FÓRMULA 1

Pódio e manobra sobre Kimi podem render a Pérez uma vaga na Ferrari

Terceiro no GP da Europa, mexicano da Force India foi o "maior vencedor" da corrida faturada por Nico Rosberg, da Mercedes, e pode fazer parceria com Vettel em 2017

Boa parte dos fãs da F1 acredita que o grande vencedor do GP da Europa, na estreia do Azerbaijão no Mundial, neste domingo, foi Nico Rosberg. Não apenas por ter vencido a corrida no Circuito de Baku mas também por seu adversário na luta pelo título e companheiro de Mercedes, Lewis Hamilton, ter sido somente quinto e se desgastado com a direção da equipe, ao revelar sua falta de conhecimento dos recursos do carro.

Mas se existe um piloto que mais capitalizou com o resultado da oitava etapa do campeonato é Sergio Pérez. Pode-se dizer mais que Rosberg. Com o modelo VJM09-Mercedes da Force India, o mexicano conquistou o terceiro lugar com imensa autoridade. Os desdobramentos do resultado vão bem além do segundo pódio em três etapas seguidas – o outro foi em Mônaco, terceiro colocado também –, pois atingem seu futuro profissional.

Sergio Pérez comemora pódio no GP da Europa (Foto: Getty Images)

A última volta da corrida de Baku pode ter assistido a uma manobra sugestiva do que tem boas chances de acontecer na carreira do piloto da Force India, a curto prazo. Perez abriu a última volta na quarta colocação, 211 milésimos de segundo atrás de Kimi Raikkonen, da Ferrari, terceiro. Mas estava no vácuo do carro do finlandês.

Na freada da curva 1, com muita tranquilidade, sem se expor a maiores riscos, realizou a ultrapassagem no início da 51ª e última volta e assumiu o terceiro lugar, que lhe levaria ao pódio. Na realidade, Perez não precisava receber a bandeirada na frente de Raikkonen, bastava estar a menos de cinco segundos que herdaria o pódio. O piloto da Ferrari cruzou a linha que separa a entrada dos boxes da pista com as quatro rodas e a Ferrari foi comunicada que ele teria cinco segundos acrescentados ao seu tempo de prova.

Mexicano engoliu Raikkonen na última volta. Ultrapassagem pode valer vaga na Ferrari também (Foto: Getty Images)

“Eu sabia que o pódio estava assegurado, mas quando vi a oportunidade (de ultrapassar Raikkonen) e era seguro, fui para cima dele, porque, claro, é bem mais prazeroso terminar mesmo em terceiro (sem depender da punição ao finlandês)”, disse Perez.

Pode haver um simbolismo extraordinário para o seu futuro a cena de deixar Raikkonen para trás na pista. A razão é que hoje o piloto com maiores possibilidades de ocupar a provável vaga do campeão do mundo de 2007 na Ferrari, em 2017, é exatamente Perez. Se ainda havia alguma dúvida na mente dos dois líderes da escuderia italiana, Sergio Marchionne e Maurizio Arrivabene, presentes em Baku, possivelmente ela foi dirimida no fim de semana do evento no Azerbaijão.

Sebastian Vettel e Sergio Pérez podem ser companheiros de Ferrari em 2017 (Foto: AFP)

A evolução desse mexicano de 26 anos tem sido notável. Pense que até há dois anos, o maior candidato a correr pela Ferrari era o seu companheiro de Force India, o alemão Nico Hulkenberg, hoje em baixa no mercado, por perder e por larga margem a disputa com Perez. Depois de oito etapas, por exemplo, Perez é o oitavo no Mundial de Pilotos, com 39 pontos e dois pódios, quase o dobro de Hulkenberg, 12º com 20, cujo melhor resultado foi um sexto em Mônaco. O mexicano já deixou Massa para trás também, agora nono, com 38.

Sergio Pérez tem ofuscado regularmente o outrora badalado Nico Hulkenberg (Foto: AFP)

Resgatou a confiança perdida

Ainda mais importante que os números foi a forma como Perez encarou o erro do treino livre no sábado pela manhã, antes da classificação. Ele bateu na barreira de proteção na saída da curva 15, danificando o lado direito do carro, em especial o conjunto traseiro. Isso obrigou a equipe a se desdobrar para deixar o VJM09-Mercedes pronto para a definição do grid, duas horas mais tarde, apenas.

