Protestos na Estrada
Ato fecha Fernão, deixa 1 baleado, 90 detidos e faz SP pedir cooperação federal
Ônibus e caminhões foram incendiados durante o bloqueio da rodovia, que durou mais de 5 horas; multidão também saqueou lojas e deixou rastro de destruição nas ruas do Jaçanã. Manifestação, a segunda desde domingo, começou após enterro de rapaz morto por PM.
Violentos protestos contra a morte do adolescente Douglas Martins Rodrigues, de 17 anos, por um policial militar, no domingo, fecharam ontem a Rodovia Fernão Dias e provocaram uma onda de destruição no bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo. Ônibus e caminhões foram incendiados e lojas, saqueadas. Um homem foi baleado. O tumulto na estrada federal fez com que o secretário estadual da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, ligasse para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para estabelecer uma “ação conjunta”. Noventa pessoas foram detidas. ...
A manifestação começou por volta das 18 horas, depois do enterro de Douglas. Os dois sentidos da rodovia foram fechados e ao menos seis ônibus intermunicipais e três caminhões foram incendiados. Homens armados obrigaram passageiros e motoristas a descer dos veículos. Segundo a polícia, durante um saque a uma loja na Avenida Milton da Rocha, na Vila Medeiros, criminosos acertaram um pedestre no abdômen. Ele foi inernado no Hospital São Luis Gonzaga, onde passou por cirurgia na noite de ontem.
Manifestantes assumiram um caminhão-tanque e dirigiram na contramão. Eles também apedrejaram bombeiros, que precisaram de escolta quando tentavam apagar o incêndio em um ônibus. Motoristas de veículos que estavam na estrada foram roubados e outros atacados já na Marginal do Tietê. Houve confronto, e a polícia usou bombas e balas de borracha para conter a multidão.
“Eu seguia pela Fernão quando, de repente, vi um ônibus pegando fogo no meio da pista. Um molequinho estava armado na frente dele e apontou a arma para mim, me mandando parar”, relatou o motorista José Floriano, de 50 anos. “Outras pessoas apareceram e começaram a jogar pedra nos caminhões. Eu só tive tempo de brecar, descer da carreta e correr.”
Nas ruas do Jaçanã e na Fernão Dias, manifestantes fizeram barricadas de fogo. Segundo a concessionária Autopista, às 20h50, a lentidão na rodovia ia do km 82 ao km 90. Porvolta das 23h, a pista sentido capital havia sido liberada e, na outra direção, os motoristas seguiam pelo acostamento.
A PM informou, às 22h, que 90 pessoas detidas durante o protesto haviam sido encaminhadas para o 73º DP (Jaçanã). Duas horas depois, porém, nenhum preso havia chegado ao distrito. No fim da noite, policiais militares da Rota foram mandados para o bairro.
“Ação conjunta”. Segundo informações da Agência Brasil, o secretário da Segurança, Fernando Grella Vieira, solicitou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Força
Nacional de Segurança atuasse no local. Grella, ainda segundo a agência, teria pedido que uma operação de inteligência fosse montada pelo Ministério. As pastas confirmaram a conversa por telefone, mas, segundo Cardozo, ambos combinaram uma “ação conjunta”, na tentativa de impedir novo tumulto. “Conversamos sobre a melhor articulação entre ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Secretaria da Segurança Pública”, disse o ministro, sem dar mais detalhes. Nos bastidores, tucanos afirmaram que a PRF demorou para aparecer.
A atribuição de resolver conflitos em estradas federais, como no caso da Fernão Dias, é da Polícia Rodoviária Federal, mas não se trata de uma atribuição exclusiva, segundo o especialista em segurança pública Guaracy Mingardi. “Havendo crime, qualquer policial tem a obrigação de intervir”, explica. “Um não pode ficar esperando que o outro faça.” A jurisdição policial em estradas federais, segundo ele, ainda é “nebulosa”. Mas, a princípio, não há nada que impeça a PM de atuar nessas estradas quando há um crime.
Domingo. Cerca de 300 pessoas protestaram contra a morte de Douglas no domingo, nas ruas do Jaçanã. Dois lotações, um ônibus e um carro foram incendiados e lojas, saqueadas. A Polícia Militar interveio com bombas de gás e balas de borracha para dispersar a multidão.
O PM acusado de matar o adolescente, Luciano Pinheiro Bispo, foi preso. Ele alega que o disparo foi acidental. / ARTUR RODRIGUES, BRUNO RIBEIRO, FABIO LEITE, MONICA REOLOM, HERTON ESCOBAR e VERA ROSA
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