terça-feira, 22 de agosto de 2017

F1



Show ou ordem de equipe? O que aguarda Kimi Raikkonen em Spa?

Piloto finlandês da Ferrari tem histórico impressionante na pista belga, onde acumula quatro vitórias. Neste domingo, ele tentará o primeiro triunfo na temporada

Show ou ordem de equipe? O que aguarda Kimi Raikkonen em Spa?


Por Livio Oricchio, Nice, França
 

É provável que você se lembre. Depois do GP da Áustria, em Spielberg, dia 9 de julho, o presidente da Ferrari, Sérgio Marchionne, afirmou sobre Kimi Raikkonen: “Já conversei com Maurizio (Arrivabene, diretor da equipe). É hora de sentar com Kimi e ter uma boa conversa. Hoje parecia estar interessado em outra coisa (não na corrida), não entendi, talvez estivesse cansado”.
Esse mesmo piloto criticado publicamente por Marchionne tem o melhor histórico dentre todos em atividade na próxima etapa do campeonato, o GP da Bélgica, no fim de semana. A prova, 12ª do calendário, no circuito favorito da maioria dos profissionais da F1, Spa-Francorchamps, marca a retomada da competição depois das férias de agosto.
O fato de Vettel ter recebido a bandeirada na Áustria em segundo, a apenas 658 milésimos do vencedor, Valtteri Bottas, da Mercedes, e Raikkonen terminar em quinto, 20s370 atrás de Bottas, desconcertou o presidente da Ferrari. Pode não ter relação com a cobrança explícita, mas o fato é que Raikkonen nos dois GPs seguintes foi mais eficiente que Vettel. Tenha a certeza de que essa mudança de postura do campeão do mundo de 2007, pela própria Ferrari, levou Marchionne renovar seu contrato. O anúncio foi feito nesta terça-feira. Mas é só para 2018.
Em Silverstone, Inglaterra, Raikkonen largou na frente de Vettel, 2º e 3º, e chegou também melhor classificado, 3º e 7º. Em Budapeste, na última prova antes das férias, Raikkonen foi mais rápido que Vettel na corrida, apesar da vitória do alemão. O finlandês manteve-se em segundo e defendeu Vettel de um ataque de Lewis Hamilton, da Mercedes, muito veloz depois do pit stop.
Não sabemos os efeitos da paralisação da temporada por três semanas nessa retomada de Raikkonen. Veremos já sexta-feira, nas duas sessões de treinos livres do GP da Bélgica. O primeiro começa às 5 horas, horário de Brasília. Mas é bem provável que Raikkonen mantenha o mesmo estado de interesse e competência de Silverstone e Hungaroring.
Até porque o finlandês - dia 17 de outubro completará 38 anos - tem o compromisso, agora, de justificar a renovação do seu contrato. A confirmação de Vettel também apenas para 2018 é esperada para o próximo GP, na casa da Ferrari, em Monza.
Raikkonen venceu na Bélgica pela última vez em 2007 (Foto: Getty Images)


Raikkonen venceu na Bélgica pela última vez em 2007 (Foto: Getty Images)
Se tivesse de escolher uma pista para mostra o que ainda é capaz de fazer Raikkonen provavelmente ficaria com a de Spa, seus 7.004 metros de extensão e 20 curvas programadas para atender todas as preferências. Há curvas lentas, de média e de alta velocidade, em aclives e declives acentuados, e retas para ultrapassagens, dentre outros desafios, ou seja, é um traçado completo. O finlandês se identifica como poucos com o circuito.
Dentre os pilotos em atividade é o de retrospecto mais favorável no evento. Raikkonen disputou a prova 12 vezes desde estreia na F1, em 2001, pela Sauber. Tem no currículo quatro vitórias em Spa: 2004 e 2005, com McLaren, e 2007 e 2009, Ferrari, e uma pole position, em 2007.
Como em 2003 e 2006 os belgas não tinham como pagar a Formula One Management (FOM), não houve GP. Assim, Raikkonen foi primeiro em três edições seguidas, 2004, 2005 e 2007. E como ganhou em 2009 também, obteve, portanto, quatro vitórias em cinco GPs.
O repórter do GloboEsporte.com perguntou a Raikkonen, em 2009, se havia razão maior para explicar seu sucesso na pista belga. Ayrton Senna também celebrou o primeiro lugar em Spa de 1988 a 1991, quatro vezes seguidas, sempre com McLaren, e em 1985, Lotus. O finlandês emitiu aquele sorriso de não gostar da pergunta, como de hábito: “Não tem nada a ver. Não é porque você gosta de circuitos à moda antiga, largos, velozes, que você trabalha mais ou melhor. Meu carro estava rápido hoje, é isso, como nas outras ocasiões”.

