Com maior rival fora, "queridinho" de Bolt pode se firmar como novo nome dos 100m
Trayvon Bromell tinha marcas mais consistentes que Andre de Grasse, mas sofreu com lesão no tendão de Aquiles e não conquistou vaga para o Mundial de Londres
ndre de Grasse ganhou os holofotes com a bênção de Usain Bolt. Riu ao lado do jamaicano antes de cruzar a linha de chegada na semifinal olímpica dos 200m na Rio 2016, conquistou o bronze nos 100m com a melhor marca da carreira e foi apontado pelo Raio como um possível sucessor nas provas de velocidade. Em junho, até correu 9s69, mas com uma ajuda considerável do vento. Apesar de toda a badalação, o canadense ainda tenta se firmar como grande nome da nova geração. Para sorte do canadense, o atleta com marcas mais promissoras nas duas últimas temporadas não será seu adversário no Mundial de Londres.
Trayvon Bromell e De Grasse dividiram o bronze no Mundial de Pequim de 2015. Mas o último lugar na final olímpica dos 100m ofuscou o americano. Na ocasião, Bromell sofreu com dores no tendão de Aquiles. Depois de operar e passar meses em recuperação, voltou às pistas justamente nas seletivas americanas. Não passou das eliminatórias e deixou o caminho aberto para De Grasse brilhar.
Trayvon Bromell e Andre de Grasse dividiram o bronze no Mundial de 2015 (Foto: Getty Images)
Nas redes sociais, De Grasse já levava uma vantagem enorme em termos de popularidade...
atletismo alcance redes andre de grasse trayvon bromell (Foto: GloboEsporte.com)
... mas a evolução dos tempos mostra Bromell com maior consistência e representatividade nas pistas.
A primeira vez que o americano quebrou a barreira dos 10s foi em 2013, com apenas 17 anos, tornando-se o primeiro atleta ainda cursando o Ensino Médio a fazê-lo. A marca de 9s99, porém, não foi homologada pela IAAF pela velocidade do vento ter sido de 4,0 m/s, enquanto o limite para ratificação é 2,0 m/s.
Bromell oficialmente venceu a barreira dos 10 segundos em 2014, ano em que tornou-se recordista mundial sub-20 ao lado do britânico Mark Lewis-Francis, único outro atleta no mundo a correr na casa dos 9 segundos nesta idade.
De Grasse de certa forma compensou o tempo perdido e já correu os 100m em menos de 10s nove vezes até hoje, apenas uma a menos que Bromell – considerando-se tempos homologados pela IAAF. A diferença é que o americano já baixou para a faixa de 9s80 três vezes, tendo inclusive a 11ª melhor marca de todos os tempos. O canadense segue na casa de 9s90, tendo apenas a 34ª marca na lista dos melhores da história. Confira na tabela abaixo.
(Foto: GloboEsporte.com com informações da IAAF)
De Grasse: filho de imigrantes para resgatar tradição canadense
De Grasse ainda era criança quando Bruny Surin correu abaixo de 10 segundos no Mundial de 1999. O Canadá, que antes era o grande rival dos Estados Unidos nas provas de velocidade, enfrentaria mais de uma década sem nenhum atleta competitivo nos 100m. Seria justamente um filho de imigrantes a encerrar essa escassez.
Natural de Trinidad e Tobago, a mãe de De Grasse foi atleta universitária e mudou-se para o Canadá aos 26 anos. O pai dele, nascido em Barbados, já estava no país desde a adolescência. E o menino veloz, filho único deste casamento, levaria a bandeira branca e vermelha de volta aos pódios das provas rápidas.
De Grasse com a mãe após conquistar bronze no Mundial de 2015 (Foto: Reprodução / Instagram)
De Grasse nasceu Scarborough e cresceu em Markham, em Ontario. A mãe Beverley achou que o futebol era uma boa saída para gastar a energia do filho que gostava de correr de um lado para o outro. Na adolescência a paixão foi o basquete, mas a falta de um time no último ano do Ensino Médio fez com que o canadense se arriscasse no atletismo.
Foi muito bem na primeira prova e caiu nas graças de Tony Sharpe, técnico que nos tempos de atleta foi medalhista de bronze no 4x100m em Los Angeles 1984. A ascensão foi meteórica, e de Grasse tornou-se disputado por universidades americanas. Foi estudar na University of Southern California. Desde então:
- De Grasse quebrou a barreira dos 10s em maio de 2015
- Sagrou-se campeão dos 100m e 200m no Pan de Toronto
- Tornou-se o 1º velocista canadense a conquistar 3 medalhas na mesma Olimpíada
- Foi apontado por Usain Bolt como seu possível sucessor
Usain Bolt ri com De Grasse na semi dos 200m na Rio 2016 (Foto: Reuters)
Para o Raio, porém, De Grasse precisa saber lidar com os holofotes e ver o esporte também como um espetáculo para o público. O jamaicano acredita que será preciso que o canadense deixe a timidez de lado para buscar o status de novo ídolo.
- As pessoas querem ver grandes exibições, mas querem ver personalidades com algo diferente. Por isso disse ao De Grasse, na última temporada. Você está indo bem, mas é muito calado. Olha a atenção que você está tendo porque está se divertindo. E as pessoas olhavam para ele e falavam “Oh, De Grasse é tão legal.” Mas foi eu (Bolt) sair e ele... (faz onomatopeia como se mostrasse que De Grasse murchou). Disse a alguns atletas que conheço pessoalmente: “Vocês precisam desenvolver suas personalidades, não apenas as performances”. Espero que eles acreditem em mim e tentem mudar.
Bromell: fã de videogame, universitário e religioso
Nascido em São Petersburgo, na Flórida, Bromell foi incentivado a correr por um tio, aos 10 anos. O interesse pelo atletismo tinha surgido de forma curiosa: jogando videogame. O amigo TJ Holmes contou ao jornal “Tampa Bay Times” a motivação.
- Nunca tínhamos pensado sobre as Olimpíadas ou mesmo assistido. Depois de jogar o Atenas 2004 (nome do jogo), nós quisemos fazer parte de alguma coisa deste tipo no futuro. Os dois esperavam que pudessem ser personagens deste jogo no futuro.
Até chegar ao nível profissional, Bromell sofreu vários problemas físicos, como uma fratura no antebraço, uma fissura no quadril e lesões nos dois joelhos. Apesar dos obstáculos, se destacou o suficiente para ingressar a equipe da Baylor University, no Texas, onde cursa comunicação. Chamou ainda mais atenção a ponto de atrair o agente de Usain Bolt, Rick Simms.
Bromell foi
- o 1º atleta da Baylor desde Michael Johnson, 24 anos antes, a ganhar o prêmio de melhor performance no campeonato de revezamentos de 2014 do Texas
- o 1º calouro desde Walter Dix, em 2005, a vencer os 100m do NCAA
- medalhista de bronze nos 100m no Mundial de 2015 aos 20 anos
- medalhista de ouro nos 60m no Mundial de 2016 aos 20 anos
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