domingo, 16 de outubro de 2016

POLÍTICA

"Daqui a pouco, vai ter dinheiro só para a Previdência", diz Rodrigo Maia 
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Presidente da Câmara reforça a necessidade de mudanças nas regras de aposentadoria e prevê piora nas contas públicas dos estados  Fonte imagem: Difusora.com
Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia, 46 anos, está presidente do Brasil com a viagem de Michel Temer ao Oriente. Parece, entretanto, ter a exata dimensão do poder de fogo neste período. “Claro que é uma honra presidir o país por uma hora, quanto mais uma semana, mas não vamos tomar nenhuma decisão que não esteja colocada.” Se, no Planalto, Maia vai cumprir o protocolo do chefe do Executivo, na Câmara, onde é o comandante, ele tem o próprio plano, anunciado com os partidos do governo e da oposição. “As agendas são poucas, mas importantes e de difícil compreensão. Não dá para inventar”, disse ele, elencando o segundo turno do teto de gastos, o texto do pré-sal e as reformas política e da Previdência, o principal desafio do governo Temer, que Maia tenta adiar para depois das eleições municipais, e até agora tem conseguido. “Eu acho que o governo pode encaminhar a hora que quiser, só acho que agora vamos ter duas brigas, é besteira”, afirmou o deputado em entrevista ao Correio, na última quinta-feira. Entre uma olhada e outra no celular de forma frenética, falou também sobre a crise nos estados, impeachment, Eduardo Cunha, Brasília e o futuro do DEM, o partido que voltou ao centro das decisões com a saída de Dilma Rousseff.

Passado o teto de gastos, no primeiro turno, quais os próximos passos?


As agendas são poucas, mas importantes e de difícil compreensão. Não dá para inventar. Terminamos outubro com o pré-sal e o teto. Depois, o governo deve encaminhar a Previdência, que vai gerar muita discussão. Todo mundo precisa estudar a questão, ver as alternativas na Previdência pública e privada. É importante que possamos estar preparados para esse debate fundamental. É a reorganização do Estado brasileiro, o equilíbrio das contas que inclui o orçamento fiscal. Vamos entrar com uma pauta, combinada com o Senado, da reforma política, que, esperamos, avance durante o mês de novembro. Ficamos com a parte infraconstitucional, com as leis, e o Senado ficou com a PEC da cláusula do desempenho e fim de coligação.

E vai dar certo desta vez?

A pergunta que eu fiz ao Renan foi: “Vocês vão votar a PEC do financiamento privado? Não?” Então, se não vão, tem que se pensar qual sistema se encaixa nessa nova realidade. Há a ideia de criar um fundo eleitoral porque o partidário, do jeito que está, empodera demais poucas pessoas, os presidentes das legendas. Se vai ter só esse financiamento, majoritariamente, tem que pensar uma fórmula onde se tenha mais transparência sobre como esses recursos são distribuídos. Tem de se encaixar na realidade. É, por isso, que tenho defendido que esse modelo não representa mais ninguém e que, para se encaixar em um modelo de financiamento basicamente público, cabe testar a lista fechada. Ele é mais barato, mais simples de você financiar, não haverá briga. A briga existirá dentro dos partidos para compor a lista. Fora isso, o partido vai ter um percentual do seu fundo para fazer campanha no seu estado.

O senhor alertou o governo sobre um eventual erro em apresentar agora a reforma da Previdência. A falha permanece?

O governo pode encaminhar a hora que quiser. Eu só acho que, neste momento, você não deve ter duas brigas. Tem que focar naquilo que você precisa aprovar primeiro, que é o teto. Por isso que eu acho que não se deve tratar de Previdência agora. Ninguém está dizendo que é contra a reforma, nem que ela não é decisiva para o futuro do Brasil, só que não dá para você ter duas brigas ao mesmo tempo. Trazer a reforma da Previdência era besteira, uma decisão inócua, que só ia gerar conflito e desgaste na base. Nem o governo tinha a coisa amadurecida ainda; agora deve ter mais amadurecida. Então, ficou muita discussão sobre algo que a gente não sabia nem se o presidente Michel encaminharia ou não.

Qual o tamanho do desgaste que o governo vai sofrer?


É uma matéria polêmica, o governo tem que saber explicar. A crise que o Brasil vive ajuda a explicar, infelizmente, com casos concretos de atraso de pagamento de salário, de aposentadoria, isso tudo ajuda você a ter condições de mostrar, no dia a dia das pessoas, o que acontece quando não se tem responsabilidade sobre as contas públicas.

O projeto de reforma da Previdência vai ser enviado até o fim do mês?

Não sei, é o governo. Eu não perguntei. Como não acho que deva tratar de Previdência até a votação de segundo turno do teto, não vou tratar com ele do assunto. Se ele encaminhar antes é uma decisão dele, não é minha. Não está na minha agenda a reforma da Previdência até o fim deste mês.

E a reforma política? Desgasta?