Para o finlandês, portanto, tudo se resume a dispor ou não um carro que o permita ser melhor que os adversários. Essa não é a visão de outros pilotos, que reconhecem ser perfeitamente possível render ainda mais em determinados traçados. Senna não escondia que em Spa e Mônaco, onde ganhou seis vezes, em 1987 e depois cinco seguidas, de 1989 a 1993, seu estilo de pilotar o favorecia, apesar das diferenças profundas entre um tipo de circuito e outro.
Dentre os pilotos de hoje, Hamilton, por exemplo, afirma ter maior afeição aos 5.891 metros de Silverstone, o que ajuda a explicar ser o vencedor das últimas quatro edições do GP da Grã-Bretanha, com Mercedes, bem como a de 2008, McLaren. “Claro que a torcida também representa um estímulo a mais”, admite.
O retrospecto de Hamilton em Spa é de duas vitórias, em 2010, com McLaren, e 2015, Mercedes. O líder do mundial, Sebastian Vettel, da Ferrari, da mesma forma foi primeiro em duas ocasiões na Bélgica, em 2011 e 2013, com RBR. Daniel Ricciardo tem uma conquista, em 2014, com RBR, e Felipe Massa, em 2008, Ferrari. Nenhum outro piloto do grid venceu em Spa.

Time de só um piloto

Kimi não escondeu o descontentamento no pódio em Mônaco (Foto: Getty Images)


Kimi não escondeu o descontentamento no pódio em Mônaco (Foto: Getty Images)
Voltando a Raikkonen, se ele ratificar no fim de semana sua identificação com o traçado localizado na cadeia das Ardenas será interessante acompanhar a reação da direção da Ferrari. Em Mônaco, o finlandês liderava com Vettel em segundo. Os italianos o chamaram para o pit stop bem antes de Vettel, o que permitiu a troca aparentemente natural de posições entre ambos.
Dia 30, no Circuito Hungaroring, da mesma forma Raikkonen era mais rápido que Vettel, mas não tentou em nenhum instante das 70 voltas da prova a ultrapassagem, a fim de vencer o GP da Hungria. Resignou-se com o segundo lugar.
Na Mercedes a luta é aberta, a ponto de em Budapeste Hamilton reduzir a velocidade nas voltas finais para devolver o terceiro lugar a Bottas. O finlandês o deixou passar por estar mais veloz. Hamilton fez um trato: se não conseguisse ultrapassar Raikkonen, segundo, devolveria a posição a Bottas. Cumpriu a palavra.
Na Ferrari isso não aconteceria. Hamilton somou 12 pontos da quarta colocação em vez dos 15 do terceiro. Assim, depois de 11 das 20 etapas do campeonato Vettel lidera com 202 pontos, enquanto Hamilton soma 188. Ambos têm quatro vitórias cada. Bottas está em terceiro, com 169, seguido por Ricciardo, 117, Raikkonen, 116, e Max Verstappen, da RBR, com 67.
A maior eficiência de Raikkonen no Circuito Spa-Francorchamps – negada pelo piloto e confirmada pelas estatísticas – sugere ser possível assistirmos no domingo a nova demonstração de interesse da Ferrari por Vettel, seu candidato para lutar pelo título.

Outros belos duelos

Verstappen conta com grande torcida em Spa-Francorchamps (Foto: Getty Images)
Verstappen conta com grande torcida em Spa-Francorchamps (Foto: Getty Images)
Como Hamilton e Bottas, a dupla da RBR, Ricciardo e Max, está liberada para buscar seu melhor resultado. Não há ordens de equipe. Max terá a maior torcida do ano. Algumas arquibancadas vão ser ocupadas por milhares de fãs vestindo roupas da cor laranja, característica da Holanda.
A pista belga encontra-se a poucos quilômetros do país. De Amsterdã a Spa são 280 quilômetros, enquanto Eindhoven está a apenas 150 quilômetros. Max vai tentar de tudo para corresponder aos fãs. Se já é arrojado naturalmente dá para imaginar como será quase correndo em casa.
“Aqui (Spa) um piloto pode fazer a diferença”, afirmou o holandês, entusiasmado, em 2015, na estreia em Spa com um carro de F1, pela STR. Ele abandonou o Q2, no sábado, com problemas de perda de potência. Largou em 15º, mas com grande performance chegou em oitavo.
No ano passado, Max foi excepcional na definição do grid ao registrar o segundo tempo. Na largada, porém, Vettel causou na curva 1 um acidente que envolveria Raikkonen e Max. O holandês teve de ir para os boxes, perdeu tempo precioso e recebeu a bandeirada apenas na 11ª colocação. Numa corrida normal provavelmente estaria no pódio. Seu companheiro, Ricciardo, quinto no grid, terminou em segundo. Venceu Nico Rosberg, da Mercedes. Hamilton completou o pódio, mesmo largando na última fila.
A edição do GP da Bélgica deste ano, a 62ª da sua longa e rica história, tem uma importante novidade: a Pirelli disponibilizará os pneus mais macios da sua gama, ultramacios, supermacios e macios. O modelo SF70H da Ferrari tem demonstrado, este ano, maior adaptação aos ultramacios que o W08 Hybrid da Mercedes.
Mas o grupo coordenado por James Allison, diretor técnico do time alemão, fez grandes progressos nesse aspecto. As 44 voltas, domingo, permitirão compreender melhor o quanto foi o avanço. O serviço meteorológico da F1 indica elevada possibilidade de chuva no sábado, mas não para a corrida, por enquanto.
Horários - GP da Bélgica (Foto: Infoesporte)Horários - GP da Bélgica (Foto: Infoesporte)


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