Brasil
é campeão em atos violentos de
alunos contra professores
As fotos que a professora
Marcia Friggi, 51 anos — professora de português há 10 anos —
postou, em uma rede social, refletem um a situação que não é
isolada: o Brasil é líder em violência contra docentes, de acordo
com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE)
As imagens mostram o rosto
dela desfigurado, com sangue, supostamente resultado da agressão de
um aluno de 15 anos do Centro de Educação de Jovens e Adultos
(Ceja) de Indaial (SC), na segunda-feira.
Segundo pesquisa da OCDE,
12,5% dos professores brasileiros disseram sofrer violência verbal
ou intimidação de alunos, pelo menos uma vez por semana. O Brasil
ocupa a primeira posição no ranking. Em segundo lugar aparece a
Estônia com 11%, seguida pela Austrália com 9,7%.
A pesquisa foi realizada em 34
países, com a participação de 100 mil professores e diretores dos
ensinos fundamental e médio.
Outra pesquisa mostra que mais
de 22,6 mil professores foram ameaçados por estudantes e mais de 4,7
mil sofreram atentados à vida nas escolas. Os dados são do
questionário da Prova Brasil 2015, aplicado a diretores, alunos e
docentes do 5º e do 9º anos do ensino fundamental de todo o país.
A violência também ocorre
entre estudantes: 71% dos mestres presenciaram agressões verbais ou
físicas entre eles. As informações estão na plataforma Qedu.
Na postagem feita por Marcia
Friggi, ela afirma que não sabe se voltará a dar aula. Segundo ela,
depois de uma discussão em sala de aula, em que o aluno a teria
insultado e jogado um livro nela, pediu para que o aluno se retirasse
da sala.
Na diretoria, o aluno negou a
versão da professora e a agrediu com tapas e um soco que abriu o
supercílio e deixou o olho de Marcia inchado.
“Estou dilacerada por ter
sido agredida fisicamente. (...) Estou dilacerada porque me sinto em
desamparo, como estão desamparados todos os professores brasileiros.
Estamos, há anos, sendo colocados em condição de desamparo pelos
governos.
A sociedade nos desamparou”,
desabafou. Em nota, a prefeitura de Indaial disse que a Secretaria de
Educação e a Promotoria avaliarão o procedimento com relação ao
aluno. “Após a ocorrência, a família do aluno e o Conselho
Tutelar foram acionados até o Ceja. Devido ao tipo de agressão, o
caso seguiu para a Promotoria da Justiça da Infância e da
Adolescência”.
Referência
A presidente-executiva da
organização Todos Pela Educação, Priscila Cruz, acredita que o
primeiro passo é reconhecer que a escola sozinha não é capaz de
prevenir a violência.
“Muitas vezes, essa é a
referência em casa, na comunidade. É preciso trabalhar a cultura de
paz nas escolas: motivar a solução não violenta de conflitos,
propor oportunidades de vivenciar projetos em que soluções
pacíficas são executadas, fazer com que eles se coloquem em
soluções reais. Qualquer violência escolar não é um problema só
da educação”.
Para a coordenadora executiva
da Comunidade Educativa (Cedac), Roberta Panico, essa violência é
uma reprodução do que ocorre fora da escola, mas há outro tipo de
agressão praticada pela escola contra o aluno, da qual pouco se
fala. “A sociedade está mais violenta. Ir para uma escola suja,
quebrada, não aprender o que deveria, isso também é violência”.
Segundo Panico, a escola é
brutal com quem não se encaixa em seus moldes. “Os mais
indisciplinados, muitas vezes, são muito inteligentes, mas não se
encaixam nas regras”, acredita.
“A escola desafia pouco
esses alunos, intelectualmente. A juventude é uma idade de
transgressão e a escola precisa transformar em uma transgressão
positiva, em um envolvimento em trabalhos sociais. Esses alunos
respondem bem a responsabilidades, eles se sentem valorizados”,
analisa.
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