terça-feira, 15 de outubro de 2013

Política

"PT virou mais um Partido da Boquinha", diz Toninho Andrade



      

No controle do Governo do Distrito Federal, o PT tornou-se mesmo um “partido de boquinha”, como outros, por participar da administração  querendo apenas cargos e vantagens pessoais. Quem afirma é o presidente regional do PSOL, Toninho Andrade, que deve ser candidato a governador pelo seu partido. “Ele estão organizados para ocupar espaço na institucionalidade, cargos políticos nas secretarias, empresas e isso é muito ruim para o processo democrático”, afirma. Os partidos da base do governo nivelam-se, por exemplo, ao PRTB, ao PMN, ao PRB, pois são “várias denominações sen que se conheçam as liderança desses partidos”, acusou. Por outro lado, ele também revela que o PSOL tem como objetivo reunir partidos à esquerda, como o PCB e o PSTU e, quem sabe, até o PDT, já que a candidatura de Reguffe não parece “para valer”.
 
Existe risco de a esquerda brasiliense ficar novamente dividida nas eleições de 2014?
 
Sim. Existe tanto o risco de uma fragmentação das candidaturas da esquerda quanto de, com isso, favorecer-se a candidatura do Agnelo e, quem sabe, do bloco, digamos, conservador aqui do DF, tanto liderado por Joaquim Roriz, Arruda ou por ambos em aliança. Acho também que a esquerda corre risco de, fragmentada e dividida, não conseguir fazer frente ao governador Agnelo. Mas existe uma coisa importante. Para a democracia e o aperfeiçoamento do processo político, aqui no DF e em todo o País, o ideal seria que todos os partidos lançassem candidatos. Já que a eleição é em dois turnos, há essa possibilidade, seria muito importante que todo mundo mostrasse sua cara. Que cada um pudesse apresentar seu programa. Hoje, nesse universo de 32 partidos registrados há muito mercado, muita negociata. Isso é muito ruim. Existe esse risco de volta ao passado, mas por outro lado tem uma coisa interessante. Eu gostaria muito de conhecer o que pensam Reguffe, Rollemberg e Agnelo, porque na eleição passada foi algo meio plebiscitário. Na verdade, a gente não viu muito conteúdo no que o Agnelo defendia. 
 
Como avalia a filiação de Marina Silva ao PSB?
 
Para nós, do PSOL, foi surpreendente a movimentação de Marina em direção ao PSB. Nossa expectativa era que ela mantivesse sua posição anterior. Não tendo partido, ela não concorreria em 2014 e, obviamente, seria uma liderança política muito respeitada por manter coerência com o que ela pregou. Do nosso ponto de vista, essa movimentação foi uma operação que frustrou muito daqueles e daquelas que apoiaram e tendiam a apoiar sua candidatura em 2014. A Marina está devendo algumas explicações ao seu eleitorado.
 
Com a frustração do registro da Rede, houve  aproximação com o PSOL?
 
Em 2012, Marina esteve no Amazonas e no Amapá, apoiando candidaturas nossas lá e isso criou um clima de cooperação e entendimento. Após a decisão de constituir a Rede, houve um certo afastamento. Havia clima para possível filiação de Marina e seu grupo político ao PSOL, porque consideramos que ela tem muito mais semelhança programática com o que defendemos, por exemplo na área ambiental, do que os principais líderes do PSB. São as incongruências do processo político brasileiro.
 
Que juízo faz do lançamento da candidatura do deputado federal Reguffe, do PDT?
 
De um modo geral, é bom que o povo do DF conheça o que as lideranças pensam e defendem para nossa capital. O Reguffe é reconhecidamente um deputado honesto, ético, e tem uma bandeira que ele levanta no parlamento. Mas isso é muito pouco para o DF. Nós esperávamos mais do deputado Reguffe em relação a questões fundamentais da cidade, uma posição clara sobre o governo Agnelo. Essa ideia de que “o que é bom a gente apoia, o que é ruim a gente repudia” é muito pouco para uma liderança com a responsabilidade que tem o deputado Reguffe. Então, eu espero que no processo de debate, nós conheçamos mais do pensamento, da ideologia, do que pensa o deputado Reguffe, porque num debate para uma candidatura majoritária eleterá que falar da realidade do Sol Nascente, do Pacheco, que é próximo do Vale do Amanhecer, vai ter que sair do Plano Piloto, do Lago Sul, Lago Norte para ter esse convívio com nosso povo. E o povo cobra muito. Não basta ter só essa bandeira da luta pela ética. Essa é fundamental, mas a gente tem que ter mais. Inclusive, como um candidato do PDT virá a público com pessoas tão díspares fazendo parte dessa base do PDT. Foram para o partido o Joe Valle, parlamentar da base, e a Celina Leão, que até pouco tempo, é importante registrar,  era o principal quadro político do que restou do rorizismo e do que restou da herança política de Luiz Estevão. 
 
O senador Rodrigo Rollemberg tem muito o que explicar?


O senador Rodrigo e seu partido tomaram uma posição importante no quadro político local. Foi uma atitude corajosa ter rompido com o governo Agnelo, ter saído dos cargos que ocupava na estrutura do governo Agnelo. Mas faço, obviamente, um juízo crítico a respeito da campanha de Rodrigo, porque ele não esconde de ninguém que quer ampliar aliança em torno da sua candidatura, podendo até chegar a essa franja rorizista. Ele teve encontro com Liliane Roriz, para debater a sua candidatura. É amplo demais para o meu ponto de vista. É uma candidatura importante, não tenho dúvida, mas quando amplia tanto, perde conteúdo, perde vigor e o componente ideológico de uma candidatura verdadeiramente de esquerda. 
 
