segunda-feira, 31 de julho de 2017

DF


Pesquisas revelam 60 mil 

analfabetos no Distrito 

Federal

O número de pessoas que não sabem ler e escrever saltou de 1,9% da população para 2,08%, entre 2013 e 2015. Brasilienses que abandonaram os estudos contam o drama de ser iletrado

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A vendedora ambulante Shirley Ananias, 33 anos, nasceu em Ibiá, no interior de Minas Gerais, mas vive no Distrito Federal há mais de dez anos. Ela tem uma filha de 3 anos, a pequena Bruna Ananias Clementina da Silva, e seu maior desejo é que a criança seja letrada, já que não teve o que descreve como “privilégio”. “Com 11 anos, eu parei de ir à escola porque tinha de trabalhar na lavoura para ajudar em casa. Agora, tudo que eu quero para minha menina é que ela não passe por essa tristeza. Bruna já está na creche e, depois, vai para um colégio aprender tudo.” Quando questionada sobre a lembrança mais feliz da infância, Shirley cita os momentos em que estava na escola. “Não me lembro do barraco de lona em que morava, da miséria. Só da felicidade que era estudar”. Os olhos da mineira se enchem de água com o relato.

A realidade de Shirley é a mesma que a de outras 60.329 pessoas no DF que não sabem ler nem escrever. O dado é da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), divulgada pela Companhia de Planejamento (Codeplan). Os resultados do levantamento mostram que o número saltou de 1,9% da população para 2,08%, entre 2013 e 2015. A pesquisa aponta ainda que o Paranoá é a região administrativa com o maior percentual de analfabetos: 4,03%. Em seguida, aparecem Brazlândia (3,7%), Ceilândia (3,58%) e Santa Maria (3,50%). A capital tem hoje 3 milhões de habitantes. Apesar dos números, o DF foi a única unidade da Federação que recebeu do governo federal, em 2014, o selo “Território Livre do Analfabetismo”. O certificado só é dado às localidades em que 96% dos moradores podem ler e escrever.

Josenaide Laurindo Marques, 47 anos, enfrenta dificuldades com as letras. A piauiense acorda às 4h20 para pegar o primeiro ônibus que sai do terminal de Águas Lindas rumo ao Plano Piloto. Depois de chegar à Rodoviária, por volta das 6h30, ela precisa pegar outro ônibus para o serviço. Hoje, a doméstica trabalha em uma casa de família na Asa Sul. Josenaide chegou à capital com 6 anos, em 1970, depois de deixar Barreiras do Piauí. Nascida em uma realidade difícil, a infância dela foi marcada pela miséria. “Era tudo muito triste, pobre. Desde muito nova, precisei trabalhar na roça para ajudar minha mãe, que cuidou dos cinco filhos sozinha. A gente precisava se virar. Eu juntava lenha para os outros, carregava água em baldes, vigiava plantação na roça das pessoas, ajudava minha mãe a descascar mandioca”, relembra. Josenaide nunca teve a oportunidade de ir à escola. Assim que chegou ao DF, começou a trabalhar como doméstica, ainda criança. “Sempre trabalhei na casa dos outros limpando, cozinhando, cuidando de crianças. Não dava para eu estudar, porque os patrões não deixavam. Eu tinha de limpar durante o dia e cuidar dos filhos deles à noite.”
 
Desafio em todo país

A alfabetização da população ainda é um grande desafio em todo o país. O Brasil tem cerca de 12,9 milhões de pessoas analfabetas, de acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número representa 8% da população acima de 15 anos. Embora o dado seja expressivo, ele representa uma queda de 0,3 ponto percentual em relação a 2014, quando 13,7 milhões de pessoas no país viviam nesse contexto. A região Nordeste apresentou a maior taxa de analfabetismo, com 16,2%. Os menores índices continuaram a ser os das regiões Sul (4,1%) e Sudeste (4,3%). No Norte, o percentual cresceu de 9% para 9,1%, sendo a única região em que houve aumento desde 2014. O Centro-Oeste registrou uma proporção de 5,7%.

O especialista na área de educação Afonso Galvão aponta as consequências geradas por esse cenário. “O indivíduo analfabeto tende a reproduzir sua condição menos favorecida. Por causa da privação social, as chances que os filhos deles têm de estarem inseridos em uma realidade de desigualdade social são grandes”, argumenta.
CB

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