quinta-feira, 3 de agosto de 2017

TURISMO

Prédios históricos e praias em Bragança, a pérola do Pará
Resultado de imagem para MERCADO MUNICIPAL BRAGANÇA PARÁ
Não foi à toa que Bragança, no Pará, ganhou o codinome de Pérola do Caeté. A uns 200 quilômetros de Belém, a cidade é rica em cultura, em que se sobressaem a culinária, o artesanato, a religiosidade e as danças típicas. Banhado pelo Rio Caeté, o município tem prédios históricos, praias de rio de beleza exuberante e é cortado pela maior faixa contínua de manguezal do mundo.
Fachada do Mercado Municipal de Bragança, no Pará, de estilo neoclássico e que abriga 14 boxes Foto: Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação
Fachada do Mercado Municipal de Bragança, no Pará, de estilo neoclássico e que abriga 14 boxes - Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação


São cerca de 100 mil habitantes, em uma das cidades mais antigas do Pará — tem 404 anos, três a mais que a capital, e conserva seus ares de interior. A hospitalidade de seu povo, que abraça os visitantes, é um dos aspectos mais marcantes da Bragança paraense. É o primeiro polo de ocupação europeia na Amazônia: foram os franceses que descobriram o lugar, mais tarde colonizado pelos portugueses.Fato é que as características europeias estão por toda parte, com destaque para a conservada arquitetura lusitana dos prédios históricos. Em um passeio a pé pelo centro da cidade, chamam a atenção monumentos como o Coreto Pavilhão Senador Antonio Lemos, trazido da Europa e montado em 1910. À frente, o Palacete Augusto Corrêa foi construído pelos portugueses, em 1902, como uma cópia do Palácio de Bragança em Portugal. O prédio onde funcionava a prefeitura está fechado para restauração.
Há ainda o Mercado Municipal, erguido em estilo neoclássico e inaugurado em 1911, que ocupa uma quadra inteira no centro comercial da cidade e abriga 14 boxes que vendem carnes, frutas e legumes. Em seu entorno também funciona uma feira livre.
Santa programada para girar
Perto dali, também vale visitar a Catedral Nossa Senhora do Rosário, construída pelos escravos em 1854, e a Igreja de São Benedito, projetada pelos jesuítas, em 1753. Uma curiosidade sobre a igreja do Rosário: do lado de fora do prédio, há uma imagem da santa programada para girar, que a cada dia está virada para um lado da cidade, como se olhasse por moradores e visitantes que por ela passam.
A Igreja de São Benedito, em Bragança, foi construída no século XVIII - Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação
Já na São Benedito, há um altar em madeira trabalhada e portal de vidro, contendo lá dentro um relicário com cinzas do corpo do Santo Preto, como carinhosamente é chamado pelos fiéis. É a única relíquia de Benedito fora da Europa. Apesar de Nossa Senhora do Rosário ser a padroeira da cidade, o santo mais popular entre os bragantinos é mesmo São Benedito — em Bragança, é bem comum pais batizarem os filhos com seu nome.
A festa de São Benedito, inclusive, está para Bragança como o Círio de Nazaré está para Belém, conta o historiador e guia turístico Dário Benedito:
— O evento é um dos chamarizes da cidade, atraindo dezenas de milhares de pessoas de toda parte do mundo entre 18 e 26 de dezembro.
Marujada para São Benedito
Iniciada pelos antigos escravos da região, um dos destaques da festa é a marujada, uma manifestação folclórico-religiosa, que, além do xote bragantino, reúne rituais coreográficos como a roda, o retumbão, a valsa, o chorado e a mazurca. De saia rodada vermelha, blusa branca, faixa de fita vermelha e chapéu enfeitado com plumas e fitas coloridas, as mulheres têm papel de destaque.
A “Capitoa”, sempre a mais velha do grupo, carrega um bastão dourado, o símbolo da sua autoridade. Também fazem parte dos festejos a cavalhada, o leilão e a procissão. Os cavaleiros disputam argolas vermelhas e azuis na cavalhada. Vence quem obtiver o maior número de argolas.
ARREDORES: SOL E CALOR O ANO TODO
Mas, não é só em dezembro que Bragança tem atrativos turísticos. Com sol o ano inteiro, suas praias são um eterno convite a um mergulho. De areia branca, com mais de cem quilômetros de extensão, a Ajuruteua é considerada uma das mais belas do estado. Localizada a 36 quilômetros do centro do município, o acesso é feito pela rodovia PA-458.
Revoadas de Guarás no Rio Urumajo, no município de Augusto Correa, arredores de Bragança, no Pará- Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação
Antes de avistar a praia, o visitante passa por regiões de campos alagados e de mangue. Ao longo do litoral, outras praias, acessíveis de barco a partir de Ajuruteua, contam com pousadas e restaurantes. Caso de Praia da Vila, Quatipuru Mirim, Chavascal, Pilão, Grilo e Boiçucanga.
