Ensino médio brasileiro vira documentário

“Nunca me sonharam sendo psicólogo, nunca me sonharam sendo professor, nunca me sonharam sendo um médico, não me sonharam. Eles não sonhavam e não me ensinaram a sonhar. Tô aprendendo a sonhar sozinho”. A fala de Felipe Lima, jovem de 18 anos, de Nova Olinda, no sertão cearense, de tão impactante deu nome ao documentário “Nunca me sonharam”. O longa sobre o ensino médio brasileiro será exibido no Educação 360, que será realizado pelos jornais EXTRA e “O Globo” nos dias 21 e 22 de setembro. As inscrições começam no início do mês.
O evento gratuito reunirá pessoas que vivenciam o tema sob diferentes e novos aspectos na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá. Entre as estrelas do debate, estarão o israelense Yaacov Hecht, fundador do Instituto para a Educação Democrática, e o filósofo Gilles Lipovetsky.
— O filme mostrou que educação de qualidade é feita por gente engajada, pessoas que são encantadas pela magia do conhecimento. Esse comprometimento é o principal — diz o diretor Cacau Rhoden, que participará do debate no Educação 360 no dia 21, ao lado do economista Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco, que patrocina o filme, e a estudante Thaianne de Souza Santos, que deu depoimento à obra.
No documentário, jovens de dez diferentes estados foram ouvidos. “É difícil ser de menor, ser mulher, ser negra e ser pobre”, diz Jamile Melo, de 17 anos, moradora de Santarém, no Pará. Os depoimentos apresentam angústias comuns da adolescência sendo encaradas por meninos e meninas e como isso se relaciona com a escola.

— O principal problema do ensino médio não está necessariamente no fato de a escola não ser eficiente — afirma Cacau: — A maioria dos jovens do ensino médio tem seus direitos violentados. A educação é uma porta de entrada para garantir outros direitos. Na escola, a gente se entende como ser humano e ganha repertório para poder conectar a complexidade da vida.
“Eu já vi muita violência e gente morrendo. Só que eu cheguei na adolescência vendo amigos meus entrando para esse mundo do tráfico. Esses dias mesmo um amigo meu morreu e ele mal tinha entrado nisso”, conta, no filme, Juliana Queiróz, de 16 anos, moradora de Duque de Caxias, no Rio.

O ensino médio, etapa escolar retratada no filme, tem as maiores taxas de abandono e reprovação no país. É o estágio em que os brasileiros aprendem menos e mais deles saem da escola. Em 2016, 7,5% dos jovens deixaram as salas de aula: quase 500 mil adolescentes abandonaram a matrícula no país, de acordo com o Censo Escolar. “Teve uma desmotivação minha também. Uma impressão de que o trabalho seria mais prático, mais rápido”, explica, no filme, Francisco Ronildo da Silva, de 18 anos, de Campos Sales, no Ceará.
Educadores que tiverem interesse em levar essa discussão para a sala de aula podem montar exibições do “Nunca me sonharam” pelo site videocamp.com/pt/movies/nuncamesonharam. Lá, é possível obter cópia gratuita da obra.
Extra
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