Investimentos externos no Brasil sofreram queda de US$ 15 bi
Dados publicados nesta quarta-feira, 01, pela Conferência da ONU para Desenvolvimento e Comércio (Unctad) indicam que, depois de receber US$ 65 bilhões em investimentos externos em 2015, o Brasil acumulou US$ 50 bilhões em 2016. A queda, de 23%, foi uma das maiores do mundo.
Para 2017, uma recuperação no Brasil
pode ser minada justamente por conta da incerteza gerada pelas novas
políticas de Donald Trump, revisão em acordos comerciais e
multinacionais que, diante do novo cenário, hesitariam em voltar a
manter o fluxo de recursos para os emergentes.
O valor deixou o Brasil na sexta posição
entre os principais destinos de multinacionais pelo mundo. O ranking
foi liderado pelos EUA, com US$ 385 bilhões, seguido pelo Reino Unido
com US$ 179 bilhões. A China aparece na terceira posição, somando US$
139 bilhões. A lista dos primeiros colocados ainda se completa com Hong
Kong com US$ 92 bilhões e Cingapura com US$ 50 bilhões.
No mundo, a contração no fluxo de
investimentos foi de 13%, totalizando US$ 1,52 trilhão. O grupo de
países em desenvolvimento viram uma contração de 20% da entrada de
capitais, para um total de US$ 600 bilhões.
Mas um dos maiores tombos foi registrado
no Brasil. A economia nacional sofreu ao mesmo tempo com a recessão -
afastando empresas que estavam interessadas no mercado doméstico - e com
a queda no preço das commodities, fazendo gigantes do setor de matéria
prima adiar investimentos.
Um dos aspectos mais importantes foi a
queda na compra de ações de empresas brasileiras. O volume foi reduzido
de US$ 49 bilhões para US$ 35 bilhões. O que chama a atenção também dos
especialistas foi o tombo na abertura de novas fábricas por parte de
multinacionais, passando de US$ 17 bilhões em 2015 para apenas US$ 11
bilhões, uma redução de 35%.
Para 2017, A Unctad não garante uma
expansão dos investimentos no Brasil. Se de um lado existe uma tendência
ao aumento dos preços de commodities e, portanto, maior interesse por
investir no País, a queda no consumo doméstico abortou planos de
empresas de apostar no mercado brasileiro.
"Os investimentos em toda a América
Latina estavam em valores muito baixos e, portanto, não descartamos que
possa haver um aumento", explicou James Zhan, diretor do Departamento de
Investimentos da Unctad. "Mas não sabemos como esses investimentos vão
poder compensar a queda em outros setores", disse.
Segundo ele, outra incerteza que ronda a
América Latina é a eventual política comercial de Donald Trump, nos
EUA. Um dos maiores investidores na região é o setor privado americano
que, por sua vez, pode ser obrigado a manter seus recursos na economia
dos EUA para não sofrer sobretaxas.
Empresas do setor automotivo que tinham
planos de investir no México foram obrigadas a repensar sua estratégia. O
mesmo, portanto, pode ocorrer com o Brasil.
China - Zhan não descarta que o espaço
deixado pelos americanos pode ser preenchido por empresas chinesas e
europeias. De fato, as aquisições no Brasil subiram de 1 bilhão para US$
8 bilhões entre 2015 e 2016. Mas praticamente graças a compras
chinesas.
A China Three Georges Corp investiu US$ 4
bilhões numa concessão de energia no Brasil e ainda gastou mais US$ 1
bilhão para ficar com os ativos brasileiros da empresa americana Duke
Energy.
Ainda assim, a queda de fluxo ao Brasil
afetou o total recebido pela América Latina. As mais de 30 economias da
região acumularam, juntas, menos investimentos que individualmente foi
aplicado por multinacionais China, EUA ou no Reino Unido. Com US$ 135
bilhões em 2016, a América Latina só conseguiu superar a África.
Para 2017, a previsão da ONU é de uma
recuperação em 10% nos fluxos de investimentos no mundo, com um ano
melhor para as economias emergentes e uma estabilização nos mercados
ricos. Mas Zhan admite que "incertezas significativas" sobre o que
ocorrerá com a política comercial dos EUA e as eleições em diversos
mercados na Europa podem afetar qualquer cálculo.
O principal impacto pode ser sentido
justamente nos mercados emergentes, entre eles o Brasil. "Para economias
emergentes, um período de incertezas nos investimentos dos países ricos
pode minar a recuperação dos fluxos de investimentos a seus países",
indicou a ONU.
Multinacionais estariam aguardando para
entender o que Trump pretende fazer em termos de políticas de
investimentos para tomar suas decisões. Outro fator que pode pesar seria
uma retomada de um aumento das taxas de juros nos EUA, depois de uma
década a níveis baixos. Para a ONU, tal medida significaria "uma mudança
profunda na composição dos fluxos de capital, com implicações nas taxas
de juros e nos sistemas financeiros pelo mundo, especialmente para
economias em desenvolvimento".
"O aumento do custo do capital pode
minar investimentos por multinacionais que tenham assumido um nível de
dívida elevado", disse. No lado comerciais, o Brexit e a decisão de
renegociar o Nafta e outros tratados também poderiam afetar.
Fonte: Estadão
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