Outro destaque bragantino é a Ilha do Canela com acesso pelo Taperaçu Porto, a uma hora de barco. Ela abriga várias espécies de aves, mas principalmente de guarás, sendo conhecida como seu maior berçário no mundo. A ave chama atenção por sua beleza realçada pela forte cor vermelha, por causa de sua alimentação à base de caranguejos, no que a região também é farta. O crustáceo, aliás, é facilmente encontrado no comércio e, claro, à mesa de moradores e turistas.
Além do extrativismo de caranguejo, a cidade tem grande atividade pecuária e é o maior polo pesqueiro do Pará — exportando sua produção principalmente para outras cidades do estado e capitais do Nordeste.
Outro símbolo da gastronomia local, e cada vez mais vendida para o exterior, é a mandioca. Versátil, dela nada se perde. Do alimento são preparadas receitas típicas da região, como o tucupi, que é extraído da mandioca brava e tem sabor ácido. O tucupi é a estrela do tacacá e do pato no tucupi, pratos nobres da culinária paraense. A maniçoba, iguaria popular encontrada nas barraquinhas de rua, também é feita a partir da mandioca: toucinho, chouriço, linguiça e charque são cozidos no caldo verde escuro obtido a partir de folhas moídas da raiz.
A farinha de mandioca, na região, é chamada de bragantina - Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação
A mandioca também vira goma, beiju, bolo, mingau no café da manhã ou no café da tarde, sempre “almoçarados”. Mas a farinha é soberana: é o acompanhamento oficial de todos os pratos. O alimento agrada tanto que há quem o coma puro mesmo. É o orgulho do bragantino, que garante ter a melhor farinha do mundo. Eu concordo. Trouxe para o Rio tantos sacos quanto a mala permitiu.
A farinha tem várias texturas, cores e sabores — branca, amarela, fininha e mais grossa. O que difere é o tipo de mandioca e a forma como ela é preparada. O estado lidera a produção artesanal de farinha, segundo o IBGE. Boa parte vem de Bragança.
No município não falta produtor do alimento. Mas um deles se destaca. Benedito Batista da Silva, de 70 anos, mais conhecido como Seu Bené, o mestre da farinha. O local de trabalho de Seu Bené, a casa de farinha, ao lado de sua moradia na roça, pode ser visitado: fica na comunidade de Santa Teresa, a 22 quilômetros de Bragança, dez em estrada de terra.
O humilde agricultor nos recebe em sua casa com a mesa posta, costume do hospitaleiro povo bragantino. No cardápio, muita farinha crocante e torradinha, um enorme bolo de mandioca bem concentrado e tapioca na manteiga. Seu Bené se dedica à produção da farinha junto com sua mulher: são 500 quilos por mês, vendidos na região, no estado e fora dele.
— Aprendi tentando, porque precisava. Ninguém me ensinou e não tive estudo, mas a inteligência já nasceu comigo. Hoje me sinto muito feliz pelo dom que Deus me deu. É tudo feito com amor — diz Seu Bené, que, por causa de sua farinha, já virou personagem principal em dois filmes.
Um deles é “Seu Bené vai para a Itália”, gravado em 2006, quando ele foi convidado a participar do evento gastronômico Terra Madre, em Turim, pelo movimento gastronômico slow food. Em 2005, atuou ao lado de Fermínio Nascimento, produtor catarinense, o documentário “Professor da farinha”.
CACHAÇA, BACURI E PANELAS DE BARRO COM ASSINATURA
Cachaças do produtor Manoel Veríssimo de Oliveira, em Bragança, Pará - Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação
Em Bragança, a gastronomia e o artesanato andam juntos. A culinária local, forte e marcante, ganha um sabor especial nas panelas de barro produzidas por Valcilene Souza Piedade e sua família, na Vila de São Mateus. Cada integrante é responsável por uma parte da produção. Em seu empreendimento, Valcilene recebe turistas interessados em conhecer o processo produtivo e também experimentar a típica culinária regional feita em panela de barro.
Para que seja identificado, o produto ganha o desenho de uma pequena panela, na maioria das vezes estampado na tampa. Elas são vendidas principalmente para restaurantes de Bragança e de outras cidades do Pará, mas também podem ser encontradas em feiras e eventos que acontecem ao longo do ano no município.
A Cachaça Caeté, artesanal, é feita por Manoel Veríssimo e sua família, no Engenho Caeté. Eles trabalham a cana utilizando como adubo na plantação o esterco de carneiro. O ciclo começa em setembro e prossegue até dezembro. Juntos, todos plantam, colhem, produzem, distribuem e vendem. O litro da cachaça especial (envelhecida em barril de carvalho e canela) custa R$ 40; o da comum, R$ 20.
