Manifestantes protestam contra Sérgio Moro e são vaiados em NY
Juiz Sérgio Moro participa de evento sobre a Lava-Jato na Universidade de Columbia (EUA) Foto: Reprodução |
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela maior parte dos processos
da Operação Lava Jato na primeira instância, foi alvo de um protesto
nesta segunda-feira (6) antes de fazer uma palestra na Universidade
Columbia, em Nova York.
Ovacionado quando subiu ao palco, Moro teve dificuldade para começar a
falar. Manifestantes brasileiros, espalhados pela plateia, interrompiam o
juiz dizendo em inglês que ele não era bem-vindo à universidade.
Quatro deles gritaram que os julgamentos feitos por Moro na Lava Jato
são "tendenciosos e partidários". Outros carregavam cartazes que traziam
a palavra "golpe", e o rosto do juiz preenchia a letra "O".
A maior parte da plateia irrompeu em vaias para tentar calar os manifestantes.
Seis manifestantes foram retirados do local. No vídeo acima, veja a íntegra da palestra de Moro.
A palestra
Na palestra, Sergio Moro explicou a Operação Lava Jato como se falasse a
um público estrangeiro, apesar de a grande maioria dos presentes serem
brasileiros. Elogiou a atuação do ministro Edson Fachin, indicado para
ser o novo relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).
Moro disse que a operação pode significar "um curto período de
instabilidade, mas há outras escolhas a serem feitas, nem tudo é a
economia. Se não fizermos nosso trabalho a democracia e o Judiciário
podem sair prejudicados".
Afirmou também que se encarrega apenas de julgar o trabalho dos
procuradores. "Se os procuradores apresentam evidências de conduta
criminosa, e se isso envolve políticos, eu preciso decidir baseado nas
evidências. A consequência política é algo que acontece fora dos
tribunais."
Logo depois, a sessão foi aberta para perguntas da plateia. Questionado
se tinha interesse em ocupar uma cadeira no STF, Moro sorriu e
respondeu que "não faria campanha". Quando indagado sobre o nome de Alexandre de Moraes, naquela hora ainda apenas cogitado para o cargo, Moro disse que estava longe do Brasil e não estava atento às notícias, mas que desejava sorte ao novo ministro.
Moro falou sobre a foto tirada conversando, descontraído, com o senador
Aécio Neves (PSDB-MG) durante um evento no ano passado. Aécio é citado na delação da Odebrecht e nega qualquer irregularidade.
Moro disse que estava sentado ao lado do senador: "O que podia fazer?".
Também disse que não conversavam sobre as investigações.
O juiz deu a entender que vai continuar tornando públicas delações da
Lava Jato. Disse que vazamentos à imprensa são ilegais, mas que a
divulgação autorizada pelo juiz é diferente. "A Justiça brasileira
permite e até exige essa conduta", disse.
Um estudante questionou Moro sobre a relação da Lava Jato com o
descobrimento do pré-sal. Moro disse que "não há nenhuma evidência disso
e não podemos acreditar em teorias da conspiração. Às vezes isso parece
conversa de maluco".
"Devemos ter fé no futuro", disse Moro, "e se conseguirmos superar a
corrupção sistêmica teremos razão para ficarmos orgulhosos do Brasil e
provar que a democracia vai sair fortalecida".
Lava Jato não é criminalização da política, diz Moro
Na palestra, Moro contestou a tese de que a Operação Lava Jato é uma forma de criminalizar a política.
"Ninguém está sendo processado ou condenado com base em suas opiniões
políticas. São casos envolvendo propinas. Então, não é similar ao
macarthismo, é complemente diferente", disse, ao responder a uma das
perguntas da plateia.
Em sua fala, ele ponderou que, como o caso envolve propina a políticos,
"inevitavelmente" haverá consequências políticas. "Mas isso acontece
fora do tribunal e o juiz não tem controle sobre isso", ressalvou Moro.
"Alguns políticos também dizem que a Operação Lava Jato representa a
criminalização da política. Mas para sermos honestos, a culpa não pode
ser apontada para o processo judicial, mas para os políticos que
cometeram os crimes. O processo judicial é somente uma consequência. O
Judiciário não pode ficar cego diante desses crimes", completou em
seguida.
Moro também disse que os juízes estão "apenas fazendo seu trabalho",
"processando os casos baseados em provas" e que as ações estão sendo
conduzidas conforme o "devido processo legal", com respeito aos direitos
da defesa.
Fonte: G1
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