Pesquisas
revelam 60 mil
analfabetos no Distrito
Federal
O número de pessoas que não sabem ler e escrever saltou de 1,9% da população para 2,08%, entre 2013 e 2015. Brasilienses que abandonaram os estudos contam o drama de ser iletrado
A
realidade de Shirley é a mesma que a de outras 60.329 pessoas no DF que
não sabem ler nem escrever. O dado é da Pesquisa Distrital por Amostra
de Domicílios (Pdad), divulgada pela Companhia de Planejamento
(Codeplan). Os resultados do levantamento mostram que o número saltou de
1,9% da população para 2,08%, entre 2013 e 2015. A pesquisa aponta
ainda que o Paranoá é a região administrativa com o maior percentual de
analfabetos: 4,03%. Em seguida, aparecem Brazlândia (3,7%), Ceilândia
(3,58%) e Santa Maria (3,50%). A capital tem hoje 3 milhões de
habitantes. Apesar dos números, o DF foi a única unidade da Federação
que recebeu do governo federal, em 2014, o selo “Território Livre do
Analfabetismo”. O certificado só é dado às localidades em que 96% dos
moradores podem ler e escrever.
Josenaide
Laurindo Marques, 47 anos, enfrenta dificuldades com as letras. A
piauiense acorda às 4h20 para pegar o primeiro ônibus que sai do
terminal de Águas Lindas rumo ao Plano Piloto. Depois de chegar à
Rodoviária, por volta das 6h30, ela precisa pegar outro ônibus para o
serviço. Hoje, a doméstica trabalha em uma casa de família na Asa Sul.
Josenaide chegou à capital com 6 anos, em 1970, depois de deixar
Barreiras do Piauí. Nascida em uma realidade difícil, a infância dela
foi marcada pela miséria. “Era tudo muito triste, pobre. Desde muito
nova, precisei trabalhar na roça para ajudar minha mãe, que cuidou dos
cinco filhos sozinha. A gente precisava se virar. Eu juntava lenha para
os outros, carregava água em baldes, vigiava plantação na roça das
pessoas, ajudava minha mãe a descascar mandioca”, relembra. Josenaide
nunca teve a oportunidade de ir à escola. Assim que chegou ao DF,
começou a trabalhar como doméstica, ainda criança. “Sempre trabalhei na
casa dos outros limpando, cozinhando, cuidando de crianças. Não dava
para eu estudar, porque os patrões não deixavam. Eu tinha de limpar
durante o dia e cuidar dos filhos deles à noite.”
Desafio em todo país
A
alfabetização da população ainda é um grande desafio em todo o país. O
Brasil tem cerca de 12,9 milhões de pessoas analfabetas, de acordo com a
mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad),
divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O
número representa 8% da população acima de 15 anos. Embora o dado seja
expressivo, ele representa uma queda de 0,3 ponto percentual em relação a
2014, quando 13,7 milhões de pessoas no país viviam nesse contexto. A
região Nordeste apresentou a maior taxa de analfabetismo, com 16,2%. Os
menores índices continuaram a ser os das regiões Sul (4,1%) e Sudeste
(4,3%). No Norte, o percentual cresceu de 9% para 9,1%, sendo a única
região em que houve aumento desde 2014. O Centro-Oeste registrou uma
proporção de 5,7%.
CB |
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