A reforma política a gente vai instalar semana que vem, se conseguir. Não desgasta, ela ajuda, todo mundo está querendo ver qual sistema pode ser criado para gerar maior sinergia da sociedade com os eleitos, que hoje tem diminuído muito.

Continuando na reforma política: hoje são 28 líderes e os partidos pequenos já estão dizendo que não querem tratar disso agora.

Eles não querem tratar da PEC, nós queremos tratar da lei.

E a lei vai estabelecer o quê?

A lista fechada. Eu acho que nós temos que mudar o sistema eleitoral. Mudando o sistema eleitoral, todos os outros assuntos acabam sendo resolvidos.

Mas lista fechada também não estabelece uma ditadura dos partidos?

Não, ao contrário, fortalece a democracia dos partidos. Você só vai ter bons candidatos se tiver uma política interna mais aberta. Qual pessoa de qualidade vai para um partido que um cacique vai escolher a chapa? Ele vai para um partido que seja mais democrático e aí ele tem 35, 100, 200 opções. O problema não é o número de partidos, o problema é que pulverizou demais a relação de força no Congresso. Podem existir partidos, mas os partidos não necessariamente vão ter condições de ter representação no Congresso.

Mas essa “sinergia” com a sociedade precisa ser feita não só em relação a quantidade de partidos…

É muito mais grave o sistema eleitoral do que o número de partidos. Acredito nisso, por isso tenho defendido a mudança dele. O sistema eleitoral vai gerar um sistema em que as pessoas possam voltar a ter interesse em participar como candidato ou como eleitor.

O senhor está presidente da República. Como está se sentindo?

Tranquilo. Não vou tomar nenhuma decisão que não seja as que estão colocadas pelo presidente Michel.

Sim, mas há uma simbologia, não?

Claro que é uma honra para qualquer brasileiro presidir o Brasil por uma hora, quanto mais por uma semana, 10 dias. É claro que a gente vai dar sequência ao trabalho do presidente Michel, nada diferente disso, mas é óbvio que para a carreira, para a vida política de qualquer cidadão, presidir o Brasil por um dia ou uma hora já é um orgulho.

A saída do secretário José Mariano Beltrame deixa a crise do Rio ainda mais exposta?
O Beltrame não tinha mais força. O Beltrame, de mais de um ano para cá, tinha perdido as condições, apesar da qualidade do trabalho que ele fez até 2014. O fato é que de 2014 para cá a situação da segurança do Rio já tinha saído de controle, não aconteceu este ano. Como ele é uma pessoa com muito prestígio, foi segurando até os Jogos Olímpicos. Isso gerou confiança em todos porque ele é um cara muito competente. Agora, que desde o início de 2014, a segurança do Rio já tinha saído do controle, todo mundo que mora no Rio sabe, e quem visita o Rio também sabe. Agora cabe ao Rio tentar ver de que forma vai reestruturar um problema que é generalizado em todas as áreas. Falta dinheiro para tudo, é um deficit de mais de R$ 20 bilhões, tem salários atrasados, Previdência atrasada, um deficit de R$ 11 bilhões. É um momento muito difícil para o Rio. Temos que pensar juntos com o presidente Michel algumas ações que o governo federal possa também colaborar. O Rio vai ter que fazer uma reforma administrativa grande para encaixar o tamanho do estado na realidade da arrecadação. Não tem mistério, não dá para abrir todo ano com R$ 20 bilhões de deficit, sabendo que metade disso é Previdência, que não tem muita solução. E você não vai ficar taxando aposentado, não dá. Isso aí também é uma barbaridade. Tem que se construir uma solução de outra forma, ou seja, reorganizando o Estado.

O senhor tem algum plano futuro de candidatura majoritária para 2018?


Não. Tenho que ir bem aqui. Indo bem aqui, estou colocado mesmo para continuar sendo deputado, porque gosto muito de ser.

Indo bem aqui dá para ser reeleito como presidente da Câmara?


Não, como presidente não pode.

Mas está sendo cogitado…


Não sou eu que estou cogitando isso.

Por que teria que mudar o regimento?


Não vou entrar nesse debate.

Indo bem aqui dá para se pensar em um sonho maior…


Dá, sempre dá. Todo mundo tem ambição, cheguei à Presidência da Câmara porque tenho ambição. Sou de um partido com 28 deputados e construí com alguns parlamentares uma candidatura que todo mundo achava que não ia a lugar nenhum e foi porque nós acreditamos. Quem tem ambição, quem tem perseverança, chega. Chegamos, ninguém acreditava, a gente ficou insistindo, foram feitos todos os movimentos para a gente desistir. Movimentos indiretos, diretos, mas tenho que admitir que o governo nunca me pediu para retirar a candidatura, mas pedidos indiretos foram feitos. O bombardeio em cima do apoio do PT à minha candidatura foi um movimento indireto.

 

Fonte:  Correio Braziliense/Conceiçao Freitas

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