Na sua opinião, Agnelo ampliou demais o leque de alianças, assim como Rollemberg está fazendo?


Não tenho dúvida. Hoje você tem na base legendas claramente definidas, em seu estatuto, como partidos de direita nesse espectro ideológico. São “partidos da boquinha”, vou falar com muita franqueza. Partidos que estão organizados para ocupar espaço na institucionalidade, cargos políticos nas secretarias, empresas e repito, isso é muito ruim para o processo democrático, porque eu gostaria de conhecer o que pensa por exemplo o PRTB, o PMN, o PRB.  Isso é muito ruim para o processo democrático no DF.  Literalmente, as pessoas compram gato por lebre.
 
A expressão que o senhor usou foi lançada pelo deputado federal Anthony Garotinho, em crítica ao PT. O senhor acha que o PT no DF é um partido “da boquinha”?
 
O PT se descaracterizou completamente. Eu diria que em uma parte expressiva de seus dirigentes atuais — embora não de sua militância de base — hoje não tem diferença dessa prática nefasta da boquinha, tanto no âmbito federal, quanto no governo local. A gente assiste às verdadeiras negociatas por cargos em estruturas da administração do GDF. É a disputa dos cargos, de espaços na institucionalidade ou para fins eleitorais, de quem quer ser candidato ou para fins pessoais. Todo mundo sabe o duro que é ganhar o salário no fim do mês, mas o indicado pelo partido ocupa às vezes um cargo comissionado de acima de R$ 10 mil. As pessoas se matam por isso. Não há mais ideologia. Então, eu registro, com tristeza, que o PT descaracterizou-se complemente e se transformou um partido igual aos outros.
 
A coligação muito grande do Agnelo, com 17 partidos, descaracterizaria a oposição e provocaria a troca de favores?
 
Acho esse tipo de aliança desastrosa para o processo político, para a democracia, aqui no DF e em todo o País. Esse fenômeno ocorreu também com a presidente Dilma. Ela tem no seu arco de alianças partidos da direita à esquerda. Espero que o debate sobre uma verdadeira reforma política ocorra. Pode demorar um pouco, mas eu vi com muito entusiasmo que nas manifestações de junho, principalmente entre os jovens, houve um forte questionamento a esse modelo político. 
 
Os eleitores “do primeiro voto”, importantes para sua candidatura em 2010 cresceram desde então?
 
Eu tenho muita expectativa de que haverá, não gosto do termo, mas haverá o voto de protesto, principalmente desse segmento da juventude. As pessoas não estão contra os partidos políticos genericamente, há uma distinção. Infelinão deu certo a reforma política. O fundamental era a eleição permitindo o financiamento público de campanha, revogabilidade de mandato, o recall, a distribuição igual do tempo para todos os partidos políticos. Tive 42 segundos de tempo de televisão na eleição de 2010. O Agnelo, com essa aliança, essa penca de partidos, teve 8 minutos de tempo. Eu gastei na minha campanha R$ 58 mil. O Agnelo gastou R$ 10,7 milhões, pelo menos do que foi registrado no TRE. 
 
Durante as manifestações, tentou-se ligar os atos de vandalismo ao PSOL, PSTU e partidos mais à esquerda. Depois, se identificou que muitos desses vândalos trabalhavam no Palácio do Planalto. O que o senhor tem a dizer sobre isso?


Outro dia, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, tem afirmado que as mobilizações do Rio e, obviamente, ele fala também do quebra-quebra, são obra do PSOL. Ele diz textualmente que as principais lideranças do movimento são do PSOL. Eu digo que há um equívoco nisso. É da tradição do PSOL, das organizações dentro do PT que deram origem ao partido de nos manifestarmos de cara limpa. As pessoas conhecem nosso rosto, nosso discurso e nossa prática. Em determinados momentos pode ser radical, sim, mas não tem um militante do PSOL que esconda o rosto para fazer qualquer manifestação. Nós apoiamos decididamente os movimentos sociais organizados. E ao mesmo tempo, com a mesma clareza e firmeza, não apoiamos nenhum ato de pessoas que se escondem para promover quebra-quebra, incêndios, ocupação de prédios.
 
Acredita que exista por trás desse movimento uma corrente anarquista politicamente estruturada?


Eu estou muito curioso para conhecer esses líderes que foram agora no Rio de Janeiro e lideraram o quebra-quebra para saber quem são eles. E há coisas estranhas. Não estou levantando teoria da conspiratividade, mas há coisas estranhas. Por que a polícia sempre chega atrasada quando sabe que a ação vai se desenvolver daquela forma? Vimos um cidadão no telhado da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, jogando coisas nos manifestantes. Depois descobriu-se que era um policial militar. Vimos um policial militar tentando incriminar um manifestante em outro episódio. É estranho. Não vou afirmar, mas parece que há infiltração de pessoas especialistas em contra-insurgência, contra-movimentos. São jovens muito fortes, altos. Eu espero que haja uma investigação mais aprofundada a respeito disso. 
 
O atual governo tem uma Secretaria da Transparência. O senhor acha que  funciona?
 
 
Não funciona. Sou taxativo. Não é um instrumento de acesso pleno a nossa população, às organizações sociais. Eu diria que funciona muito mais como um lance de propaganda do que efetivamente um espaço de exercício da transparência. Se eu for agora na secretaria e pedir a execução financeira do GDF de janeiro até a presente data, é muito provável que eu não tenha esses dados em mãos, discriminados em áreas, em secretarias.  Os feudos estão demarcados no GDF, áreas que estão destinadas ao PT, ao PMDB, com o Benedito Domingos, com o fulano, o sicrano. Você não tem acesso a isso. É muita propaganda e pouca efetividade.


Fonte: Da redação do clicabrasilia.com.br

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