Rueda será o décimo técnico estrangeiro do Fla; Jayme segue contra o Galo
Para Evaristo de Macedo, que foi comandado pelo paraguaio Fleitas Solich na década de 50, técnico colombiano precisa se adaptar rapidamente. Rubro-Negro tenta tê-lo contra Botafogo
Por Allan Caldas, Rio de Janeiro
Com seis jogadores estrangeiros no elenco, recorde entre os clubes da
Série A do Brasileiro deste ano, o Flamengo aposta também em um técnico
de fora para voltar aos trilhos na temporada. Para acelerar a adaptação à
língua, aos costumes e, principalmente, ao estilo de jogo no país, o
colombiano Reinaldo Rueda, de 60 anos, terá ajuda dos compatriotas
Berrío e Cuellar caso seja oficialiado como o novo treinador
rubro-negro. Os argentinos Mancuello e Conca e os peruanos Guerrero e
Trauco também ajudam.
As negociações entre Flamengo e Rueda estão avançadas. O treinador já
aceitou a proposta do Rubro-Negro, mas ainda restam detalhes para o
anúncio. Por isso, Jayme de Almeida, que comandou a equipe na goleada
por 5 a 0 sobre o Palestino, nesta quarta, segue no comando para o jogo
contra o Atlético-MG, domingo.
Rueda deve chegar até o fim da semana, mas o Flamengo aguarda a
finalização do acordo para que o treinador seja anunciado e apresentado
pelo clube. No sábado pela manhã, o time treina no Rio e viaja para Belo
Horizonte.
A diretoria ainda não confirma a contratação e muito menos que Rueda
acompanhe o jogo em Minas Gerais. Para enfrentar o Botafogo, Rueda só
teria segunda e terça-feira para participar das atividades no clube - e
apenas um dia com o grupo completo, já que os dias seguintes às partidas
são treinos de recuperação de quem atuou no dia anterior.
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Reinaldo Rueda está perto do Flamengo (Foto: Luis Eduardo Noriega A./EFE)
Enquanto isso, se nas quatro linhas a presença de gringos tem sido
constante, à beira do campo a iminente chegada de Rueda encerrará um
longo jejum de 36 anos sem um treinador estrangeiro no clube da Gávea. O
colombiano será o décimo gringo a dirigir o Rubro-Negro em 101 anos de
futebol. A última aposta foi no paraguaio Modesto Bria. Ídolo nos tempos
de jogador, o ex-zagueiro do primeiro tricampeonato carioca do clube
(1942-43-44) teve cinco passagens no comando do time.
Na derradeira oportunidade, ficou apenas 17 jogos no cargo em 1981, sem
conseguir fazer engrenar a equipe que tinha Zico, Adílio, Júnior,
Leandro, Andrade... Ainda assim, deixou seu nome marcado: era o
treinador nos 8 a 0 sobre o Fortaleza, maior goleada rubro-negra em
Brasileiros. Bria foi sucedido por Paulo César Carpegiani, que viria a
ser campeão carioca, da Libertadores e do Mundial naquele ano, além do
Brasileiro de 82.
Outro tricampeão carioca como jogador (1953-54-55) e também
ex-treinador do Flamengo, Evaristo de Macedo acredita que Rueda pode
fazer um bom trabalho no Brasil, mas adverte que o bom retrospecto no
seu país, onde levou o Atlético Nacional ao título da Libertadores em
2016, não é garantia de êxito quando se cruza a fronteira.
- Ele é um treinador de sucesso, só que lá (na Colômbia). Aqui é
diferente. Quando se trabalha fora, você precisa se adaptar rapidamente
aos novos costumes, à vida local. Para isso, os jogadores sul-americanos
vão ajudar. Mas a vida de um treinador não depende só do bom trabalho
que ele possa fazer, dos seus métodos de treinamento, e sim dos
resultados em campo. Para isso, ele precisa ter bons jogadores, e nesse
sentido o Flamengo possui um time bem equilibrado, isso facilita -
observou Evaristo, de 82 anos.
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Reinaldo Rueda é aclamado por torcedores do Atlético Nacional (Foto: Reprodução / twitter oficial Reinado Rueda)
Evaristo chegou ao Flamengo em 1953, vindo do Madureira, e iniciou sua
trajetória na Gávea junto com o treinador estrangeiro de maior sucesso
do clube, o paraguaio Fleitas Solich. A segunda partida de Evaristo com a
camisa rubro-negra, uma vitória por 3 a 2 sobre o Santos, no Maracanã,
marcou a estreia do Feiticeiro, como era conhecido Solich.
