sábado, 9 de novembro de 2013

Operação Átrio

Expectativa com o shopping


Apesar da documentação apreendida em investigação e da falta do habite-se, a inauguração do empreendimento localizado em Taguatinga Norte segue prevista para ocorrer no próximo sábado. Lojistas estão preocupados com os investimentos.

O JK Shopping & Tower deve atender, principalmente, moradores de Taguatinga e de Ceilândia: investimento inicial de quase meio milhão de reais
Alvo de investigação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e da Polícia Civil do DF, as obras do JK Shopping & Tower, em Taguatinga Norte, estão mantidas. Ontem, um dia após a operação que constatou irregularidades na concessão do alvará do empreendimento, funcionários trabalhavam para finalizar e entregar o centro de compras dentro do prazo. A promessa é de que seja inaugurado daqui a uma semana. O lançamento, porém, depende das investigações, já que toda a documentação que estava na Administração Regional de Taguatinga acabou apreendida durante a Operação Átrio.

Erguido na QNM 34, na Avenida Hélio Prates, o JK Shopping & Tower atenderá, principalmente, moradores de Taguatinga e de Ceilândia. Serão 192 lojas. O investimento inicial, segundo o ex-vice-governador do DF Paulo Octávio, foi de R$ 450 milhões, sendo uma parte dos lojistas e outra do próprio empresário. O objetivo é que o centro de compras, o quinto do grupo PaulOOctavio, aqueça as vendas do fim do ano. Mas a inauguração, neste mês, ainda é uma dúvida. ...

Segundo a investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPDFT, da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), da Polícia Civil, houve irregularidades na concessão do alvará de construção do JK e de pelo menos cinco empreendimentos. As apurações indicam que, com uso de propinas ou de outros tipos de vantagens, empresários conseguiam a liberação em, no máximo, 15 dias, quando o prazo mínimo pode ser de 60 dias.

Os operários envolvidos na construção do shopping trabalhavam ontem para concluí-lo até o fim da semana

Receio

Entre os suspeitos de integrar o grupo investigado pela polícia e pelo MPDFT, está o ex-administrador de Taguatinga Carlos Jales, exonerado após a operação, além do empresário Paulo Octávio. Os documentos liberados pela administração foram apreendidos durante a ação de promotores e agentes civis. O Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da assessoria de Comunicação, informou que não é possível informar se a documentação está em dia, pois não teve acesso aos papéis. Mas detalhou que a Secretaria de Transparência vai solicitar à polícia o compartilhamento das provas para analisar como foi feito o trâmite.

Mesmo sem o habite-se do empreendimento, a assessoria do grupo PaulOOctavio garantiu que a inauguração para o próximo dia 16 está mantida, mas que os documentos não podem ser divulgados. Esclareceu também que o alvará de construção foi emitido em outubro de 2010, e o prédio se encontra em fase de acabamento. Na próxima segunda-feira, a empresa pretende entrar com o pedido do habite-se na Administração Regional de Taguatinga.

Justiça e polícia


A investigação que desencadeou a Operação Átrio teve início no Ministério Público do DF e Territórios. Em 2011, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) abriu inquérito para apurar as supostas irregularidades na concessão de alvarás, especialmente em empreendimentos em Taguatinga e em Águas Claras.

 

Cinco histórias suspeitas em administrações



Desde o início da gestão do governador Agnelo Queiroz no Palácio do Buriti, em 2011, somam cinco os administradores regionais exonerados por envolvimento em casos de suspeita de mau uso do dinheiro público. Apesar de a quantia ser relativamente baixo perante o número de regiões administrativas (31), os fatos espantam pela gravidade das acusações. É o que afirmam especialistas ouvidos pelo Correio. Na última quinta-feira, o ex-administrador de Águas Claras Carlos Sidney de Oliveira, e o de Taguatinga Carlos Jales tiveram suas prisões temporárias decretadas pela Justiça devido a suspeitas de irregularidade na concessão de alvarás de construção a empresas do ramo imobiliário. ...

O primeiro administrador regional a ser demitido do cargo na atual gestão foi Manoel Carneiro (foto), de Águas Claras, em setembro de 2012. Ele contratou, sem licitação, a gráfica de um amigo para a confecção de 250 mil gibis que teriam sido distribuídos entre alunos da rede pública da cidade. Pagou R$ 1 milhão com recursos públicos.

Depois, foi a vez de Donizete dos Santos, exonerado da administração do Itapoã ao contratar o cantor Amado Batista para fazer uma apresentação na cidade. O cachê cobrado, no entanto, foi quase três vezes superior ao praticado em apresentações do artista pelo país afora. Neviton Júnior também acabou destituído da administração de Santa Maria, em agosto passado, depois de indícios sobre superfaturamento e desvio de verba para a realização da 23ª edição do aniversário da cidade.

Para o cientista político Otaciano Nogueira, desfalques contra o patrimônio público são de natureza grave. “Faltas administrativas são toleráveis e a qualquer indício de irregularidade desse tipo o que deve ser feito é a demissão. Mas, se considerarmos que alguns administradores estão envolvidos em crimes previstos no Código Penal, nos deparamos com um cenário mais preocupante”, afirma. (AP)

Reclamações da comunidade


"Iniciaram uma obra sem avisar a comunidade escolar e a vizinhança. Queremos que pelo menos nos autorizem a transferir a entrada para o lado oposto ao shopping" Fabíola Elias do Nascimento, vice-diretora da Escola Classe 42

Erguido em frente à Escola Classe 42 de Taguatinga Norte, o shopping não é bem aceito por estudantes e professores. A construção causou transtornos, principalmente por causa do fluxo de caminhões na entrada do local. De acordo com a vice-diretora, Fabíola Elias do Nascimento, os 32 alunos com necessidades especiais encontram ainda mais dificuldades. “O trânsito de caminhões ficou muito intenso e tudo fica cheio de lama. Os pais, então, não conseguem deixar os filhos na porta. Alguns têm de ficar a 600m da escola”, reclama.

Fabíola acrescenta que, na semana passada, o centro de ensino ficou dois dias sem energia elétrica, afetando os 550 estudantes. “A luz foi cortada para que fosse adaptada à demanda do shopping. Só não perdemos o lanche porque estava congelado”, acrescenta.

Os representantes da Escola Classe 42 querem, agora, inverter a entrada do colégio. “Iniciaram uma obra sem avisar a comunidade escolar e a vizinhança. Queremos que pelo menos nos autorizem a transferir a entrada para o lado oposto ao shopping”, explica a vice-diretora. O pedido para as mudanças foi encaminhado à Administração Regional de Taguatinga, segundo Fabíola, mas ainda não há resposta.

“Muita lama”

Apesar de saber que a construção de um centro de compras vai valorizar o imóvel, a dona de casa Maria das Graças Teixeira, 39 anos, reclama por não ter sido consultada antes do início das obras. “Quando começou, há uns dois anos, achei que seria uma praça de convivência. Fiquei até feliz com a novidade, mas depois descobri o que era”, conta.

Moradora da região há 13 anos, Maria das Graças diz que muitos problemas foram enfrentados até agora por causa do shopping. “Sei que vai valorizar a minha casa, mas não compensou os problemas durante o período de obras. É esgoto a céu aberto, água escorrendo. Quando tem sol, é poeira e, quando chove, é muita lama”, queixa-se.
Fonte: BLOG DO SOMBRA

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