.
"Morei por 30 anos na rua e, hoje, sou feliz por lutar para que nossos direitos sejam atendidos."
O edifício foi construído em quatro meses, como forma de atender ao decreto distrital nº 35.191/2014, que trata da concessão de casas populares para pessoas vulneráveis.
Trecho do decreto distrital sobre auxílio-moradia para desabrigados (Foto: CLDF/Divulgação)Trecho do decreto distrital sobre auxílio-moradia para desabrigados (Foto: CLDF/Divulgação)Trecho do decreto distrital sobre auxílio-moradia para desabrigados (Foto: CLDF/Divulgação)
Os beneficiados vão morar em um prédio erguido em uma região do Condomínio Sol Nascente ainda praticamente vazia, localizada uma rua abaixo dos comércios e das rotas dos ônibus. Para ir ao Plano Piloto ou a Taguatinga, por exemplo, o morador terá antes de tomar transporte dali para o centro de Ceilândia.
No Sol Nascente, também estão sendo construídas casas populares do programa Minha Casa Minha Vida. A Codhab planeja o lançamento de mais prédios para pessoas em vulnerabilidade.
Ao lado do edifício com 12 quitinetes, será entregue uma casa de apoio para os moradores. Lá, será ministrado um curso de capacitação e assistência social. Três moradores do novo residencial dormem lá, provisoriamente, até que o prédio seja finalizado.

Quem pode?

Os moradores contemplados com as quitinetes fazem parte de um grupo de 120 pessoas que já haviam recebido auxílio-moradia mensal no valor de R$ 600 durante um ano. Após esse período, 47 entregaram a documentação para se inscrever na Codhab. Os selecionados, então, foram ao local conhecer a futura casa e confirmar se realmente tinha interesse em morar no edifício.
Para estabelecer a ordem, o governo optou pelas seguintes prioridades:
  • Casal ou solteiro (a) com apenas um filho
  • Ter saído da situação de rua
  • Ter cadastro na Codhab-DF
  • Ter condições financeiras para pagar contas de água e de luz e se alimentar
  • Não ser dependente de álcool nem de outras drogas
  • Ter estabilidade psicológica para não voltar a usar drogas nem abandonar a casa
A intenção do governo é de que os moradores passem a pagar Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) daqui a 10 anos. Neste período, o governo terá autonomia para conceder o imóvel para outra pessoa na lista de espera da Codhab caso alguém saia do apartamento.

Para fazer a diferença

O educador social Rogério Soares, o Barba, nasceu em São Paulo e foi abandonado pela mãe. Acabou levado a um orfanato e, na infância, recebeu de um juiz o nome de batismo que carregaria para sempre. Mesmo adotado por duas famílias em momentos diferentes, foi devolvido por ambas.
Aos 16 anos, ele fugiu com um amigo para morar em uma favela sob comando de uma facção criminosa. Com a aparência do tempo que morava na rua, ganhou o apelido: Barba.
Junto do amigo, começou cometer assaltos. Em um deles, a vítima, um policial, disparou vários tiros contra eles para se defender. Rogério foi acertado, se arrependeu e pegou os documentos para entrar no mercado de trabalho.
O primeiro emprego de Barba foi em uma rádio, da qual acabou demitido por envolvimento com drogas. Ele passou por Uberlândia (MG) e Goiânia antes de chegar à capital, em 2010, e se estabelecer no "buraco do rato", no Setor Comercial Sul, onde viveu até a Copa do Mundo de 2014.
"Para mim, foi boa a derrota do Brasil. O 7 x 1, a tristeza e o abandono me fizeram ter força para mudar de vida."
Hoje, quatro anos após ter saído do "buraco do rato", ele só volta ao local para ajudar os colegas que ainda precisam de apoio. Por fim, tornou-se o "porta-voz da rua" nos órgãos responsáveis pelas políticas públicas para os moradores em situação de risco.
"O governo faz políticas públicas sem pensar nas pessoas. Enquanto não fizer projetos olhando quem vem de baixo, nada vai dar certo", diz.

FONTE: G1 DF

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