“Não é fácil você ir para a tomada de tempos depois de cometer um erro, sua confiança fica abalada, principalmente num circuito como este, tão difícil, em que tudo é tão próximo e qualquer hesitação você bate. Mas fui aos poucos (no Q1 e no Q2), resgatando-a e fiz uma das melhores voltas da minha vida no Q3”, falou o mexicano, no sábado, ao estabelecer o brilhante tempo de 1min43s515, segundo, atrás apenas do pole position, Rosberg, 1min42s758.

Sergio Pérez havia batido no 3º treino livre e perdeu cinco posições no grid por trocar o câmbio (Foto: Divulgação)

“Infelizmente, dentre os prejuízos que tive com a batida foi a de precisar substituir o câmbio, o que me fez cair para sétimo no grid”, comentou. O câmbio, se substituído no sábado ou domingo de manhã, gera para o piloto a perda de cinco posições no grid. Na F1, tão importante quanto não cometer erros é saber superá-los quando acontecem. E ninguém é infalível. Essa foi outra prova da maturidade de Perez.

Ao longo das 51 voltas da corrida, o desempenho de Perez lhe dá o título de melhor do fim de semana em Baku. Rosberg tem todos os méritos na vitória sem erros numa pista fácil de tocar os muros, mas seu MercedesW07 Hybrid era um segundo mais rápido que os demais. O que não era o caso do VJM09-Mercedes de Perez. Sua habilidade extrema o levou do sétimo lugar no grid para o pódio.

Desde a estreia na F1, pela Sauber, em 2011, sua maior característica é o ótimo ritmo de corrida associado a impressionante capacidade de economizar os pneus. E sua maior deficiência, as sessões de classificação, parece ter sido bem atenuada, conforme atesta o segundo tempo em Baku. Hulkenberg ficou com 12º tempo, nada menos de 1s309 mais lento que Perez.

Segundo lugar de Pérez no GP da Malásia de 2012 foi melhor resultado da Sauber na F1 (Foto: AFP)

Uma curiosidade: o mexicano tinha tudo para nem mais estar na F1 depois de ser dispensado pela McLaren, no fim de 2013, após terminar a temporada em 11º, com 49 pontos, diante de 73 do companheiro, Jenson Button, nono. “Achei que minha carreira na F1 havia terminado”, falou o mexicano, em 2014, ao assinar com a Force India, muito em função do investimento da Telmex, empresa de comunicação do seu país, sua patrocinadora.

Passagem frustrada pela McLaren em 2013 (Foto: Getty Images)

Historicamente é bem difícil um piloto competir por uma grande equipe, não ter o contrato renovado depois de somente um ano, passar a correr por uma do pelotão intermediário e depois voltar a ser cogitado, com força, para pilotar novamente para uma escuderia vencedora, e ninguém menos da Ferrari, como é o caso de Perez.

Marchionne e Arrivabene viram que Perez tem a competência, a juventude e agora a maturidade para formar com Sebastian Vettel uma dupla mais completa da que o alemão define com Raikkonen, próximo de celebrar 37 anos. Mas não há nada acertado, ainda. O que é certo é o favoritismo da candidatura de Perez para correr pela Ferrari em 2017.

O mexicano tem, agora, de aproveitar seu momento e ratificar tudo o que vem demonstrando nessa fase inicial do campeonato nas quatro próximas etapas do calendário, a serem disputadas em cinco fins de semana seguidos. Se isso acontecer e Raikkonen não corresponder, Perez deverá mesmo ser o companheiro de Vettel em 2017.

As quatro provas de julho são: dia 3, Spielberg, Áustria; dia 10, Silverstone, Inglaterra; 24, Hungaroring, Hungria, e 31 Hockenheim, Alemanha.

Sergio Pérez já foi da Academia de Pilotos da Ferrari e, inclusive, já testou carros pela equipe (Foto: Divulgação)

Fonte: GE