terça-feira, 22 de outubro de 2013

Quando a luz acaba, os transtornos começam



O drama é sempre o mesmo. Basta chover que boa parte da população do Distrito Federal sofre com as recorrentes quedas de energia. Os transtornos vão desde a perda de eletrodomésticos até o acúmulo de prejuízos aos comerciantes, que perdem produtos e clientes com a falta de luz. Ontem mesmo, faltou energia no Sudoeste, SIG, Samambaia e Ceilândia, além do metrô, durante a tarde.

Em 2012, Brasília foi a cidade que mais concentrou queixas em todo o Centro-Oeste: 24% delas,  de acordo com a Agência de Energia Elétrica (Aneel). Foram mais de 1,2 mil ocorrências. Em seis anos, foram quase 13 mil, uma média de 2,1 mil anualmente. Só em ressarcimentos de aparelhos e utensílios por conta d e apagões, a empresa pagou R$ 215 mil a consumidores. 

Além disso,  apenas em compensações financeirasnas contas dos usuários, foram gastos mais R$ 21 milhões de 2012 até agosto deste ano, de acordo com o próprio diretor de engenharia da autarquia, Mauro Martinelli.

 Apesar dos números nada animadores, a CEB afirma que R$ 166 milhões foram investidos até setembro deste ano. Em 2014, a previsão é injetar mais R$ 170 milhões em todo o sistema técnico. “No nosso entender, estamos fazendo uma verdadeira revolução na engenharia elétrica do DF”, ressalta Martinelli.

As melhorias, contudo, parecem ainda não fazer parte do cotidiano dos moradores da capital federal. “O frigobar onde eu guardo vacinas  queimou. Foram R$ 1 mil jogados fora. Além disso, só não perdi as vacinas, que somam mais de R$ 10 mil, porque tenho geladeira na veterinária e transferi todas elas”, conta Christina Goulart, 42 anos.

A médica veterinária conta que a CEB não a ressarciu. “Não houve  desconto na conta nem dinheiro devolvido. Eles querem que eu prove quando o frigobar estragou. Oras, como é isso? A estufa a gente já nem liga mais para não correr o mesmo risco. Senão, teria sido mais um prejuízo na última chuva”, critica a moradora do Lago Norte. 

De acordo com a Resolução  414/ 2010 da Aneel, os consumidores conectados em baixa tensão, que tenham   aparelhos danificados por interrupção do fornecimento de energia, devem procurar a distribuidora em até 90 dias para pedir o ressarcimento. Após análise, a CEB tem  45 dias corridos para ressarcir o consumidor, caso se verifique relação entre o dano   e a perturbação ocorrida no sistema. Dentro desse prazo, a concessionária tem até dez dias para vistoriar o equipamento e mais 20 dias para fazer o pagamento em dinheiro, conserto ou substituição do equipamento, se for o caso. Para eletrodomésticos usados na conservação de alimentos perecíveis, como geladeiras, a análise deve ocorrer em   um dia útil.
“Já ficamos das  10h às 14h sem luz. Ou seja,  perdemos 80% do movimento, o que significa em torno de R$ 2 mil”, conta João Manuel,   dono de um restaurante no Lago Norte.  A mulher dele,   Yannah Razlan,   diz  que a resposta é sempre a mesma: “Eles falam que a equipe está no local tentando achar soluções”.  
Falhas na distribuição de energia podem ocorrer também por conta das chamadas gambiarras. Foram removidas  20 mil ligações clandestinas de energia elétrica em todo o DF apenas nos primeiros cinco meses deste ano.
Somadas todas as perdas, que incluem os gatos e outras ações da população para burlar a medição de consumo, a companhia perde R$ 120 milhões, o correspondente a 5% do faturamento anual.
 
As localidades que mais apresentam essas irregularidades são Taguatinga, Ceilândia, Sobradinho e Planaltina, principalmente em regiões não regularizadas. As informações são da Agência Brasília.
Para o diretor-técnico da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Samuel Vasconcelos, os comerciantes do DF são muito prejudicados pelas quedas de energia comuns do período de chuvas. “No primeiro momento, a principal reclamação é de perda de estoque. No segundo momento, você perde clientes mesmo. Ninguém entra numa loja toda escura, os cartões de crédito não passam, enfim. É um caos total”, avalia. As principais queixas, informa, são de cidades fora do Plano Piloto, “onde é mais recorrente a falta de luz”, destaca. 
Na contramão das afirmações, o diretor de engenharia da CEB, Mauro Martinelli, destaca que a autarquia, cujo atendimento chega a mil por dia durante as chuvas, investiu boa parte de sua verba em novas subestações que melhorariam a distribuição de eletricidade. Nove delas “são responsáveis pela redução dos apagões”. 
Uma nova subestação na Epia Sul deve entrar em funcionamento este mês. Com custo de cerca de R$ 10 milhões, também vai fornecer luz ao aeroporto, em fase de expansão. “Outra no Estádio Nacional, concluída agora, com investimento de R$ 19 milhões, deve fortalecer todo o sistema da área central de Brasília”, ressalta o diretor. 
perigos
 
Porém, Junior Moreira, gerente de um supermercado na Asa Norte, contesta os investimentos, alegando que bastam 40 minutos de chuva forte para que a energia caia. Quando o estabelecimento fica sem luz, “o jeito é trazer um estabilizador móvel para o local”, diz. 
 
O vigia das Quadras 4 e 6 do Lago Norte, Miguel Pereira Filho, 46 anos, assegura que as quedas de energia colocam em risco também a segurança dos moradores. Isso porque muitos portões elétricos se abrem quando ela volta. “Isso acontece muito e é bem perigoso porque temos muitos idosos morando aqui”, relata Miguel. 
 
“Na região, o problema é ainda maior porque algumas casas possuem home care, que depende exclusivamente de eletricidade para funcionar. Tem pessoas aqui com a UTI inteira dentro da residência. Elas dependem disso”, destaca o vigia. 
A tarifa de energia fica mais cara. O governo anuncia investimentos que prometem diminuir as quedas de energia. Mas, na realidade, basta cair uma chuvinha que tudo se apaga. Apesar de pagar os impostos e de ser a vítima devido à falha na prestação do serviço público, é o cidadão quem precisa correr atrás do prejuízo.
Para o diretor de engenharia da CEB, nos próximos anos, a tendência é que as quedas de energia sejam, inclusive, no metrô. Hoje, o sistema opera acima da capacidade elétrica, por isso, falhas e panes são recorrentes. “As novas linhas de ligação que estamos fazendo vão evitar apagões como aquele que aconteceu no ano passado, em que 65% de Brasília ficou completamente sem luz”, garante Martinelli. De acordo com ele, em apenas quatro anos, foram instalados mais 21 transformadores de 32 MVA. Até 2010, eram 23. “Isso significa muito mais energia para ser distribuída à população”, afirma.
Maura Carvalho, 36 anos, moradora do Lago Norte, diz que já perdeu uma TV por conta dos apagões. “Hoje, só não acontece mais porque os eletrodomésticos estão mais resistentes às quedas de energia. Mas aqui é toda semana se chover. Tomara que as coisas melhorem, porque é sempre um incômodo isso”, desabafa. Ela lembra que, apesar de tudo, a tarifa de luz aumentou recentemente.

FONTE: CICLA BRASÍLIA

Nenhum comentário:

Postar um comentário