quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Educação

Ensino médio brasileiro vira documentário

Cena do documentário “Nunca me sonharam”

“Nunca me sonharam sendo psicólogo, nunca me sonharam sendo professor, nunca me sonharam sendo um médico, não me sonharam. Eles não sonhavam e não me ensinaram a sonhar. Tô aprendendo a sonhar sozinho”. A fala de Felipe Lima, jovem de 18 anos, de Nova Olinda, no sertão cearense, de tão impactante deu nome ao documentário “Nunca me sonharam”. O longa sobre o ensino médio brasileiro será exibido no Educação 360, que será realizado pelos jornais EXTRA e “O Globo” nos dias 21 e 22 de setembro. As inscrições começam no início do mês.
O evento gratuito reunirá pessoas que vivenciam o tema sob diferentes e novos aspectos na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá. Entre as estrelas do debate, estarão o israelense Yaacov Hecht, fundador do Instituto para a Educação Democrática, e o filósofo Gilles Lipovetsky.
— O filme mostrou que educação de qualidade é feita por gente engajada, pessoas que são encantadas pela magia do conhecimento. Esse comprometimento é o principal — diz o diretor Cacau Rhoden, que participará do debate no Educação 360 no dia 21, ao lado do economista Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco, que patrocina o filme, e a estudante Thaianne de Souza Santos, que deu depoimento à obra.
No documentário, jovens de dez diferentes estados foram ouvidos. “É difícil ser de menor, ser mulher, ser negra e ser pobre”, diz Jamile Melo, de 17 anos, moradora de Santarém, no Pará. Os depoimentos apresentam angústias comuns da adolescência sendo encaradas por meninos e meninas e como isso se relaciona com a escola.
Cenas do documentário “Nunca me sonharam”
Cenas do documentário “Nunca me sonharam” Foto: Divulgação
— O principal problema do ensino médio não está necessariamente no fato de a escola não ser eficiente — afirma Cacau: — A maioria dos jovens do ensino médio tem seus direitos violentados. A educação é uma porta de entrada para garantir outros direitos. Na escola, a gente se entende como ser humano e ganha repertório para poder conectar a complexidade da vida.
“Eu já vi muita violência e gente morrendo. Só que eu cheguei na adolescência vendo amigos meus entrando para esse mundo do tráfico. Esses dias mesmo um amigo meu morreu e ele mal tinha entrado nisso”, conta, no filme, Juliana Queiróz, de 16 anos, moradora de Duque de Caxias, no Rio.
Documentário tem depoimentos de jovens de dez estados
Documentário tem depoimentos de jovens de dez estados Foto: Divulgação
O ensino médio, etapa escolar retratada no filme, tem as maiores taxas de abandono e reprovação no país. É o estágio em que os brasileiros aprendem menos e mais deles saem da escola. Em 2016, 7,5% dos jovens deixaram as salas de aula: quase 500 mil adolescentes abandonaram a matrícula no país, de acordo com o Censo Escolar. “Teve uma desmotivação minha também. Uma impressão de que o trabalho seria mais prático, mais rápido”, explica, no filme, Francisco Ronildo da Silva, de 18 anos, de Campos Sales, no Ceará.
Educadores que tiverem interesse em levar essa discussão para a sala de aula podem montar exibições do “Nunca me sonharam” pelo site videocamp.com/pt/movies/nuncamesonharam. Lá, é possível obter cópia gratuita da obra.

Extra

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