Veneno
de aranha vira arma
para combater um dos piores
vilões na
agricultura
Estudo pioneiro pode transformar a forma como é feito o manejo da mosca branca, praga que ataca várias culturas e traz prejuízos milionários Foto: Divulgação |
Você
imaginou o Homem-Aranha, das histórias em quadrinhos, se balançando no
meio de uma lavoura? Ok, a ideia seria - no mínimo - interessante, mas
não é isso. A ação aqui acontece em nível microscópico: a pesquisa da
Embrapa pretende usar uma molécula tóxica – que existe no veneno das
aranhas em geral – para controlar a mosca branca, inseto que “suga” os
nutrientes das plantas e gera prejuízos em diversas culturas, como soja,
algodão e principalmente no tomate, em que as perdas podem chegar a
50%. Embora não “dê pra ver”, o resultado pode transformar o jeito como é
feito o manejo, baseado atualmente em defensivos agrícolas.
O projeto começou há pouco mais de um
ano e deve ser finalizado até o fim de 2017. O maior desafio, agora, é
encontrar um jeito eficaz de levar o veneno até o sistema nervoso do
inseto. A mosca se alimenta da seiva, que é aquele líquido que carrega e
distribui os nutrientes nos vegetais. O que acontece, hoje, é que, se a
praga sugasse a toxina junto com o “almoço”, não aconteceria
absolutamente nada, porque o veneno seria eliminado pelo sistema
digestivo dela. Por isso, a aposta dos cientistas é fazer uma combinação
entre o veneno e uma proteína que serve de “capa protetora” para um
vírus que é transmitido pela própria mosca branca.
O objetivo é que a “toxina encapada”
engane os sistemas de defesa da praga, caindo no sistema circulatório e
assim chegando ao sistema nervoso. “Há duas possibilidades delineadas
para conseguir o efeito tóxico: desenvolver uma planta que expresse a
proteína de fusão [combinação entre veneno e vírus], sendo a fonte do
produto tóxico, ou alimentar o inseto com uma dieta artificial”, diz o
biólogo Erich Nakasu, da Embrapa Hortaliças (DF), à frente do estudo. O
pesquisador acrescenta que o próximo passo será testar esse método de
controle em casas de vegetação sob condições controladas.
É seguro?
Segundo os cientistas, o vírus usado na
proteína de fusão é transmitido exclusivamente pela mosca branca, por
isso ela seria o único inseto prejudicado, ou seja, joaninhas e abelhas,
importantes para a agricultura, estariam a salvo.
Outro ponto que, a esta altura, você
deve estar se perguntando: não, as substâncias não fazem mal para a
saúde de nós, humanos, garantem os pesquisadores. “A toxina que está
sendo avaliada no projeto, extraída do veneno da aranha, tem ação
específica e ocasiona danos somente em insetos. Em vertebrados, em
geral, incluindo humanos, não causa nenhuma consequência nociva ou
efeito deletério”, explica Erich Nakasu, destacando ainda que os
experimentos seguem as normas da Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança (CNTBio) e que o laboratório possui certificação de
qualidade.
Estudos semelhantes
Em sua tese de doutorado, o biólogo fez
um experimento parecido e conseguiu bons resultados, a diferença é que a
praga-alvo eram os pulgões. No caso da mosca branca, a principal
dificuldade é que ela se reproduz rápido e não faz “cerimônia”: ataca
vários tipos de culturas, sugando os nutrientes e prejudicando o
desenvolvimento das plantas, além de transmitir vírus para elas. Hoje o
controle é feito basicamente com agroquímicos, elevando os custos, mas
em Goiás, por exemplo, maior produtor de tomates do Brasil, agricultores
foram obrigados a adotar um vazio sanitário entre novembro e janeiro,
porque, nesse período, há outros cultivos que são hospedeiros da
mosca-branca, como a soja.
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