Sob o comando de Solich, o Flamengo de Evaristo conquistou o segundo
tricampeonato carioca da sua história. Solich foi técnico do Paraguai na
Copa do Mundo do Brasil, em 1950, e três anos depois chamou a atenção
ao levar seu país ao título da Copa América, vencendo o Brasil na
decisão por 3 a 2. Para Evaristo, o Brasil era mais aberto a treinadores
importados do que hoje em dia.
- Naquela época, havia outros estrangeiros trabalhando aqui, como o
uruguaio Ondino Vieira, no Fluminense (terceiro treinador com mais jogos
na história tricolor, 266). Hoje a pressão é muito maior, o cara tem
que conquistar não só os jogadores mas a torcida, o público em geral. É
difícil - opinou.
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Evaristo de Macedo
foi tricampeão carioca dirigido pelo paraguaio Fleitas Solich, técnico
estrangeiro mais vitorioso da história do Flamengo (Foto: Reprodução TV
Globo)
Depois de seis anos na Gávea, Fleitas Solich cruzou o Atlântico em 1959
para dirigir o Real Madrid, mas deixou o clube merengue no ano
seguinte. Voltou ao Flamengo para ser campeão novamente, do Torneio
Rio-São Paulo de 1961. Retornou para uma última passagem em 1971, quando
encerrou carreira. O Feiticeiro é até hoje o segundo treinador que mais
vezes dirigiu o clube, em 504 jogos, atrás apenas de Flávio Costa (765
partidas).
Embora o futebol no Flamengo seja praticado desde 1912, na primeira
década o time era dirigido não por um treinador e sim por uma comissão
técnica. E, curiosamente, o primeiro a receber isoladamente a missão de
comandar o rubro-negro foi um estrangeiro, o uruguaio Ramón Platero, que
chegou à Gávea em 1921 bem credenciado, por ter levado o seu país ao
título do Sul-Americano de 1917, torneio precursor da Copa América.
Apesar da fama, ficou apenas nove jogos no cargo, com somente três
vitórias.
Primeiro treinador do Flamengo foi um uruguaio
Em 1925, outro uruguaio, Juan Carlos Bertoni, teve mais êxito: foi
campeão carioca naquele ano, e repetiu a dose em 1927, dividindo o
comando com o brasileiro Joaquim Guimarães. O primeiro técnico europeu
do Flamengo foi o inglês Charles Williams, entre 1930 e 1931. Ex-goleiro
na sua terra natal, Williams ficou famoso como o primeiro da posição a
marcar um gol, em um chute da sua própria área, quando atuava pelo
Manchester City, em abril de 1900, num jogo contra o Sunderland.
Aqui no Brasil, Charles Williams foi pioneiro também como treinador:
dirigiu o Fluminense no primeiro Fla-Flu da história, em 7 de julho de
1912, na vitória tricolor por 3 a 2. O treinador inglês marcou época no
Rio: foi campeão carioca por Fluminense (1924) e América (1928), e
também dirigiu o Botafogo antes de chegar ao Flamengo, onde encerrou a
carreira.
Embora falassem a mesma língua dos seus comandados, os técnicos
portugueses Ernesto Santos, em 1947, e Cândido de Oliveira, em 1950, não
deixaram saudade à frente do Flamengo. O último técnico estrangeiro a
ser campeão com o Flamengo foi o argentino Armando Renganeschi, que
conquistou o Carioca de 1965 e dirigiu a equipe até 1967, em 127
partidas.
Embora não tenha ganhado campeonatos, um dos técnicos estrangeiros mais
importantes da história rubro-negra foi o húngaro Izidor 'Dori'
Kürschner. Renomado treinador na Suíça - levou a seleção do país à
medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Paris-1924 e foi tricampeão
nacional com o Grasshopper (1927, 1928 e 1931) -, o judeu Dori Kürschner
trocou a Europa pelo Brasil, possivelmente devido à ascenção do nazismo
no Velho Continente.
O trabalho de Kürschner no Rio de Janeiro foi considerado inovador, por
ter apresentado o sistema tático WM quando chegou ao Flamengo, em 1937,
e introduzido métodos de treinamento sem bola. No entanto, o fim da
passagem do treinador húngaro pelo Flamengo, 80 anos atrás, serve para
explicar a tradição brasileira de se guiar pelos resultados.
Mesmo com todo o retrospecto de sucesso, fama internacional e métodos
de trabalho eficientes, Küschner não resistiu a uma derrota marcante, os
2 a 0 para o Vasco no jogo inaugural do estádio da Gávea, em quatro de
setembro de 1938.
Atual campeão da Libertadores da América, com o Nacional de Medellín, o
colombiano Reinaldo Rueda chegará ao Flamengo com prestígio em alta. A
história, porém, avisa: para ter futuro no futebol brasileiro, um
passado de sucesso pode não ser suficiente.
globo esporte
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