Outro destaque da culinária de Bragança é o bacuri, fruta de delicado cultivo, que começa a ganhar mercado fora da região. Ela é pouco maior que uma laranja e contém poupa agridoce, usada para fazer sucos, sorvetes, doces, licores, entre outros. Sua casca também é aproveitada na culinária regional, e o óleo extraído das sementes é usado como anti-inflamatório e cicatrizante, inclusive pela indústria de cosméticos.
Turismo de conhecimento
Bacuri, fruta originária da Amazônia - Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação
A Fazenda Bacuri, localizada a cerca de 15 quilômetros de Bragança, na rodovia que liga a cidade ao município de Augusto Corrêa, é referência no turismo sustentável no Pará, sobretudo, quando o assunto é bacuri. São dez hectares de manejo do bacurizeiro, que resultam em três toneladas da fruta por mês.
Turistas podem visitar e se hospedar na fazenda, conhecer o processo da mini indústria artesanal de polpas, doces, geleias e licores de bacuri, além de degustar delícias com outras frutas cultivadas no local. Os produtos são orgânicos e tem certificação. O turismo de conhecimento na fazenda se inicia com um documentário curto sobre o bacuri e a história do empreendimento, posteriormente, o visitante é estimulado a fazer uma trilha de cerca de uma hora de duração dentro da área de manejo.
Também é possível fazer um passeio para contemplar uma revoada de guarás, na Ilha do Rato, no maior manguezal do mundo, que fica a quarenta minutos de barco da fazenda. As aves batem ponto todos os dias entre 16h30m e 18h. Elas proporcionam um show da natureza. Próximo dali, o espetáculo continua com os patos, também típicos da região.
Mais opções de lazer ligadas à natureza são encontradas na Fazenda Hotel Vitória, em Tracuateua, município vizinho a Bragança. A sede, um engenho de 1875, foi transformada numa fazenda de pecuária de búfalo. Trata-se de um bem estruturado empreendimento de hospedagem com estilo camponês amazônico, onde a casa grande é a atração principal, com vinícola, área de convivência e piscina de borda infinita para o rio.
Piscina na Fazenda Hotel Vitória, em Tracuateua, Pará - Roberto Castro / Ministério do Turismo/Divulgação
O hotel dispõe de 25 suítes. Nove ficam no sobrado centenário da fazenda, que têm vista privilegiada para a piscina e para os campos alagados. Ainda existe a opção da Vila dos Martins, que abriga oito quartos num ambiente que simula uma vila, inspirada em Tiradentes, Minas Gerais, com direito a uma charmosa capela.
Para as crianças, a fazendinha é diversão garantida. Elas têm contato com uma horta orgânica e vários bichos e podem ainda alimentar carneiros e ovelhas. O leite de búfala em forma de queijo também é atração, desde a ordenha, ao preparo na hora, podendo comê-lo ainda cremoso e quentinho no café da manhã ou no lanche da tarde. Também é possível levá-lo para casa por R$ 20.
No pacote da diária já estão inclusos hospedagem; refeições, que são servidas sobre um fogão à lenha; e todos as atividades, que incluem passeios como cavalo, búfalo, pedalinho, caiaque, bondinho e chalana. A pescaria artesanal e o stand up paddle são opcionais. O local também tem vários cantinhos aconchegantes para relaxar e curtir a natureza sem se preocupar com o relógio.
SERVIÇO
Como chegar
Avião. Gol e Latam fazem faz Rio/Belém/Rio. De carro, pela rota turística Belém-Bragança, via PA-242, são 220kms, cruzando 13 municípios.
Onde comer
Benquerença. Sugestão de tira-gosto: casquinhas de arraia. Av. Visc. Rio Branco 160, Bragança.
Estação Bragança. Entrada: patas de caranguejo e quadradinho de tapioca. De principal: mariscada e moqueca paraense. Sucos de frutas típicas como bacuri, cupuaçu e murici. Para sobremesa, creme de cupuaçu. Travessa João XXIII 374.
IceBode. A sorveteria produz sorvetes com sabores amazônicos, (bacuri, cupuaçu, araçá etc.) Rua Nazeazeno Ferreira 3, Bragança.
Onde ficar
Pousada Casa Madrid. Diárias de casal a partir de R$ 188. Tr. Sen. José Pinheiro 188, Bragança. Telefone: (91) 3425-1616.
Aruans Casarão. A partir de R$ 130. Rua Gen. Gurjão 1.099, Bragança. Telefone: (91) 3425-2195.
Fazenda Hotel Vitória. A partir de R$ 520 por pessoa. Sta Teresa Km 12, Tracuateua. (91) 3228-4481.
Priscilla Aguiar Litwak viajou a convite do Ministério do Turismo.
O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário