Cerca de 70% dos casos de AVC poderiam ser evitados
Foto Divulgação |
A pessoa estava tranquila, sem sentir nada e, de repente, um lado do corpo paralisou, a boca entortou e a fala ficou enrolada. A descrição é típica de alguém com acidente vascular cerebral (AVC). Foi assim com a aposentada Laurita Pereira, 66 anos. Ao se levantar do sofá onde assistia televisão, sentiu dormência do lado esquerdo, caiu e acabou no hospital. Internada há uma semana, tenta recuperar os movimentos e a fala.
A doença é
a segunda maior causa de mortes no país e também a mais incapacitante.
Segundo o Ministério da Saúde, a cada cinco minutos um brasileiro morre
em decorrência do AVC, contabilizando mais de 100 mil mortes por ano. No
mundo, ele causa seis milhões de mortes anualmente.
Aproximadamente
70% dos casos, porém, poderiam ser evitados com mudanças de hábitos de
vida e acompanhamento para evitar pressão alta, diabetes e excesso de
peso, já que estas são as principais causas do acidente vascular
cerebral.
Para
lembrar a população sobre a importância da prevenção e de políticas
públicas de saúde para diminuir os casos de AVC, todo dia 29 de outubro é
reservado para campanhas relacionadas ao tema. No DF, a data tem sido
lembrada com palestras com a participação de profissionais da Secretaria
de Saúde.
REFERÊNCIA
- Na rede pública do DF, o Hospital de Base é referência de atendimento
para a doença. É a única unidade do SUS na capital federal que conta
com profissionais de neurologia de plantão no pronto socorro 24 horas
por dia, sete dias na semana. "Cerca de 80% dos atendimentos na
neurologia do Pronto Socorro do Hospital de Base são de AVC", frisa a
neurologista especialista em acidente vascular cerebral, Letícia Costa
Rebello.
O
arquiteto Felipe Juan Ramos, 65 anos, está nesta estatística. No último
domingo (23) ele estava dirigindo e sentiu uma dormência no braço
direito. "Vez ou outra eu sentia isso, mas no domingo foi mais forte e
não consegui segurar a direção do veículo e acabei me acidentando",
conta. O socorro foi chamado, Juan foi levado para o Hospital de Base e,
ao fazer uma tomografia, descobriu o AVC. "Foi uma surpresa para mim,
apesar de sempre ter sofrido com pressão alta e muita enxaqueca",
relata.
A esposa
de Felipe Juan, Maria Cleusa diz que o esposo está se recuperando bem,
mas ainda sente muita dor de cabeça, dormência e confusão mental. "Só
sei que a partir de agora não deixo mais ele sair sozinho dirigindo.
Quem dirige agora sou eu", destaca.
A preocupação de Cleusa faz sentido. Segundo o neurologista Luciano Talma, os riscos de um segundo AVC são ainda maiores. "Se o paciente já passou por um acidente vascular cerebral, há exames específicos para este paciente. Quando a pessoa se expõe a novo evento, o risco de morte é maior", alerta.
DOENÇA
– O acidente vascular cerebral é caracterizado pela perda rápida da
função neurológica, decorrente do entupimento ou rompimento de vasos
sanguíneos cerebrais. Existem dois tipos, o AVC isquêmico e o
hemorrágico. Os sintomas são os mesmos para os dois casos, a diferença é
que no primeiro a lesão no cérebro é causada por falta de sangue e, o
outro, devido ao sangramento no cérebro.
"O AVC é
tempo-dependente: quanto mais rápido for atendido, maiores são as
chances de melhora. Cerca de 80% dos pacientes atendidos na primeira
hora conseguem sair sem sequelas", alerta a neurologista Letícia
Rebello.
Por isso,
a identificação rápida dos sintomas e o chamado da emergência são tão
importantes. Nesse sentido, o papel do Samu na rede pública de saúde é
primordial. "Quando recebemos a ligação, o médico regulador avalia o
paciente e envia uma Unidade de Suporte Avançado de Vida. A equipe, no
local, já presta os primeiros socorros e encaminha para o hospital",
descreve o gerente do Samu, Rafael Vinhal. Somente no primeiro semestre
de 2016, 706 pessoas com AVC foram atendidas pelo serviço.
Segundo
Luciano Talma, pacientes com AVC Isquêmico atendidos nas primeiras
quatro horas e meia podem fazer uso de uma medicação que ajuda a
reverter o quadro. "Esse procedimento não modifica a mortalidade, mas
diminui a sequela a longo prazo", frisa. Uma das maiores sequelas é a
incapacidade motora.
De acordo
com Letícia Rebello, uma nova técnica está em estudo pelo Ministério da
Saúde e também pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital de Base para
que, em breve, possa ser adotado na rede pública de saúde do país
inteiro. "Há casos em que a medicação não é eficaz e aí entramos com
essa nova técnica, utilizando um cateter", explica.
CAUSAS
– Há as causas que não podem ser modificadas, como a carga genética, a
idade e a raça. Pessoas acima de 50 anos e as negras têm maiores chances
de sofrer um AVC. As causas evitáveis – e responsáveis por 90% dos
casos de acidente vascular cerebral- são hipertensão, diabetes,
colesterol alto, tabagismo e arritmias cardíacas.
SINTOMAS
- Os principais sintomas são: formigamento ou fraqueza em um dos lados
do corpo, súbita dificuldade para falar, enxergar e andar; perda súbita
do equilíbrio, súbita dor de cabeça explosiva sem causa aparente e
vertigem.
PREVENÇÃO
– De acordo com o neurologista Luciano Talma, a principal prevenção é a
mudança dos hábitos de vida. "Temos percebido um aumento de casos de
AVC entre jovens e é justamente esse estilo de vida de hoje o
responsável por isso. Alimentação errada, sedentarismo, estresse,
álcool, tudo isso colabora para aumentar os riscos", enumera.
Ele diz, ainda, que fortalecer a atenção básica é primordial para evitar a doença e também diminuir os custos de internação para o governo.
Ele diz, ainda, que fortalecer a atenção básica é primordial para evitar a doença e também diminuir os custos de internação para o governo.
TREINAMENTO
– No último dia 22, o neurologista do Hospital de Base Luciano Talma
ofereceu o curso Atendimento do AVC Isquêmico Agudo- abordagem prática,
voltada para médicos da rede, em especial para os profissionais do Samu,
devido à importância desses servidores no atendimento ao paciente com
AVC. Cerca de 130 pessoas participaram.
"O evento
é fundamental para a educação permanente de todo profissional de saúde.
Com isso, eles podem prestar o melhor atendimento para os pacientes,
baseado nas mais recentes evidências científicas", ressalta Vinhal.
Nessa
quinta-feira (27), três profissionais da rede pública de saúde do DF
irão palestrar a respeito do tema, no auditório 3 da Faculdade de Saúde
da Universidade de Brasília. Entre os temas estão novos horizontes no
tratamento do AVC isquêmico agudo e técnicas de tratamento endovascular
do AVC isquêmico.
Fonte:Alline Martins /Agência Saúde
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