quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Operador de guindaste negou ter ocorrido falha humana, diz advogado

Advogado Carlos Kauffmann acompanhou depoimento de operário em SP.
Acidente foi há uma semana; dois morreram em obra do Corinthians.


Operador do guindaste envolvido no acidente negou ter ocorrido falha humana (Foto: Kleber Tomaz/G1)

O operador do guindaste José Walter Joaquim, de 56 anos, negou em depoimento ter cometido qualquer falha que pudesse ter causado o acidente que deixou dos mortos nas obras do estádio do Corinthians, segundo o advogado Carlos Kauffmann. "Ele não tem idéia de nada", disse o advogado.
Joaquim foi ouvido pela Polícia Civil na manhã quarta-feira (4). Ele foi ouvido na condição de testemunha do acidente ocorrido há uma semana. O guindaste operado por Joaquim e uma peça da cobertura da arena caíram em 27 de novembro. Dois operários morreram no acidente.
Joaquim chegou por volta das 10h ao 65º Distrito Policial, em Artur Alvim, acompanhado de advogado da empresa Locar, responsável pela máquina. Joaquim não quis falar com a reportagem do G1.
Segundo o advogado, Joaquim percebeu que havia algo errado no procedimento e teria alertado ao encarregado pela operação de içamento da peça. O advogado afirma que, em seu depoimento, o operador disse que foi orientado a sair da máquina.
O operador cuidava do guindaste que suporta carga de até 1,5 mil toneladas. Ele içava uma peça de 420 toneladas quando a estrutura e a máquina tombaram sobre parte do estádio, atingindo dois funcionários: o motorista Fábio Luiz Pereira, de 41 anos, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, de 43. Eles trabalhavam para empresas terceirizadas. A construção do estádio está sendo conduzida pela parceria entre a Odebrecht e o Corinthians.
MAPA desabamento Arena Corinthians (28/11) (Foto: Editoria de Arte/G1)
“Começamos a ouvir o operador para saber dele qual o seu currículo, a respeito do trabalho que faz com o guindaste, saber também como foi seu dia de trabalho no dia do acidente e, posteriormente, como ele operou a máquina”, disse o delegado Luiz Antonio da Cruz, titular do 65º Distrito Policial.
Segundo o delegado, ainda é cedo para apontar suspeitos. “Depende do conjunto probatório, que são os depoimentos e laudos periciais”, afirmou.
Policiais ouvidos pela reportagem disseram que vão indagar se o operador ou um engenheiro poderiam parar a obra caso notassem algo de irregular.
Pessoas ligadas a Joaquim afirmaram que o operador chegou a comentar que o solo estava instável. De acordo com essas pessoas, que não quiseram se identificar, existe a possibilidade de o operador afirmar em seu depoimento que o solo cedeu, fazendo com que o equipamento e a peça tombassem.
Caixa-Preta
A “caixa-preta” do guindaste foi retirada na segunda-feira (2) pelos fabricantes do veículo e entregue à perícia da Polícia Técnico-Científica para análise. A informação foi confirmada pelo delegado titular do 65º Distrito Policial.
“O HD [disco rígido] do guindaste foi retirado pelos alemães fabricantes do veículo [Liebherr] e entregue para a perícia do IC [Instituto de Criminalística]”, disse o delegado Luiz Antonio da Cruz. No equipamento constam informações das operações realizadas pelo guindaste.

Além da Polícia Civil, peritos do IC da Polícia Técnico-Científica apuram o caso para descobrir, entre três hipóteses prováveis, se o que o ocorreu foi causado por falha humana (do operador do guindaste), mecânica (devido algum problema da máquina) ou do terreno (pela inconformidade do solo, que teria tombado o aparelho).
A perícia irá analisar os dados do guindaste modelo LR 11350, chamados pelos policiais de “caixa-preta”, para saber o que ocorreu na tarde da última quarta-feira (27). Também será periciado o vídeo que gravou o momento da queda da máquina.
De acordo com investigadores ouvidos pela equipe de reportagem, peritos deverão fazer uma cópia do disco computadorizado do guindaste para entregá-la aos representantes alemães da fabricante da máquina. Um aparelho na Alemanha poderia decodificar os dados armazenados.

O guindaste foi fabricado pela Liebherr Brasil, empresa de origem alemã. Apesar disso, a máquina pertence à Locar Transportes Técnicos e Guindastes Ltda, que disponibilizou o aparelho e o operador. As duas empresas não foram localizadas pelo G1 nesta terça para comentarem o assunto.
As obras no estádio do Corinthians foram retomadas na segunda-feira depois de um luto de cinco dias que interrompeu os trabalhos. Funcionários fizeram uma homenagem aos companheiros mortos: eles rezaram antes de iniciar os trabalhos.
Apesar disso, 5% da construção que foi atingida pela estrutura e pelo guindaste continuam interditadas pela Defesa Civil. Peritos do IC trabalham em buscas de indícios do acidente no local. Além disso, na quinta-feira (28) técnicos do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) vetaram o uso das nove gruas e guindastes em uso pelos funcionários. Os procuradores querem que a construtora Odebrecht mostre que não há riscos para os trabalhadores de um novo acidente.
FONTE: G1

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