terça-feira, 25 de julho de 2017

ESPORTE





Muito gasto para pouco ponto: o Internacional é o rebaixado mais ineficiente do país


Com R$ 125 milhões investidos em salários, o valor mais alto entre outros clubes que jogaram a Série B, os gaúchos têm um dos piores aproveitamentos até a 16ª rodada


RODRIGO CAPELO

Roberto Melo, vice de futebol, apresenta os reforços Leandro Damião e Camilo. O Internacional precisa subir na tabela (Foto: Divulgação / SC Internacional)

Roberto Melo, vice de futebol, apresenta os reforços Leandro Damião e Camilo. O Internacional precisa subir na tabela (Foto: Divulgação / SC Internacional)


Marcelo Medeiros, presidente do Internacional havia três meses àquela altura, justificava o acréscimo nas despesas com remunerações de jogadores, apesar de o clube ter sido rebaixado e estivesse às vésperas de começar sua jornada na segunda divisão nacional. "A folha subiu porque a folha do ano passado nos rebaixou", afirmou o cartola em abril deste ano. O raciocínio não é de todo errado. Salários mais altos pressupõem jogadores de maior qualidade, e por consequência maior probabilidade de vitória em campo. Mas o Internacional desafia as leis da economia no esporte.
Entre os clubes mais populares que jogaram a segunda divisão desde 2003, o Inter tem a segunda pior performance esportiva. Com 24 pontos conquistados entre 48 possíveis, os gaúchos chegaram à 16ª rodada da Série B com 50% de aproveitamento. Só o Atlético-MG com 48% em 2006, foi pior do que os gaúchos até a mesma etapa. O clube colorado ainda tem a maior parte da competição para recuperar seu rendimento, subir do sexto lugar para os quatro primeiros e garantir seu retorno à elite. Mas o estado atual da equipe preocupa.
Duas medidas foram tomadas por Piffero para solucionar o quadro em seu biênio. Primeiro passou a tomar mais empréstimos bancários. Os débitos com instituições financeiras dobraram de R$ 29 milhões em 2013 para R$ 62 milhões em 2016. O problema disso é que banco cobra juro, e aí as despesas financeiras, que não entraram naquele cálculo operacional do parágrafo anterior, dobraram junto. A segunda atitude foi negociar antecipadamente os direitos de transmissão de 2021 a 2024 com a TV Globo e os de 2019 e 2020, apenas para a TV fechada, com o Esporte Interativo. Isso rendeu ao clube R$ 61 milhões em luvas no decorrer de 2016 e deu um alívio.
Outro movimento aconteceu nas contas do Internacional. Entre 2014 e 2016 os gastos com salários e remunerações de atletas, essenciais para conseguir resultados em campo, caíram de R$ 132 milhões para R$ 119 milhões. A folha salarial colorada, que estava entre as quatro maiores do país e explicava em boa parte por que o time era favorito nas competições que jogava, passou a ser a sétima do país. Mas as despesas como um todo não foram reduzidas. Pelo contrário. O Beira-Rio foi reformado para a Copa do Mundo de 2014 e, embora não tenha endividado o time, aumentou gastos administrativos, que foram de R$ 108 milhões para R$ 133 milhões. O custo com patrimônio, óbvio, é importante. Mas a inversão nas despesas afeta o futebol.
A soma de todos esses problemas é o que faz agora o novo presidente se queixar da situação que encontra. O orçamento colorado para 2017 conta com receitas na casa dos R$ 250 milhões, sem considerar vendas de atletas, e despesas em torno de R$ 310 milhões. Para piorar, há R$ 155 milhões em dívidas de curto prazo, que vencem no decorrer de 2017. Medeiros não tem mais o recurso das luvas por novos contratos de TV – Piffero queimou o cartucho e mesmo assim fechou 2016 com déficit. Na Série B, há uma real probabilidade de que algumas receitas, sobretudo com sócios e estádio, caiam. Quanto às dívidas, resta ao novo presidente renegociá-las, pagá-las com novos empréstimos ou dar calote. Não há dúvida de que o Internacional, outrora habituado a slogans campeões, enfrentará em 2017 a temporada mais desafiadora de sua história recente.
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