sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Arapongagem

Policial espionou corregedoras


Agente é suspeito de comandar grupo que agia para derrubar duas delegadas. Elas apuravam denúncia contra os acusados por crimes como extorsão e até homicídio. Bando usava órgãos públicos a fim de prejudicar as profissionais.

A delegada Renata Malafaia, hoje na 1ª DP, foi uma das vítimas do ex-agente Luiz Cláudio Nogueira
Um grupo de policiais civis é alvo da Corregedoria da Polícia Civil do Distrito Federal por usar a estrutura de órgãos públicos a fim de prejudicar duas delegadas. As ex-corregedoras Elaine Januário e Renata Malafaia, lotadas na assessoria especial da Direção-Geral e na 1ª DP (Asa Sul), respectivamente, aparecem como alvos de uma ação orquestrada por agentes investigados pelas profissionais por extorsão, furto, ameaça e homicídios.

Elaine deixou o cargo de corregedora em fevereiro, após o marido dela, Rogério Rodrigues dos Santos, ter sido preso como suspeito de fabricar produtos de limpeza sem autorização da Anvisa (leia Entenda o caso). Em um documento da Corregedoria ao qual o Correio teve acesso, o ex-agente da Delegacia de Repressão a Sequestros (DRS) Luiz Cláudio Nogueira — preso desde março por furto e extorsão —, aparece trocando mensagens telefônicas com um policial militar, com servidores da Secretaria de Fazenda e com uma funcionária do Departamento de Trânsito (Detran) para obter informações sigilosas sobre as delegadas. ...

Em um dos diálogos, Luiz Cláudio solicita dados a um policial militar sobre a relação de Elaine com a empresa de higienização Sanitech Comércio e Tecnologia, do marido dela. “Já consultei no Infoseg e apareceu ela como sócia…”, comentou a fonte. “Preciso do contrato social... Tenta tbm (também)”, diz ele, em dois dos trechos. Mais adiante, Luiz Cláudio também troca mensagens sobre a ex-corregedora com o agente de polícia aposentado Marcelo Toledo Watson e Paulo César Barongeno, presos durante a Operação Miquéias, deflagrada pela Polícia Federal no mês passado. “A tua amiga caiu, né. Ta feliz (sic)”, teria dito Barongeno. Luiz responde: “Ohhhh..Nem me fale…Mas ainda tem mais batalha”. Em 2009, Luiz Cláudio foi cedido pela PCDF para trabalhar no gabinete do senador Gim Argello (PTB).

O documento revela ainda que Luiz Cláudio entrou em contato com a servidora do Detran Francicler Silva Brito, empossada em fevereiro no cargo de técnico administrativo (veja diálogos). No texto, ele diz querer ainda descobrir supostas irregularidades no concurso prestado por Malafaia. Em 30 de janeiro, via SMS, o policial civil pediu informações a um agente da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central) sobre uma viagem feita pela delegada Renata Malafaia ao exterior, onde mora uma testemunha que teve uma arma apontada para a cabeça para assumir uma dívida que o companheiro teria com Luiz Cláudio. Após saber da colaboração da vítima com o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o acusado teria passado a ameaçar a família dela de morte.

Denúncias
 
Documento da Corregedoria da Polícia Civil transcreve conversas em que o agente Luiz Cláudio Nogueira pede favores a uma servidora do Departamento de Trânsito (Detran) em troca de suposto pagamento em dinheiro
Por meio de nota, a Divisão de Comunicação da Polícia Civil informou que o inquérito aberto contra o marido da delegada Elaine havia sido concluído com indiciamento e enviado à Justiça. A corporação não quis se manifestar sobre as investigações contra Luiz Cláudio, mas destacou que ele foi indiciado por violação do sigilo funcional e denunciado ao Judiciário. Em relação ao concurso prestado por Malafaia, a divisão disse que não há denúncia de irregularidade.

O advogado de Elaine e do marido dela, Melillo Dinis do Nascimento, disse não ter dúvida da inocência da cliente frente às denúncias da época. “Fizeram tentativas de atribuir a ela uma conduta ilícita decorrente do trabalho dela no combate ao crime organizado e institucional do que eu chamo de banda podre da Polícia Civil”, destacou. O defensor de Luiz Cláudio, Jean Cléber Garcia, disse que o cliente “não usou a máquina pública indevidamente e que interagir com outros órgãos do governo é uma atividade comum de investigação”. Segundo Garcia, a consulta não teve a intenção de prejudicar terceiros.

Em relação ao repasse de dados da delegada Renata ao policial investigado, o Detran informou “que não há, no âmbito do departamento, nenhuma denúncia oficial que aponte irregularidades na conduta da referida servidora e que, portanto, não há nenhum procedimento investigativo sobre ela na Corregedoria da autarquia”.

Esquema milionário

As operações Elementar e Miquéias foram deflagradas pela PF em 19 de setembro e desvendou um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro da história do DF. Os trabalhos foram feitos em conjunto com o Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC), do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), e demonstraram que, em 18 meses, a quadrilha movimentou R$ 300 milhões. Do total, pelo menos R$ 50 milhões teriam sido aplicados em fundos de investimentos de prefeituras.

Entenda o caso
Suspeita e exoneração


Em fevereiro deste ano, o marido da então corregedora de Polícia Civil do DF, Elaine Aparecida Rodrigues Januário, acabou detido em uma ação da Delegacia de Combate aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DCPIM), em apoio à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Vigilância Sanitária do DF. Rogério Rodrigues dos Santos acabou autuado pela fabricação de produtos de limpeza sem autorização do órgão de fiscalização. Ele pagou fiança e foi liberado no mesmo dia.

A empresa investigada, a Sanitech Comércio e Tecnologia, é administrada pela família de Elaine. Três meses antes de assumir o cargo de corregedora, ela teria sido sócia da empresa de higienização contratada em 2009 pela Polícia Civil do DF emergencialmente, com dispensa de licitação, para fornecer 3 mil litros de álcool em gel ao custo de R$ 21.519,90. O nome dela, entretanto, teria sido ventilado na imprensa pelos policiais civis investigados de propósito a fim de manchar a reputação dela.

Menos de uma semana após a prisão do marido de Elaine, ela foi exonerada do cargo de corregedora. À época, o diretor da Polícia Civil, Jorge Xavier, disse que a delegada era “uma excelente profissional”. No lugar dela, assumiu Márcio Araújo Salgado, então coordenador regional de polícia da área leste.
Fonte: BLOG DO SOMBRA

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