Decisão inédita da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) aconteceu no início de março
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Ela nasceu em um corpo de menino, mas “sempre soube que era homossexual”, relata. Aos 17 anos, começou um tratamento hormonal para reduzir os níveis de testosterona no organismo, e no ano seguinte fez a primeira cirurgia plástica – com apoio dos familiares. O vôlei é o esporte preferido desde a infância. “Na adolescência, eu vi que não me enquadrava nos padrões masculinos. Porque os meus níveis de testosterona sempre foram mais baixos, mesmo antes do tratamento hormonal”. Como “não fazia sentido” jogar entre os homens, e a documentação dela não permitia integrar um time feminino, o vôlei virou apenas um hobby. Isabelle Neris estudou, tornou-se técnica em radiologia, e hoje trabalha em um salão de beleza. Em 2015, foi chamada a integrar o time Voleiras, que disputa torneios locais e regionais. “Deixei bem claro para a comissão técnica e para as outras meninas que eu só poderia participar de treinos”, ressalta. No mesmo ano, ela entrou com recurso para alteração dos documentos, e a comissão técnica da equipe passou a buscar informações sobre a possibilidade de inscrevê-la em uma partida oficial. Inspiração “Eu nunca tive notícia de nenhum transexual, homem ou mulher, participando de competições esportivas oficiais”, conta Isabelle. “Foi aí que eu conheci a história da Tiffany, uma brasileira que joga em alto rendimento na Itália”. Tiffany Abreu jogava em uma equipe masculina no Brasil, “como se fosse um homem”. Ao chegar à Itália, alterou seus documentos e conseguiu uma liberação da Federação Internacional de Voleibol para competir entre as mulheres. “Foi a minha inspiração”, lembra a curitibana. Em uma decisão inédita, há duas semanas, a CBV autorizou que Isabelle fosse registrada como atleta da equipe feminina. Ao contrário de Tiffany, ela não precisou apresentar a comprovação dos níveis de testosterona, porque vai disputar apenas torneios amadores. Preconceito “Quando eu entro em quadra, noto os olhares, as risadinhas, os xingamentos. É muito explícito, muito ofensivo, direcionado, mas eu tento ignorar”, afirma Isabelle. “Porque ninguém é obrigado a gostar de nada, mas tem que respeitar”. O sonho de ser jogadora profissional ficou para trás, mas Isabelle está tranquila em relação ao futuro no esporte. “Eu já tenho 25 anos, e geralmente as atletas de alto nível começam mais cedo. Mas quero continuar jogando em competições regionais, locais, e ser cada vez mais respeitada”, No país que mais mata transexuais do mundo, ela sabe que estar em quadra já é uma vitória.
Fonte:Brasil de FatoEdição: Ednubia Ghisi
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