Entre tradição e novidade, “Os Últimos Jedi” é um potente blockbuster
Ao abordar componentes icônicos da franquia de forma crítica, diretor Rian Johnson criou o filme de maior assinatura da saga “Star Wars”
Descrever um filme da saga “Guerra nas Estrelas” como ambicioso é chover no molhado. Mas é essa a sensação que “Os Últimos Jedi” passa. Ambicioso e corajoso. O diretor Rian Johnson pegou alguns dos principais aspectos da mitologia desse adorado e tradicional universo e colocou de cabeça para baixo, alterou, inverteu, desfigurou. Para os mais fanáticos, dessacralizou.
Ao escolher esse arriscado caminho, Johnson criou o episódio de Star Wars com mais “assinatura” da história da franquia. Um blockbusterrepleto de ação, fantasia, aventura, drama, mas, também, com conteúdo e relevante para os nossos tempos.
O tom é de desilusão. O conceito de heróis e bandidos, tão claro nas trilogias anteriores, aqui, é borrado. Lendas são questionadas. Vitórias passadas, revisitadas. Isso fica claro na postura de Luke Skywalker perante aos apelos de Rey para que o mestre saia de seu exílio e ajude a Resistência a combater a cada vez mais poderosa Primeira Ordem.
O personagem de Mark Hamill (em excelente atuação), carregado pela culpa e pelo arrependimento, afirma: “Quando você retira o véu da religião Jedi, sobra a vaidade, a arrogância. É um legado de fracasso”, maculando a tal estimada instituição.
O véu é também retirado da guerra. Rian Johnson nos encoraja a pensar que, enquanto bandidos e mocinhos voam pelo espaço, exibindo suas naves com um, aparentemente, interminável poder de fogo, uns estão lucrando e outros sendo explorados, como acontece em todo grande confronto. “É tudo uma máquina, um perde-ganha”, afirma o personagem de Benicio del Toro, uma das bem-vindas adições.
E por falar em personagens, não fique preocupado se o lado “cabeça” de Star Wars não for o que mais lhe interessa na saga. “Os Últimos Jedi” tem um pouquinho de tudo: batalhas épicas, lutas dramáticas com sabre de luz, humor e despedidas emotivas de figuras queridas. Porém, talvez o maior trunfo dessa nova geração da franquia – como “O Despertar da Força” já havia indicado – é que a história aposta nos personagens, dando-lhes camadas, desenvolvendo bem seus conflitos e motivações.
E, se havia alguma dúvida, o filme de Rian Johnson deixou claro: assim como o amplo universo de Game of Thrones pode ser reduzido à saga de Jon Snow, a nova trilogia Star Wars é a história de Kylo Ren e Rey. Ao eliminar vilões que pouco acrescentam e heróis cujos papéis já foram cumpridos, origem, ligação e formas de ver a vida desses dois personagens é o que carregará a trama até o seu derradeiro capítulo (da atual encarnação de “Star Wars”, pelo menos). Escolha acertada devido ao talento dos interessantes protagonistas (Adam Driver e Daisy Ridley).
Em tempo: um filme que precisa fazer coisas demais – ser agradável tanto para a velha guarda como para a nova geração, introduzir novos elementos e personagens, respeitar o universo tradicional, além de se manter no mesmo nível da trilogia original –, não poderia ser perfeito. Com meia hora a menos, o ritmo se beneficiaria e se tornaria menos cansativo e arrastado. Já a quantidade excessiva de fan services, presente mais para explorar nostalgia do que para servir à trama, incomoda, em alguns momentos.
Mas nada que prejudique muito a experiência. Ao nos apresentar novos personagens, planetas e criaturas, a obra nos lembra do porquê ficamos tão ansiosos e empolgados com esse tipo de entretenimento. É impossível ter certeza, mas, em “Os Últimos Jedi”, Rian Johnson talvez tenha chegado o mais próximo possível de nos dar a mesma sensação que um jovem sentiu em 1977 quando foi levado a uma galáxia distante pela primeira vez.
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O personagem de Mark Hamill (em excelente atuação), carregado pela culpa e pelo arrependimento, afirma: “Quando você retira o véu da religião Jedi, sobra a vaidade, a arrogância. É um legado de fracasso”, maculando a tal estimada instituição.

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