Talismã de Micale, Luan quis deixar futebol por causa do banco de reservas
Difícil, quase impossível, encontrar apenas um destaque na goleada do Brasil sobre a Dinamarca na última quarta-feira. Mas, se houve um fato novo nos Jogos Olímpicos, um diferencial em relação aos decepcionantes empates nos jogos anteriores, com certeza foi o gremista Luan.
Alex Sandro Rocha Pinheiro, professor de educação física em Rio Preto e incentivador da carreira de Luan, precisou persistir. "Aos 15 anos, eu levei ele ao Rio Preto Esporte Clube. Mas ele desanimou porque, durante um ano, ele nem era convocado, só treinava e não participava. Como era muito franzino, muito fraquinho fisicamente, ele preferiu voltar ao futsal", conta.
Luan e Alex se conheceram antes, quando o atacante tinha 9 anos e passou a jogar no projeto social Missão Resgate, no bairro carente Vila São Jorge. Dali em diante, foram altos e baixos. Se hoje mostra persistência para mudar a realidade da seleção a partir do banco de reservas, nessa época Luan precisava de alguns empurrões. A vida não era fácil, é verdade, então aquele impulso definitivo veio aos 18 anos.
Por R$ 50 por jogo, Luan quase perdeu a chance da vida
"Dos 16 aos 18 anos, o Luan só jogava futsal, porque ele era muito bom ali. Tem um drible curto e consegue se sobressair em espaços reduzidos", destaca Alex. Órfão de pai e filho de empregada doméstica, ele ajudava a família e se mantinha graças ao sucesso com a bola mais pesada. Para cada partida, ganhava R$ 50. Por isso, ao ser chamado para jogar a Copa São Paulo em 2013, ele hesitou.
"O América de Rio Preto tinha prometido uma ajuda de custo de R$ 500 e não dava nada, então ele falou que não ia jogar. Dois dias antes de fecharem as inscrições, ele disse 'não me dão nada, aqui em Jales (cidade paulista), com o futsal, eu ganho por jogo'", recorda Alex, que enfim convenceu Luan de que aquela poderia ser a oportunidade da vida dele. E foi mesmo.
Hoje atacante de seleção brasileira, ele foi inscrito pelo América no último dia para a Copa São Paulo. Rapidamente virou titular, anotou seis gols e conseguiu uma transferência para o Grêmio, que precisou vencer a concorrência do rival Inter.Preparado por seis meses nos juniores gremistas, foi promovido em 2014 e explodiu. Hoje, o clube pede R$ 100 milhões para vendê-lo à Europa.
O diferencial para a goleada do Brasil
Quem se beneficia de tudo isso é Rogério Micale e a seleção sub-23. Na mudança do 4-3-3 para o 4-2-3-1, Luan entrou como falso centroavante e mostrou suas armas contra a Dinamarca: sem posicionamento fixo, apareceu na ponta direita para dar um gol de presente para Gabriel Jesus. Depois, pelo centro da área, concluiu para fazer o primeiro dele na Olimpíada. Foi o principal responsável por aproximar meio-campo e ataque, setores distantes nos jogos anteriores do Brasil.
Micale ainda não confirma a escalação para enfrentar a Colômbia no sábado e indicou, inclusive, que talvez possa adotar uma estratégia diferente em São Paulo. Seja no início ou se voltar à reserva, Luan já aprendeu a lição: se esperar e se confiante, pode fazer a diferença.
Fonte: Uol Esporte
Nenhum comentário:
Postar um comentário